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A nuvem de gafanhotos é um fenômeno que pode estar relacionado às mudanças climáticas

A nuvem de gafanhotos é uma das pragas agrícolas mais conhecidas e recorrentes em toda a história da humanidade. Ela consiste no agrupamento excessivo da forma adulta de gafanhotos, e se forma quando uma quantidade anormal desses indivíduos se movem juntos. Essas nuvens podem chegar a conter centenas de milhões desses insetos, e podem causar danos para produtores rurais em plantações agrícolas, pois podem consumir em um dia culturas inteiras, como a de cana-de-açúcar e outras espécies, além de pastagens.

Apesar disso, uma nuvem de gafanhotos não traz nenhum risco aos humanos e nem é prejudicial aos animais, já que o inseto não traz nenhuma ameaça, além de se alimentar dos vegetais das plantações. Além disso, o gafanhoto também não é vetor de doenças.

Os fatores que levam a formação desse fenômeno não são claros, sendo objeto de estudo de muitos biólogos e entomologistas. Porém, existem indícios de que esse fenômeno pode estar relacionado às mudanças climáticas e à prática de monoculturas.

O ciclo de vida dos gafanhotos 

Durante momentos de seca, os gafanhotos levam uma vida majoritariamente solitária, em que são forçados a conviver juntos em áreas irregulares de terra com vegetação remanescente. Essa aglomeração repentina libera serotonina no sistema nervoso central dos insetos, o que os torna mais sociáveis ​​e promove movimentos rápidos e um apetite mais variado.

Quando a chuva volta, produzindo solo úmido e plantas verdes abundantes, essas condições ambientais criam um ambiente quase perfeito para a formação de uma nuvem de gafanhotos. Os insetos começam a se reproduzir rapidamente e ficam ainda mais aglomerados.

Eventos históricos de nuvens de gafanhotos

Citadas até mesmo no segundo livro da Bíblia, como uma das pragas que assolou o Egito, as nuvens de gafanhotos são um evento marcante. Nessa narrativa, tais pragas foram enviadas pelo Deus de Israel para convencer o faraó do Egito, Ramessés II, a libertar o povo hebreu que sofria com a escravidão. Dez foram as pragas que assolaram o povo egípcio, sendo a oitava uma nuvem de gafanhotos.

Tal nuvem foi tão grande que os gafanhotos “cobriram a face de toda a terra, de modo que a terra se escureceu; e comeram toda a erva da terra, e todo o fruto das árvores, […]; e não ficou verde algum nas árvores, nem na erva do campo, em toda a terra do Egito” (Êxodo 10:15).

nuvem de gafanhotos
Nuvem de gafanhotos em Madagascar / Foto de Michel Lecoq, sob CC BY-SA 4.0 no Wikimedia Commons

Outro exemplo seria uma das maiores nuvens de gafanhotos já documentadas, que ocorreu no Kansas em 1874. Ela afetou dezenas de estados nos Estados Unidos e chegou a cobrir uma área de mais de 5 milhões de quilômetros quadrados. Esse valor equivale à área dos seis maiores estados brasileiros combinada (Amazonas, Pará, Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia e Mato Grosso do Sul). 

Os efeitos econômicos e sociais desse evento foram devastadores, fazendo o ano de 1874 ser lembrado como “O Ano do Gafanhoto”. Desde 1950, países do norte e leste da África e do Oriente Médio sofrem com nuvens de gafanhotos eventualmente, ameaçando a segurança alimentar de milhões de pessoas.

Onde ocorre a nuvem de gafanhotos

Embora seja raro em alguns locais do planeta, as nuvens de gafanhoto ocorrem em todos os continentes. As mais graves foram registradas na África, México e Israel. Contudo, América do Sul, Austrália, Ásia e Europa também sofrem com a ocorrência deste evento em menor escala. Cada nuvem é formada por diferentes espécies de gafanhotos que vivem em vários habitats.

Um exemplo é o gafanhoto da espécie Schistocerca cancellata, que formou em 2020 uma nuvem com quase 100 milhões de indivíduos no Paraguai, causando prejuízos em diversos países vizinhos. A nuvem de gafanhotos que afetou a Somália, Etiópia e Quênia entre 2019 e 2020 pertencia à espécie Schistocerca gregaria, conhecida como gafanhoto do deserto.

Quando se fala sobre o Brasil, a maior ameaça por um surto de gafanhotos documentada até então ocorreu em 2020 e foi formada no Paraguai, depois de uma frente fria. Acredita-se que, ao chegar ao Brasil, ela era composta de até 40 milhões de gafanhotos. Isso fez com que as autoridades brasileiras, por meio do Ministério da Agricultura, declarassem estado de emergência fitossanitária em alguns estados da região Sul do país, nas principais regiões atingidas, principalmente o oeste do Rio Grande do Sul.

Formação e efeitos da nuvem de gafanhotos

A nuvem de gafanhotos costuma ocorrer em locais com clima quente e úmido e que possuem campos de monocultura. A reprodução desse inseto parece ser estimulada por maiores temperaturas. Esse fator se torna especialmente preocupante diante do cenário de agravamento do aquecimento global. Além disso, grandes plantações de milho e outros vegetais de interesse humano formam campos abertos sem barreiras físicas, como árvores.

Esses cultivos recebem uma grande carga de agrotóxicos, o que afasta ou elimina possíveis competidores ou predadores naturais dos gafanhotos. Em casos muito graves, as nuvens de gafanhotos podem consumir mais de 130 mil toneladas de biomassa por dia, trazendo um enorme impacto econômico e agravando situações de fome e pobreza local.

Combate e prevenção da nuvem de gafanhotos

As autoridades costumam fazer o uso de inseticidas químicos como uma defesa agropecuária, para combater as nuvens de gafanhotos. No entanto, a iniciativa pode ser falha e causar diversos danos ao meio ambiente. Um modo de combate alternativo que tem apresentado certa efetividade tem sido monitorar o deslocamento da nuvem e utilizar inseticidas, como esporos de fungo, que afetem de maneira mais específica os gafanhotos.

De acordo com especialistas, a melhor prevenção contra a possível chegada de nuvens de gafanhotos ainda é o contínuo monitoramento e controle das populações desses insetos. Com ações rápidas, coordenadas e pontuais, aparentemente é possível evitar a formação das superpopulações que se tornam tão problemáticas. Além disso, melhores práticas agrícolas, como a agroecologia, podem ter potencial de reduzir esse problema, já que aumentam a biodiversidade, além da qualidade agroalimentar e, consequentemente, as barreiras físicas e os competidores e predadores naturais dos gafanhotos.


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