Em estudo publicado na revista Bioresource Technology, integrantes do Centro de Pesquisa para Inovação em Gás (RCGI) descrevem um método que permite produzir bioplástico a partir de uma matéria-prima barata, abundante e que não concorre com a indústria alimentícia: o gás carbônico (CO2).
Na pesquisa, foram utilizadas cianobactérias, também conhecidas como algas azuis, que são microrganismos procariontes capazes de realizar fotossíntese. Ao serem submetidas a condições de estresse em meio de cultura com excesso de luz, as cianobactérias capturam o CO2 e produzem em seu interior grânulos de polihidroxibutirato (PHB), um tipo de bioplástico. Estas cianobactérias, do gênero Synechocystis sp., foram coletadas em áreas de manguezal próximas a Cubatão, em São Paulo.
“Como é uma área contaminada, muito impactada por componentes químicos, os microrganismos encontrados lá são extremamente resistentes, o que é interessante para a pesquisa”, explica Elen Aquino, coordenadora do projeto e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O método descrito no artigo, além de ser mais barato e não competir com outros mercados, contribui para a captura e fixação de um dos gases responsáveis pelo efeito estufa, transformando-o em um produto de alto valor agregado. Segundo a pesquisadora, 31% da biomassa produzida pelas cianobactérias na presença de luz era PHB. O grupo ainda pretende fazer testes de otimização. A hipótese é que seria possível aumentar a produtividade ao submeter as cianobactérias a um segundo estresse, como a retirada de um nutriente do meio, por exemplo.
No Brasil, a produção de bioplásticos em grande escala ainda é uma realidade distante. Segundo Aquino, existe apenas uma empresa no interior de São Paulo que produz PHB com bactérias que utilizam o açúcar como fonte de carbono. Os bioplásticos também podem ser obtidos a partir de óleos vegetais e amido de mandioca, entre outras fontes renováveis.
“A produção de PHB ainda é muito cara. Ele é considerado um plástico nobre, usado principalmente para a fabricação de próteses ortopédicas.”
O próximo passo do estudo é fazer o chamado “consórcio microbiano” para tentar potencializar a produção do bioplástico: colocar bactérias e cianobactérias para crescerem juntas em meio de cultura, na presença de CO2 e CH4. Diferentemente das cianobactérias, as bactérias utilizadas em outro projeto capturam gás metano (CH4) e também o transformam em PHB. “Dessa forma, conseguiríamos trabalhar com os dois principais gases do efeito estufa”, destaca.
O RCGI é um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído pela FAPESP e pela Shell na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).
O artigo Light excess stimulates Poly-beta-hydroxybutyrate yield in a mangrove-isolated strain of Synechocystis sp. pode ser lido em https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0960852420316539.
Fonte: Agência FAPESP
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