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A falta de sono, literalmente, está nos matando. Entenda

Antigo rei semilendário da Suméria, Gilgamesh buscou incessantemente a imortalidade. Bem, se pesquisas atuais forem precisas, teria sido melhor o monarca ficar em casa e dormir profundamente de oito a nove horas por noite para ampliar seus anos na Terra. O sono, ao que parece, é o mais próximo que existe (ainda assim muito distante) de uma solução mágica para uma ampla gama de doenças que afligem os habitantes mundo moderno – de diabetes e câncer até obesidade e problemas relacionados à saúde mental, e a quantidade de tempo que você gasta dormindo provavelmente está relacionada ao tempo que você viverá.

Matthew Walker, neurocientista e autor do livro “Por que dormimos: a nova ciência do sono e dos sonhos”, deu uma entrevista ao periódico The Guardian sobre por que o sono é tão importante e, no entanto, é claramente ignorado pela grande maioria dos pessoas, até mesmo por profissionais médicos.

“Nenhum aspecto da nossa biologia é deixado ileso pela privação do sono. Ela afunda em todos os níveis possíveis. E ninguém está fazendo nada sobre isso. As coisas devem mudar em locais de trabalho, comunidades, lares e famílias.”

Walker sustenta que a perda de sono custa à economia do Reino Unido mais de £ 30 bilhões (US$ 40 bilhões) por ano, ou 2% do PIB. O serviço nacional de saúde do Reino Unido teria gastos reduzidos pela metade se fossem instituídas políticas para estimular o sono.

É praticamente impossível de acreditar em um movimento desse tipo, uma vez que vivemos em sociedades que incentivam a privação do sono. A necessidade de dormir é vista como uma fraqueza, uma ameaça à dedicação para o trabalho. A chegada da eletricidade a muitas casas, ao longo do século XX, apesar de ter proporcionado diversos benefícios, ocupou horas noturnas que serviam para o sono. Hoje em dia há muita gente com compromissos noturnos, sejam eles relacionados a trabalho ou estudo… Há fácil acesso a estimulantes como álcool e cafeína, além de Netflix e das notificações incessantes dos smartphones. Tudo isso faz com que pouca gente consiga se “desligar” para dormir.

Walker acha que esse estilo de vida é uma loucura. Como diretor do Centro de Ciência do Sono Humano na Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos, e depois de ter passado mais de duas décadas pesquisando o sono, Walker afirma que há uma forte conexão entre falta de sono e aparecimento de doenças. Mais de 20 estudos epidemiológicos em larga escala concluíram o mesmo: quanto mais curto for seu sono, menor será a sua vida.

Adultos com mais de 45 anos que dormem menos de 6 horas por noite são 200% mais propensos a terem um ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral durante a vida, em comparação com aqueles que dormem sete a oito horas por noite. As crianças com privação de sono são agressivas e mais propensas ao bullying. Os adolescentes podem se suicidar. Antigos viciados recaem em velhos hábitos.

“Quando você sabe que após apenas uma noite com quatro ou cinco horas de sono suas células de defesa naturais – as que atacam as células cancerosas que aparecem em seu corpo todos os dias – caem 70% ou que a falta de sono é ligada ao câncer do intestino, da próstata e do peito, ou mesmo que a Organização Mundial de Saúde classificou qualquer forma de trabalho noturno como um hábito provavelmente cancerígeno, como você poderia fazer qualquer outra coisa?”

Walker gostaria de ver amplas mudanças na sociedade, com a comunidade médica, todos os níveis de governo, empregadores e o sistema educacional cooperando para garantir que o sono adequado se normalize mais uma vez, como era antes da década de 1940.

A mudança, no entanto, deve começar em um nível pessoal, por enquanto. Walker insiste que as pessoas não deveriam estar lutando contra seus despertadores, e se você o faz, é um sinal de que você não está dormindo o suficiente. Você não deveria precisar de café no meio da manhã ou no início da tarde apenas para passar o dia. Ele recomenda evitar a imposição de hábitos distintos a pessoas mais noturnas, mas sim mostrar-lhes a importância de dormir e acordar no mesmo horário todos os dias. Na verdade, o sono deveria ser considerado um tipo de trabalho – ele tão importante quanto comer bem e se exercitar.

Trata-se de um pedido possivelmente grande demais para uma sociedade que desvaloriza o sono… Walker pensa que a aceitação vai ocorrer quando as pessoas forem percebendo a importância do sono.


Fonte: Treehugger

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