José Rodolfo Scarati Martins comenta a evolução das técnicas de drenagem, como a 3.0, que busca resolver o problema do acúmulo de água com mais inteligência e planejamento
Por Jornal da USP – O Brasil tem o maior número de desabrigados e emergências por chuva em cinco anos. O professor José Rodolfo Scarati Martins, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica (Poli) da USP, conversou com o Jornal da USP no Ar 1ª Edição sobre as soluções mitigadoras possíveis e disponíveis para combater inundações e a poluição das águas.
O uso da drenagem
“O planeta Terra original tinha uma combinação perfeita entre os terrenos, a precipitação, a cobertura vegetal e o tamanho dos rios, a malha de drenagem natural. A urbanização veio desestabilizar essa combinação”, conta o professor.
A partir dessa desestabilização, causada pelo crescimento das cidades, passou a ser necessária a utilização de técnicas artificiais de drenagem. O professor se refere a três momentos no histórico da aplicação de tecnologias de drenagem.
A drenagem 1.0 procurava escoar a água das chuvas de forma rápida, misturada ao esgoto, e foi praticada na cidade de São Paulo até 1960. Esse método, no entanto, prejudicava quem estava “águas abaixo”.
Com a intensificação da conurbação, a água que uma cidade colocava nos escoadouros transferia o problema para outras cidades. Passa-se, então, a utilizar outra abordagem: em vez de escoar a água para outro lugar, armazená-la.
Assim, surgem os piscinões, nome popular dos reservatórios de detenção, estruturas urbanas que “têm a finalidade de acumular as vazões que excedem a capacidade de escoamento dos cursos d’água (rios e córregos)”, segundo o site do Departamento de Águas e Energia Elétrica. Essa é a drenagem 2.0.
Drenagem 3.0
A drenagem 3.0, momento mais recente de aplicação de tecnologias de drenagem, busca resolver o problema do acúmulo de água com mais inteligência e planejamento. Segundo Scarati, se, nos anos 90, estudávamos como os piscinões evitariam a sobrecarga dos rios, hoje buscamos aumentar suas funções.
As estruturas passam a ser concebidas e adaptadas para a função de retenção da poluição de origem difusa, aquela que é “lavada” das ruas pela água da chuva e chega aos rios. Esse tipo de poluição está diretamente vinculado às infraestruturas urbanas, como varrição, coleta e transporte de lixo e presença e ausência de esgotos.
Além do aprimoramento dos piscinões, foram criadas novas soluções. O uso de asfalto poroso, por exemplo, permite retardar a chegada da água aos rios e a depuração de poluentes.
Os sistemas de biorretenção, conhecidos como jardins de chuva, são capazes de reter os primeiros momentos da chuva, impedindo que essa água de menor qualidade alcance os rios.
Os telhados verdes melhoram as condições térmicas do edifício, possibilitam o reaproveitamento da água da chuva e retardam o escoamento das águas até os rios.
Outra possibilidade é a captação da água da chuva para uso doméstico. O uso dessa água como água potável não é incentivado pela dificuldade de controlar a qualidade dessa água. Esse recurso, no entanto, pode ser utilizado para outras finalidades que não exigem água potável, como a lavagem de carros.
A prática ainda não é tão utilizada no Brasil quanto em outros países como a Austrália, conta o professor. Esse uso, no entanto, pode diminuir a pressão sobre a produção de água para consumo, preservando nossos mananciais produtores. Também pode trazer benefícios econômicos, já que essa água, de menor qualidade, não demanda os custos que a água potável demanda.
Scarati diz que a captação de água de chuva exige investimentos para a adequação dos edifícios.