O sistema de abastecimento de água da região metropolitana de São Paulo entrou em nível de alerta nos últimos dias. De acordo com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), o principal reservatório da região, o Sistema Cantareira, atingiu 39,2% de volume útil nesta semana. Projeções apontam que o sistema estará abaixo de 20% de reserva até a metade do próximo ano.
Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental no Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, comenta os impactos de uma possível nova crise hídrica no abastecimento de água em São Paulo ao Jornal da USP no Ar 1° Edição. “Nós já estamos em uma crise hídrica, porque os indicadores mostram uma redução significativa no volume de chuvas e no armazenamento de água ao longo dos meses deste ano. Para a gente ter ideia, hoje nós temos 20% menos água do que o mesmo período em 2013, ano que antecedeu a crise”, avalia.
Em comparação com a crise hídrica que durou de 2014 a 2016, Côrtes explica que hoje o Sistema Cantareira está em uma situação pior. “Todos os prognósticos indicam uma situação muito similar. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemadem), a capacidade do Sistema Cantareira estará pouco acima de 20% até o final do ano. Outro prognóstico, este de um representante da Sabesp, em evento do Instituto de Estudos Avançados da USP, aponta que o mesmo sistema estará abaixo de 20% na metade do próximo ano”, explica. Para Côrtes, esses são pontos que reforçam a efetivação de uma nova crise hídrica e de abastecimento em 2022.
O professor ainda destaca que racionamento é um termo que gestores públicos estão evitando neste período pré-eleitoral. “A verdade é que já temos um racionamento em curso na cidade de São Paulo, porque, sistematicamente, a Sabesp está reduzindo a pressão de água durante algumas horas do dia, em diversos bairros, divulgando a relação dos afetados no site”, ressalta. Ele ainda explica que essa prática é resultante da última crise hídrica, no sentido de diminuir as perdas por vazamentos na rede. “O que a Sabesp pode fazer, e provavelmente já deve operar nesse sentido, é aumentar o horário de redução da pressão da água e também o número de bairros afetados. Na prática, já temos um racionamento, e ele pode ser ampliado mesmo que o órgão não reconheça a situação”, avalia.
O ponto crucial e a mais importante iniciativa neste momento é o reconhecimento de uma crise hídrica pela Sabesp. “Ela vem refutando a ideia e reforçando que a população deve ficar tranquila e economizando água, mas não aponta oficialmente para nenhum possível cenário de crise hídrica”, explica. Côrtes ainda lembra o fato de que os investidores devem prestar atenção na crise hídrica, já que relatórios de investimentos da instituição não a apontam como um agravante. “Mesmo com todos os investimentos da Sabesp antes e depois da crise, com a população economizando água e com o Sistema Cantareira com nova forma de gestão, hoje nós temos um volume menor de água armazenada do que tínhamos em 2013. Então, mesmo com todos os investimentos, o sistema não ficou mais resiliente”, finaliza.
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica, a Faculdade de Medicina e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 10h45, 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.
Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.
Saiba mais