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A defesa do combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês) como solução imediata para a descarbonização do setor aéreo enfrenta questionamentos. Anúncios que apontam o SAF como capaz de reduzir em 70% as emissões de carbono dos voos, são considerados otimistas demais por especialistas. Estudos indicam que, mesmo cumprindo metas ambiciosas, o impacto real até 2030 seria de apenas 7% nas emissões anuais, no caso do Reino Unido, que foi o país analisado em questão.

O SAF é produzido a partir de matérias-primas como óleos usados, resíduos urbanos ou hidrogênio combinado com carbono capturado. No entanto, o Reino Unido importa 92% do óleo de cozinha reciclado utilizado em sua produção, principalmente da China e da Malásia. Apenas uma refinaria no país, a Phillips 66 Humber, opera comercialmente com SAF, usando óleo residual como base. Projetos para novas fábricas, apesar de anunciados, ainda não saíram do papel.

A queima de SAF emite quantidades similares de CO₂ ao querosene tradicional. A redução de emissões é calculada com base em suposições: resíduos usados na produção seriam incinerados ou degradados naturalmente, liberando carbono de qualquer forma. Já no caso do hidrogênio e carbono capturado, pressupõe-se que o gás foi originalmente retirado da atmosfera. Essas premissas, porém, variam conforme o método de produção. Uma revisão da Royal Society em 2023 mostrou que o SAF pode gerar desde emissões negativas (-111%) até um aumento de 69% no impacto climático, dependendo da cadeia produtiva.

A viabilidade econômica do SAF é frágil. O produto chega a custar até cinco vezes mais que o combustível fóssil, com margens de lucro estreitas. Empresas como a Shell abandonaram projetos devido à falta de rentabilidade. Além disso, a energia renovável necessária para produzi-lo compete com demandas como carros elétricos e data centers. Matérias-primas alternativas, como resíduos agrícolas, ainda estão em fase experimental, enquanto o uso de óleo de palma é rejeitado por questões ambientais.

O Reino Unido estabeleceu que 10% do combustível de aviação deve ser sustentável até 2030, saltando para 22% em 2040. Porém, a demanda atual do país por querosene é dez vezes maior que toda a produção global de SAF. Mesmo se a meta de 10% for atingida, o crescimento projetado no número de passageiros – impulsionado por expansões aeroportuárias – anularia os ganhos com a redução de emissões.

Especialistas reforçam que o SAF é apenas uma peça no quebra-cabeça da descarbonização. A substituição total do querosene fóssil esbarra em limites físicos e tecnológicos. Investimentos em eficiência energética, restrições a voos de curta distância e incentivos a alternativas como trens de alta velocidade são apontados como medidas complementares urgentes. Enquanto o setor busca soluções, a pressão por reduções imediatas coloca em xeque a narrativa de um futuro verde para a aviação.

Este artigo foi produzido com base em dados públicos e análises de especialistas em energia e clima.


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