Por Jornal da USP | O aumento no número de brasileiros com transtornos mentais revela uma segunda pandemia vivida pela população. Segundo o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), o total de óbitos no País por lesões autoprovocadas dobrou nos últimos 20 anos, passando de 7 mil para 14 mil. A duplicação neste número de mortes no pós-pandemia levanta preocupações com a condição psicológica dos brasileiros.
O índice de deprimidos e ansiosos, que era elevado antes do alastramento da covid-19, cresceu ainda mais após a emergência sanitária. “Antes da pandemia, o Brasil tinha o primeiro lugar em prevalência dos transtornos ansiosos e o terceiro lugar em transtornos depressivos” comenta Vanessa Favaro, psiquiatra e diretora dos Ambulatórios do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Apesar de serem quadros distintos, a presença da depressão associada à ansiedade é apontada como comum, apesar de não ser regra.
O isolamento durante a pandemia da covid-19 também teve impactos diretos na vida dos brasileiros. Para a psiquiatra, nesse período “passamos por muitos fatores estressantes: pessoas que tiveram perdas de familiares pela covid, pessoas que perderam empregos ”. As consequências indiretas, como a falta de socialização de crianças e idosos também, prejudicaram o desenvolvimento mental de uma ampla gama de pessoas. Assim, surgem alterações comportamentais que seguem um caminho de normalização pela pessoa, como sintomas de insônia, irritabilidade, sensação de fadiga, desinteresse e falta de perspectiva.
Mesmo diante de estigmas, Vanessa sinaliza que a busca inicial por ajuda externa, medicamentos ou profissionais de saúde são fundamentais para a saúde do indivíduo. “Eu acho que buscar essa informação e conversa vai permitir que você entenda o ponto em que está, e se precisa de ajuda”, recomenda a professora. “Os transtornos psicológicos atingem todos os grupos de pessoas, de diferentes faixas etárias, gêneros e condições socioeconômicas”, complementa.
O tratamento das comorbidades mentais busca fortalecer mecanismos fragilizados pelo paciente, de modo que o agravamento seja contido. Para isso, o SUS disponibiliza as consultas por teleatendimento, no qual a psicoterapia ocorre através de ferramentas on-line. A psiquiatra indica que “hoje em dia é possível buscar o teleatendimento. Ele já foi, inclusive, muito testado durante a pandemia e funciona bem”, observa Vanessa Favaro.
O tratamento das comorbidades mentais busca fortalecer mecanismos fragilizados pelo paciente.
Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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