A nova masculinidade é um termo que surgiu para identificar a maneira como alguns homens passaram a se expressar, deixando de lado a masculinidade frágil
Nova masculinidade é um movimento que surgiu por volta de 2019 e prega uma reinvenção do que se denomina masculinidade. Membros deste movimento acreditam que a masculinidade hegemônica já não é algo saudável, e precisa passar por algumas mudanças.
O termo “nova masculinidade” foi utilizado pela primeira vez na GQ Magazine, revista americana voltada ao público masculino. A revista publicou uma entrevista com o cantor e produtor Pharrell Williams, com a frase “Nova Masculinidade” de título. O meio de comunicação aproveitou a oportunidade para reinventar sua imagem e se juntar aos movimentos de masculinidade não tradicionais.
Para a nova masculinidade, é preciso deixar para trás todas as normas e estereótipos sobre o homem e começar a criar meninos que possam se expressar e ser eles mesmos. Sem se preocupar com o julgamento da sociedade a respeito de sua aparência, seu jeito de ser ou a forma de se portar socialmente.
“Antiga” masculinidade
As características da masculinidade foram moldadas muitos anos atrás. Apesar de cada sociedade ter suas características únicas, com suas próprias regras e normas, alguns estereótipos são universais.
Por isso, a comunidade conservadora prega uma masculinidade grosseira, forte, protetora e superior à figura feminina, à natureza e aos animais. Para as pessoas socializadas dessa forma, os homens são proibidos de demonstrar qualquer tipo de característica considerada feminina, sendo impedidos de chorar e demonstrar emoções.
Essa é a chamada masculinidade frágil. Ela reflete a negação constante de características consideradas femininas.. Esse medo de não parecer másculo o suficiente afeta diretamente as relações destes homens com outras pessoas ao seu redor, principalmente mulheres e pessoas LGBTQIA +.
A nova masculinidade veio como uma resposta para esses padrões não saudáveis. O seu intuito é combater ações e atitudes que perpetuem a masculinidade frágil, sentimento que pode ser considerado culpado de muitas guerras, mortes, agressões e traumas a pessoas e a animais.
A questão de gênero e nova masculinidade
Na cultura ocidental predomina a divisão binária de gênero: homem e mulher. E a esta segunda figura recaem padrões de comportamento de menor poder em relação ao homem. Mulheres recebem menores salários realizando as mesmas funções e ocupam menos espaço na política e economia, por exemplo.
A essas mulheres ainda é exigida a performance estética: usar salto, maquiagem, cruzar as pernas e depilar os pelos. A nova masculinidade, porém, se apropria da estética considerada feminina e da possibilidade de demonstrar emoções e afeto. Homens estão demonstrando seu lado sensível e usando saias, maquiagem e esmalte.
Os alvos da masculinidade antiga
A nova masculinidade surgiu como um refúgio para homens que não se encontravam dentro do padrão da masculinidade frágil. Ou seja, homens negros, gays, trans e indígenas. Essas pessoas foram alvos diretos da masculinidade branca por séculos, tanto por preconceitos antigos como por ligações dessas culturas a características femininas.
O homem gay é estigmatizado pela masculinidade frágil. Afinal, em alguns casos, ele apresenta características consideradas femininas. A nova masculinidade, exercida pelo homem gay ou LGBTQIA + em geral, entende que qualquer pessoa tem o direito de expressar sua feminilidade sem ser diminuído por isso.
Igualdade de gênero
O movimento da nova masculinidade tem o intuito de desmistificar a divisão de gênero na sociedade.
Um estudo, publicado pela revista Sage Journals, mostrou que grande parte dos homens que não se identificam com a masculinidade hegemônica são propensos a se identificarem como participantes ou apoiadores do movimento feminista. Uma causa que também tem como objetivo o fim da desigualdade de gênero.
O papel da moda na nova masculinidade
A moda tem um papel importante na nova masculinidade por ser um caminho que as pessoas usam para expressar suas opiniões. Quando um homem opta por usar roupas tipicamente “femininas”, ele passa uma mensagem. A mensagem é clara, qualquer um tem o direito de se vestir e agir como quiser, a moda não tem gênero.
Porém, não é apenas esse tópico que não tem gênero. A parentalidade, as profissões, o desempenho e o cuidado com o meio ambiente também são temas que independem do gênero da pessoa. Ao pregar a nova masculinidade através de suas roupas, um indivíduo dá o primeiro passo para declarar a sociedade que qualquer um pode expressar sua “feminilidade”, e isso não é um problema.
Dentro do mundo das celebridades, muitos famosos aderiram à nova masculinidade para expressar livremente quem são, sem viver em constante medo de serem julgados por suas aparências ou maneiras de se identificar. O papel de uma figura pública em um movimento como esse é essencial, para que aqueles que se inspiram nesta pessoa possam se identificar e aderir ao mesmo estilo.
Vozes da nova masculinidade
Pharrell Williams: produtor, compositor, cantor e rap, Pharrell Williams é um grande exemplo da nova masculinidade. O artista é reconhecido por seu trabalho na moda, ignorando todas as normas de gênero implantadas pela sociedade. Ele não tem vergonha de se expressar de forma que seria comumente repreendida pela masculinidade frágil.
Billy Porter: Ator, homem negro e gay. Billy é ativista da causa LGBTQIA + e sempre fala abertamente sobre a nova masculinidade. Para ele, como um homem homossexual negro, usar roupas comumente femininas é um ato de coragem. Afinal, ele sofre pressão não apenas por ser um homem racializado, mas também por ser LGBTQIA +.
Jackson Wang: O artista chinês, conhecido por seu trabalho no K-Pop — gênero musical coreano — é outro exemplo de nova masculinidade. Ele não tem vergonha de falar sobre saúde mental e sua experiência com a depressão, temas que são tabu para os homens. Jackson também fala abertamente sobre seus sentimentos e não tem vergonha de ser visto como uma pessoa sentimental.
Além dessas questões, ele tem um trabalho importante com a moda, onde também demonstra seu papel na nova masculinidade.
Jaboukie Young-white: Comediante e homem negro gay, Jaboukie usa da comédia para lutar contra a masculinidade frágil. Segundo o artista, a masculinidade precisa ser reinventada e ele está fazendo o seu papel para que isso aconteça. Em seus shows, ele discute abertamente sobre racismo, homofobia e machismo.
Thomas Page Mcbee: Um dos primeiros boxeadores trans a lutar no estádio mais famoso da Inglaterra, Madison Square Garden. Para Thomas, exercer sua nova masculinidade é uma forma de dar voz a homens trans dentro desta realidade. Ele acredita que sua presença no box serve para as pessoas se questionarem sobre a violência masculina, geralmente vista como um estereótipo do gênero.