A fibra mineral do amianto, conhecida também como fibra de asbestos, é a matéria-prima de muitos produtos de baixo custo comuns em residências do Brasil inteiro, como caixas d’água e telhas. Proibido em mais de 50 países e responsável por cerca de 100 mil mortes por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o amianto gera duas dúvidas importantes para os consumidores: é perigoso ter um produto desses em casa? Quais são os riscos do amianto? Qual é a destinação correta para telhas ou caixas d’água?
A fibra do amianto pode causar problemas aos seres humanos ao ser aspirada ou ingerida. Segundo a gerente do Programa Estadual do Amianto do Ministério do Trabalho em São Paulo, Fernanda Giannasi, há riscos de uma pessoa desenvolver complicações como o câncer, caso possua objetos fabricados com amianto em casa. “Existe o risco. O produto (caixa d’água ou telha) tem uma fina camada de externa de cimento, mas com o tempo ocorre o desgaste e ele vai liberando as fibras no ambiente. Na fase de instalação de uma telha, por exemplo, é comum que a telha seja perfurada. A poeira que se solta é altamente contaminante. Muita gente também passa a vassoura ou outros materiais abrasivos que acabam desgastando ainda mais os produtos e liberando o pó”, explica.
De acordo com a Associação Brasileira de Expostos ao Amianto (Abrea), a indústria afirma que as doenças causadas pelo amianto são operacionais (ocasionadas pela exposição no trabalho – comuns na mineração e na indústria que lida com a matéria-prima) e que esse fator não seria suficiente para proibir a produção. Fernanda contesta. “Trabalhadores da indústria do amianto ou de mineradoras estão expostos a concentrações mais altas e costumam desenvolver asbestose (doença em que as fibras de amianto se aprofundam no pulmão e causam diversas cicatrizes). No entanto, consumidores que têm contato com uma quantidade pequena de amianto correm risco de ter tumores e desenvolverem câncer de pulmão, especialmente o mesotelioma”, diz.
Uma vez aspirada, a fibra de amianto não sai mais do corpo. É possível que o elemento fique incubado no pulmão e alguma das doenças citadas se manifeste depois de vários anos. A ingestão também pode causar o aparecimento de tumores no aparelho digestivo, de acordo com Fernanda Giannasi.
Devido aos perigos que um produto feito com amianto pode causar, o ideal é a substituição. No entanto, muitos não têm condições financeiras para isso. “Se não tiver jeito de trocar, é preciso ter todo o cuidado com a manutenção da caixa d’água. Ela fica bem desgastada após cinco anos de uso. Deve-se evitar a limpeza com abrasivos e escovas de aço. Pintá-la também não ajuda. Pode até melhorar o isolamento, mas não resolve com relação à poeira do amianto”, argumenta a gestora.
A resolução 348 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 2004, determina que produtos que têm o amianto como matéria-prima não podem ser descartados em qualquer local. “A descontaminação é muito difícil de ser feita devido ao alto custo e apenas em alguns casos é realizada, geralmente em indústrias. O material não é reciclável e o melhor que o consumidor pode fazer é consultar a administração regional ou a subprefeitura de sua cidade para saber como descartar. O destino do amianto tem que ser um aterro para lixo perigoso e, na hora de retirar a telha ou a caixa d’água, é preciso tomar todo o cuidado e evitar a quebra do material” explica Fernanda.
Para o presidente da Abre, Eliezer João de Souza, a indústria brasileira de amianto pensa apenas na questão financeira e é por isso que produtos baseados na matéria-prima continuam sendo produzidos. “É um jogo de ganhar dinheiro. Como os industriais ficaram lucrando sem problemas por 50 anos no Brasil, eles não se importam se os trabalhadores morrem ou não. É uma questão totalmente comercial”, afirma.
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