Na análise crítica sobre a desigualdade de carbono, uma pesquisa da Oxfam revela que o 1% mais rico é responsável por uma produção de carbono equivalente aos 66% mais pobres. Nesse cenário, estilos de vida luxuosos, como voos frequentes, carros de grande porte e dietas ricas em derivados de animais, emergem como os principais culpados desse desequilíbrio preocupante.
O economista Jason Hickel argumenta de forma contundente, destacando a urgência de repensar o impacto da elite no orçamento de carbono global. Segundo Hickel, os milionários estão a caminho de consumir 72% do orçamento de carbono restante para limitar o aquecimento a 1,5ºC. Reduzir o poder de compra dessa elite é imperativo, especialmente diante da crise climática, classificando a facilitação do consumo desenfreado como irracional.
Contudo, a problemática vai além das emissões associadas aos estilos de vida luxuosos. A elite poluidora exerce uma influência descomunal sobre o clima, especialmente no controle de ativos investíveis. Hickel enfatiza que cada bilionário é responsável por um milhão de vezes mais emissões do que a pessoa média entre os 90% mais pobres, quando levamos em conta investimentos em indústrias poluentes.
A economista Mariana Mazzucato destaca o “risco duplo” enfrentado pelas populações mais pobres devido aos impactos combinados da crise climática e da desigualdade econômica. Os países de baixa renda, segundo ela, são forçados a direcionar recursos para o pagamento de dívidas, deixando questões cruciais, como saúde e adaptação climática, em segundo plano.
Farhana Sultana, professora da Universidade de Syracuse, e defensora de controle público sobre o setor privado, ressalta que a cultura de consumo excessivo das elites ricas e dos países desenvolvidos não é sustentável em um mundo com recursos finitos e limites planetários. Ela enfatiza que é impossível ter uma elite poluente e um clima habitável simultaneamente.
O cientista climático Kevin Anderson aponta o impacto abrangente da elite poluidora, influenciando desde narrativas sobre mudanças climáticas até propostas de soluções pseudotécnicas. Ele destaca a necessidade de regulamentação para reformular os sistemas energéticos globais, estabelecer padrões mínimos de eficiência e proibir atividades altamente poluentes.
Diversos economistas propõem medidas para enfrentar a injustiça climática. Roman Krznaric destaca a proibição de jatos privados, enquanto Julia Steinberger, da Universidade de Lausanne, sugere a necessidade de perdão da dívida dos países pobres e investimentos em serviços públicos de baixo carbono.
Hickel vai além, propondo a redução ativa de produções consideradas menos essenciais, como mansões, armamentos, aviação e fast fashion. Ele enfatiza a importância do controle democrático sobre o investimento para direcionar recursos para necessidades sociais e ecológicas.
A economista Vera Songwe, defensora de um “preço verdadeiro e honesto para o carbono”, propõe contabilizar as emissões e penalizar atividades com alto teor de carbono, direcionando recursos para países em desenvolvimento com grandes sumidouros de carbono, como florestas.
Especialistas advertem que as desigualdades climáticas não se limitam às diferenças globais. A pegada de carbono de ricos e pobres dentro dos países supera as diferenças entre nações. A necessidade de políticas climáticas adaptadas para evitar custos desproporcionais sobre os mais pobres é destacada como crucial.
Rachel Cleetus, diretora de políticas para o clima e a energia da União de Cientistas Preocupados dos EUA, ressalta a importância de enfrentar as perdas e os danos internamente nos países mais ricos, especialmente nas comunidades historicamente sobrecarregadas.
A desigualdade climática também se manifesta entre gerações. Economistas alertam para as pegadas de carbono crescentes dos baby boomers em comparação com as gerações X e Y. A necessidade de governos imporem quotas justas aos orçamentos de carbono restantes é destacada como uma obrigação ética.
Em meio a debates sobre o papel do capitalismo na desigualdade de carbono, alguns argumentam pela necessidade de uma intervenção extensa e profunda na reorganização da atividade econômica. A busca por soluções pragmáticas imediatas é enfatizada, sem perder de vista a urgência das ações climáticas necessárias para evitar os piores impactos do desastre climático.
Em síntese, a desigualdade de carbono é um desafio multifacetado que exige uma abordagem abrangente, desde medidas específicas para os super-ricos até regulamentações globais e a busca por alternativas ao atual modelo econômico. A transformação é necessária agora, não como uma aspiração futura.
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