No Quênia, carvão feito com fezes humanas serve como combustível mais sustentável para cozinhar

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Onde quer que as pessoas estejam, há cocô. As fezes são possivelmente um dos recursos humanos mais abundantes e amplamente disponíveis, e podem ser úteis como matéria-prima para a produção de metano em biodigestores, bem como facilitar a constituição de solos sob a forma de composto… No entanto, quando dejetos humanos não são tratados ou são descartados de forma inadequada, problemas de saúde importantes podem ocorrer, como surtos de cólera ou outras doenças relacionadas à falta de saneamento.

Um aspecto comum da vida rural de países com muitas desigualdades é a falta de infraestrutura de resíduos adequada, seja um sistema de esgoto municipal ou uma fossa séptica construída segundo padrões vigentes. Para aqueles que não têm acesso a esses equipamentos de disposição de resíduos, as fezes são feitas em qualquer lugar, o que pode contaminar fontes locais de água ou de alimentos. Fossas mal feitas também podem vazar até os lençóis freáticos, levando à contaminação da água potável. E até mesmo o tratamento de esgoto de fossas, de sistemas sépticos e de sistemas de esgoto mais disseminados têm um custo ambiental, aumentando o impacto dos habitantes de uma região sobre as águas locais subterrâneas e superficiais.

Briquete de fezes humanas

Um projeto no Quênia quer aproveitar o problema dos resíduos humanos para gerar uma solução ambiental de combate ao desmatamento, mesmo que paliativa. No país, cerca de 80% dependem do carvão vegetal ou da madeira para cozinhar, o que leva ao desmatamento, sem contar que a poluição gerada na queima proporciona “enormes riscos para a saúde“. O projeto em questão se baseia em transformar o lodo do esgoto em briquetes de carvão, que proporcionam menos problemas à saúde na hora da queima.

A urina e as fezes são “produtos” humanos que funcionam como fertilizantes, mas as bolinha de carvão feitas de a partir do esgoto representam um novo tipo de ciclo “mesa-banheiro-cozinha” que pode diminuir os impactos na saúde na hora de cozinhar com fogões que usam combustíveis, além de ser uma proposta economicamente viável.

Em Nakuru, no Quênia, a usina de processamento da Nakuru Water and Sanitation Services Company (Nawassco – Companhia de Serviços de Água e Saneamento de Nakuru) leva, em caminhões, o esgoto de sistemas sépticos e latrinas de poços a locais em que ele possa ser lentamente seco ao sol; em seguida, o esgoto é elevado a uma temperatura de 300 °C, em fornos, num processo de carbonização em que a serragem é adicionada. O produto resultante é então pulverizado em moinhos de martelo para então ser misturado com um pouco de melaço, que atua como aglutinante – o produto de tudo esse processamento é então enrolado em bolas e seco. Um quilo de briquetes custa “cerca de 50 centavos americanos”, é livre de odor e pode queimar de forma mais limpa que o carvão vegetal, mas também queima mais, o que efetivamente economiza dinheiro do usuário.

“A carbonização, basicamente, é um processo pelo qual aumentamos o teor de carbono de materiais. Neste caso, usamos o forno de tambor, que é alimentado pelo lodo de esgoto; o tambor tem alguns orifícios na parte inferior e eles permitem que o oxigênio entre de forma controlada – o oxigênio irá dar suporte à combustão, mas apenas a certo nível para que o material não se transforme em cinzas. Dessa forma, você pode eliminar todos os gases nocivos, e é neste ponto que é possível garantir que o produto não terá cheiro ruim e que será seguro para o manuseio quando o trabalhador está realizando outros processos, que são a moagem e a produção de briquetes”, diz o gerente da Nawassco, John Irungu, ao site Africa News.

Como era de se esperar, superar o tabu de usar fezes humanas para qualquer coisa relacionada à comida foi desafiador no início, mas os usuários do produto têm se mostrado satisfeitos com a eficácia e o baixo custo do produto.

A Nawassco pode produzir atualmente cerca de duas toneladas de briquetes de fezes humanas por mês – o objetivo é aumentar a produção para dez toneladas por mês até o fim de 2017. A empresa adquiriu equipamentos adicionais de desaguamento e carbonização para ampliar e otimizar seus métodos de produção; a meta de longo prazo é produzir “pelo menos dez toneladas por dia”. Como parte do projeto, estão sendo construídas mais de seis mil banheiros que podem coletar os resíduos, além de servirem como uma solução de saneamento necessária e conveniente em partes mais pobres da cidade. Planos para projetos similares em outras partes do Quênia também estão iniciados.


Fonte: Treehugger

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