Nova espécie de tardígrado revela segredos sobre os poderes de resistência à radiação do animal

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Uma pesquisa publicada ontem (24) na revista Science revela uma nova espécie de tardígrados que oferece entendimento sobre o que torna essas criaturas tão resistentes à radiação. Os cientistas envolvidos na pesquisa acreditam que conhecer os genes responsáveis ​​pela tolerância à radiação dos tardígrados pode levar a diversas aplicações, desde o tratamento do câncer até a exploração espacial.

Os tardígrados são animais invertebrados do filo Tardigrada, composto por mais de 1.300 espécies diferentes, mas pouco estudadas. Esses organismos são conhecidos no meio científico por sua resistência. De fato, os tardígrados podem sobreviver a temperaturas extremas, tão baixas quanto o zero absoluto ou acima da ebulição, em pressões seis vezes maiores que as fossas mais profundas do oceano e no vácuo do espaço. (1)

Além disso, esses animais são muito explorados por conta de sua resistência à radiação — podendo aguentar uma radiação em níveis quase mil vezes superiores à dose letal para humanos. 

Anteriormente à pesquisa, não sabia-se qual parte do organismo dos animais concedia esse “poder”. No entanto, as novas descobertas possibilitaram um novo entendimento do animal. 

Os cientistas identificaram milhares de genes dos tardígrados que se tornam mais ativos quando expostos à radiação. Esses processos apontam para um sistema de defesa que envolve a proteção do DNA dos danos causados ​​pela radiação e a reparação de quaisquer rupturas que ocorram.

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A pesquisa começou há seis anos, quando um grupo de especialistas do Instituto de Lifeomics de Pequim visitaram a montanha Funiu, na província chinesa de Henan, para coletar amostras de musgo. Ao voltarem ao laboratório, os cientistas identificaram uma nova espécie de tardígrado, nomeado Hypsibius henanensis

O sequenciamento de genomas da espécie revelou que ela tinha mais de 14 mil  genes, 30% dos quais são exclusivos dos tardígrados. 

Quando os investigadores expuseram o H. henanensis a doses de radiação de 200 e 2.000 Gy – muito além do que seria aceitável para os humanos – descobriram que 2.801 genes envolvidos na reparação do DNA, na divisão celular e nas respostas imunitárias tornaram-se ativos.

Um dos genes, conhecido como TRID1, codifica uma proteína que ajuda a reparar quebras na cadeia dupla do DNA, recrutando proteínas especializadas em locais danificados. Além disso, um gene chamado DODA1 permite que os tardígrados produzam antioxidantes chamados betalaínas — capazes de eliminar alguns dos produtos químicos nocivos da radiação que formam-se dentro das células e que são responsáveis ​​por 60-70% dos efeitos prejudiciais da radiação.

A partir das descobertas, os autores esperam que os seus conhecimentos possam ser aproveitados para ajudar a proteger os astronautas da radiação durante missões espaciais, limpar a poluição nuclear ou melhorar o tratamento do câncer.

“Esta descoberta pode ajudar a melhorar a tolerância ao estresse das células humanas, beneficiando os pacientes submetidos à radioterapia”, diz o coautor do estudo Lingqiang Zhang, biólogo molecular e celular do Instituto de Lifeomics de Pequim.

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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