Por Jornal da USP.
As discussões climáticas têm sido pauta central no desenvolvimento econômico mundial, sobretudo na última década. A preservação de florestas tropicais recebe a atenção dos principais líderes do planeta, mas outra questão mostra-se como um problema a ser solucionado. Ano após ano, são registrados recordes na emissão de gases do efeito estufa em larga escala. No Brasil, as transformações socioambientais devem começar com a pecuária, segundo Ricardo Abramovay, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP.
O esforço do mundo concentra-se na preservação da floresta amazônica devido à sua capacidade de armazenamento de carbono e vital importância na troca de gases atmosféricos. Por isso, o professor aponta: “Destruir a Amazônia significa perder todo o esforço que o mundo está fazendo para descarbonizar”. Segundo dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), a área desmatada do bioma teve uma baixa histórica em 2012 que tem crescido desde então, principalmente desde 2017.
“O problema é o seguinte: a Amazônia, hoje, é o principal lugar de criação de gado do Brasil”, afirma Abramovay. Mesmo sem desmatamento, os milhões de cabeças de gado emitem gás metano em larga escala. Apesar de ter pouca duração na atmosfera, o gás é “80 vezes mais nocivo que o carbono”. O professor sinaliza que a redução da emissão do gás metano teria impacto imediato, enquanto o gás carbônico demora décadas para perder concentração na atmosfera.
O metano é emitido predominantemente por causas antrópicas: vazamentos na exploração de fósseis de petróleo, lixões emitem muito metano, resíduos sólidos – e criação de gado. “A gente precisa atingir metas até 2030 porque quanto mais você atrasa a redução nas emissões de metano mais você vai ter que reduzir as emissões no futuro”, conclui.
Para mudar o cenário, são muitas as faces de transformação necessárias, o estilo de produção, a forma de consumo, a conscientização da população são alguns exemplos. Abramovay sugere o caminho das proteínas artificiais, as carnes baseadas em plantas, mas indica que existem obstáculos: “Para que uma tenha um sabor, textura, aroma de carne, você imagina a quantidade de produtos artificiais que são colocados. Os especialistas tendem a considerar as carnes baseadas em plantas como parte dos produtos ultraprocessados”. Na visão do professor, as carnes baseadas em cultura celular são “mais promissoras”.
No Brasil, ele vê dois problemas derivados da pecuária, o das emissões e o da erosão da biodiversidade. Como solução de curto prazo, ele oferece a criação de gado com captação de carbono neutra, ou seja, quando não há prejuízo à atmosfera: “Por manejo de pastagem, por redução da quantidade de animais sobre a terra e, ao mesmo tempo, um tipo de rotação de pastagem que regenere a biodiversidade”.
A longo prazo, o caminho é intersetorial, unindo culinária e produção agrícola: “Uma pecuária regenerativa combinada com uma redução no consumo de carne e ao mesmo tempo um aumento no consumo de folhas, verduras, legumes que têm vários dos nutrientes que a carne contém”.
Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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