A HBO lançou no último domingo (15) a sua nova série The Last of Us — uma adaptação do vídeo game do mesmo título lançado em 2013. Na série, assim como no jogo, o mundo foi tomado por uma pandemia de uma “doença fúngica”, que torna os hospedeiros, chamados de “infectados”, em zumbis. E, desde a sua criação, parte da população se questiona sobre a possibilidade de uma doença similar se espalhar pela Terra.
Supostamente, Neil Druckmann, criador de The Last of Us, se inspirou em um fungo real para criar o universo — a espécie Ophiocordyceps unilateralis, um fungo patogênico de insetos conhecido por infectar e controlar formigas.
A abertura da série contém informações similares, com uma justificativa um tanto plausível para um cenário pós-apocalíptico em que fungos podem infectar o cérebro humano a partir de mutações genéticas impulsionadas pelas mudanças climáticas.
O fungo Ophiocordyceps unilateralis em questão infecta suas presas através da liberação de esporos. Ao longo de 24 a 48 horas de que o parasita se instala no organismo infectado, ele começa a se espalhar pelo corpo inteiro do inseto, envolvendo seus músculos e afetando seus neurônios motores, tornando o hospedeiro em uma “marionete”.
A primeira manifestação do fungo no corpo do hospedeiro é o comportamento errático e anormal, algo que também acontece na série. No entanto, especialistas acreditam que, embora contenha aspectos inspirados na vida real, um apocalipse zumbi derivado de fungos está longe de acontecer.
De acordo com João Araújo, especialista em fungos parasitas do Jardim Botânico de Nova York, levaria milhões de anos de mutações genéticas para que um fungo similar ao Ophiocordyceps unilateralis pudesse infectar mamíferos. Isso se dá ao fato de que cada espécie de fungo parasita evoluiu para corresponder a um inseto específico.
“Se um salto de uma espécie de formiga é difícil, pular para humanos – isso é definitivamente ficção científica”, diz Ian Will, geneticista de fungos da University of Central Florida.
Mesmo com o efeito das mudanças climáticas, que podem alterar a temperatura do planeta assim como dos organismos que vivem nela, especialistas acreditam que essa mudança não será dramática o suficiente para que os fungos possam se adaptar para uma infecção em seres humanos.
No entanto, alguns fungos já fizeram essa adaptação. Esse é o caso do fungo Candida auris, descoberto em 2007.
“Aconteceu do nada. A ideia é que esse fungo estava por aí e, com o passar dos anos, foi se adaptando a temperaturas mais altas (…)” disse Arturo Casadevall, especialista em doenças infecciosas da John Hopkins School of Public Health.
Além disso, em 2022, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou uma lista de fungos prejudiciais à saúde, que incluía 19 espécies que representam algum nível de ameaça à saúde humana. De acordo com o relatório, infecções fúngicas matam cerca de 1,6 milhões de pessoas por ano.
Entretanto, grande parte das vítimas dessas condições são pessoas que estavam imunocomprometidas anteriormente à infecção. Portanto, embora essas infecções sejam perigosas, a ideia de um “apocalipse fúngico” ainda está longe de ser realidade.
Por outro lado, pandemias fúngicas similares à pandemia de COVID-19, que tomou conta do mundo em 2020, ainda podem ser possíveis, mas não no mesmo nível do que acontece no universo de The Last of Us.
“Estou preocupado com o surgimento de uma doença desconhecida que infecta pessoas imunocompetentes? Claro”, conclui Casadevall.
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