Por ONU News | O Conselho de Segurança realizou, em 13 de Julho, uma sessão sobre mudança climática, paz e segurança.
Cerca de 70 oradores, incluindo o ex-presidente e Prêmio Nobel da Paz, Juan Manuel Santos, discursaram sobre conexões entre a mudança climática e segurança em todo o mundo.
O subsecretário-geral da ONU para Operações de Paz, Jean-Pierre Lacroix, alertou aos 15 países do Conselho que cerca de 3,5 bilhões de pessoas vivem em locais que sofrem com as alterações climáticas.
Lacroix destacou que dos 16 países mais vulneráveis à mudança climática, nove possuem missões da ONU: Afeganistão, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Haiti, Mali, Somália, Sudão, Sudão do Sul e Iêmen.
Ele acredita que os riscos relacionados à paz e à segurança só devem aumentar e, por isso, será preciso tomar medidas para evitar efeitos cada vez piores.
O subsecretário-geral contou que a maioria das operações de paz da ONU é implementada em contextos altamente expostos ao clima e caracterizados por altos níveis de desigualdade de gênero.
Representando Moçambique, que ocupa um assento rotativo no Conselho de Segurança, a ministra da Administração Estatal e Função Pública, Ana Comoana, defendeu a ação multilateral para combater as mudanças climáticas e a correlação com o aumento de conflitos. Para ela, nenhum país será capaz de atuar sozinho para mitigar o problema.
Ela acrescentou que as crescentes catástrofes climáticas impõem aos governos a necessidade de criar formas sistemáticas de lidar e responder também as consequências, como aumento da fome e deslocamento populacional.
A ministra Ana Comoana explica que a falta de recursos aumenta as chances de novos conflitos.
Ela cita os ciclones que afetaram o país e deslocaram 500 mil pessoas no país. O recente ciclone Freddy afetou 1,3 milhão de pessoas.
Nos últimos anos, a maioria das operações de paz sofreu com a piora da segurança e deterioração do ambiente político.
Ao citar Mali e Sudão do Sul, Jean Pierre-Lacroix disse que o pessoal no terreno tem presenciado as vulnerabilidades da mudança climática e da insegurança.
O chefe de operações de paz acredita que os desafios transfronteiriços, degradação ambiental e eventos climáticos extremos desafiam, cada vez mais, a capacidade de implementar os mandatos das missões.
Ele citou os resultados do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, Ipcc, que também mostrou que crescente correlação entre riscos climáticos e perda de biodiversidade com conflitos.
Lacroix explicou que as missões de paz da ONU estão buscando formas de reduzir sua pegada de carbono e enfrentar outros impactos gerados, adotando energia limpa e acelerando parcerias que permitam uma abordagem mais sustentável.
Nos últimos dois anos, 6% da eletricidade usada pelas operações de paz da ONU foi gerada por fontes de energia renováveis.
Segundo ele, as missões devem priorizar o investimento de capacidades para antecipar e responder às questões do clima e de segurança, reforçando os benefícios mútuos da ação climática e do trabalho de paz e segurança e garantindo que as missões não se tornem “parte do problema”.
Com as crescentes ligações entre mudança climática, paz e segurança, bem como as mudanças mais amplas na dinâmica do conflito nas áreas em trabalham, a meta é continuar a buscar alternativas.
Lacroix disse que a Reunião Ministerial de Manutenção de Paz da ONU em 2023, marcada para dezembro, em Gana, fornecerá novas oportunidades para incrementar esses esforços, com ações que devem avaliar o uso de capacidades especializadas e o fortalecimento de parcerias em áreas importantes como o meio ambiente.
O chefe de operações de paz acredita que com um esforço conjunto, pode ser possível construir um futuro em que as ações na prevenção de conflitos, pacificação, consolidação e manutenção da paz sejam reforçadas e complementadas pelo compromisso de enfrentar a crise climática.
O ex-presidente da Colômbia e Prêmio Nobel da Paz, Juan Manuel Santos, destacou “não pode haver paz sem desenvolvimento sustentável e não haverá desenvolvimento sustentável sem paz”.
Ele fez um apelo para que a comunidade internacional ajude as pessoas mais vulneráveis com o financiamento climático. Além disso, Santos disse que os esforços de mitigação e adaptação devem ser seguidos de soluções baseadas na preservação da natureza.
Ao pedir por unidade e diálogo, ele destacou que o mundo assiste a um momento de divisão. O Nobel destacou que as diferenças devem ser superadas para enfrentar a “hecatombe” climática.
Os Estados Unidos foram representados por John Kerry, enviado presidencial especial para o clima.
Ele afirmou que atualmente, a crise climática deve ser vista como uma das principais questões de segurança globalmente, já que suas consequências causam cada vez mortes
Kerry criticou falta de ação e o lento processo de abandonar a queima de combustíveis fósseis. Ele avaliou que, sem uma ação coordenada, o impacto mundial da mudança climática deve se agravar.
O enviado especial acredita que, se nada for feito, os efeitos da mudança climática serão cada vez mais sentidos, ampliando os conflitos em lugares já vulneráveis. Ele destacou que os países vêm fazendo promessas durante as Conferências da ONU Sobre Mudança Climática, COP, e com acordos, mas que mais esforços serão necessários para tirar os planos do papel.
Este texto foi originalmente publicado por ONU News de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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