Nasa revê dados de temperatura global de setembro

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Inclusão de dados da Antártida na série mostra que tendência de recordes históricos globais iniciada em 2015 foi interrompida em junho; 2016, porém, ainda ruma para ser o ano mais quente

Imagem: Nasa

Enfim uma boa notícia nos registros mensais de temperatura da Terra feitos pela Nasa, a agência espacial americana. Em 2016, cada mês vinha sendo o mais quente já medido na história, por larga margem. Os dados de setembro, divulgados nesta segunda-feira (17), mostram algo diferente: sim, ainda foi o setembro mais quente de todos os tempos. Mas por uma pequena margem desta vez.

Segundo as medições do Centro Goddard de Estudos Espaciais (GISS, na sigla em inglês), setembro de 2016 foi apenas 0,004°C mais quente que o segundo colocado, setembro de 2014. Isso põe os dois meses estatisticamente empatados na série de 136 anos de registros mensais de temperatura combinada da superfície terrestre e oceânica.

A causa dessa súbita alteração de padrão não foi uma desaceleração do aquecimento global, mas sim uma mudança na forma como os dados são compilados – que tem tudo para causar polêmica quando for divulgada mais amplamente nos EUA, a partir desta terça. Essa mudança foi comunicada discretamente, no meio de uma nota à imprensa no site do GISS.

O que a Nasa fez foi atualizar sua série mensal, incluindo dados da Antártida. Quando isso aconteceu, as temperaturas globais caíram. A tendência verificada nos últimos 12 meses, de um recorde global atrás do outro, na verdade foi interrompida em junho: aquele mês foi “apenas” o terceiro junho mais quente da série histórica, atrás de 2015 e 1998. Em vez de 0,80°C, ele foi 0,75°C mais quente que a média entre 1951 e 1980. Portanto, tivemos nove meses seguidos de recordes (a tendência foi retomada em julho e agosto, muito mais quentes que todos seus antecessores). Mesmo assim, 2016 ainda segue sua trajetória inabalável rumo ao alto do pódio de ano mais quente de todos tempos desde o início das medições.

“Os rankings mensais são sensíveis a atualizações no registro, e nossa última atualização mudou o ranking de junho”, justificou o diretor do GISS, Gavin Schmidt, no comunicado à imprensa. “Continuamos a ressaltar que, embora os ranking mensais sejam notícia, eles não são nem de longe tão importantes quanto as tendências de longo prazo.”

Se o efeito das temperaturas antárticas no registro global foi pequeno, o impacto de relações públicas pode não ser, às vésperas da eleição presidencial dos EUA. Não deverá faltar, entre os cada vez menos numerosos partidários do negacionista do clima Donald Trump, quem acuse a Nasa de “mentir” sobre a série histórica.

A correção nos dados e sua divulgação (envergonhada, mas transparente), no entanto, mostra uma força da ciência, e não uma fraqueza. Mostra que, longe de ser monolítica e professar verdades inabaláveis, a ciência é permeável a atualizações e correções. 



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