O papel invisível da Amazônia na formação de partículas atmosféricas

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Por décadas, cientistas se intrigaram com a elevada concentração de partículas de aerossóis na alta troposfera de regiões tropicais, como a Amazônia. Agora, novas descobertas apontam que o isopreno, um hidrocarboneto emitido por plantas, desempenha um papel central na formação dessas partículas, com implicações diretas na formação de nuvens e na regulação climática global.

O estudo, conduzido pela Universidade de Helsinque e publicado na revista Nature, revela que moléculas orgânicas oxigenadas derivadas do isopreno (IP-OOM) são capazes de gerar partículas em condições extremas de baixa temperatura, típicas da alta troposfera. Esta camada atmosférica, que se estende até 18 km acima do nível do mar no equador, foi investigada por meio de experimentos realizados na câmara CLOUD do CERN.

Os resultados surpreenderam ao mostrar que, sob temperaturas abaixo de -30°C, a presença de ácidos traços como ácido sulfúrico ou iodo oxoácidos pode acelerar em até 100 vezes a formação de partículas. Essa descoberta ajuda a explicar os altos níveis de concentração de partículas sobre áreas tropicais como a Amazônia, especialmente durante o dia, quando produtos de oxidação do isopreno são ativados pela luz solar.

Florestas tropicais, como a Amazônia, são emissoras massivas de isopreno, o hidrocarboneto não-metano mais abundante liberado pela vegetação. Durante a noite, nuvens convectivas profundas transportam eficientemente o isopreno para a alta troposfera, onde seus subprodutos químicos desempenham papel fundamental no processo de nucleação de partículas. Tais partículas servem como núcleos de condensação para gotas de nuvem, influenciando diretamente a formação de nuvens e os padrões climáticos.

Além de atuar na regulação do clima ao espalhar e absorver radiação solar, os aerossóis têm implicações na previsão e mitigação das mudanças climáticas. A conexão agora estabelecida entre as emissões florestais e a formação de partículas atmosféricas lança luz sobre as complexas interações entre os ecossistemas tropicais e a atmosfera.

Com base nessas descobertas, espera-se aprimorar os modelos climáticos globais, ajustando previsões relacionadas à dinâmica de nuvens e ao impacto das emissões tropicais no equilíbrio energético terrestre. Os cientistas acreditam que pesquisas como essa são fundamentais para entender e enfrentar os desafios climáticos atuais.

A pesquisa também ilustra como a proteção das florestas tropicais é essencial não apenas para a biodiversidade e a absorção de carbono, mas também para a manutenção de processos atmosféricos vitais para o clima global. Entender o papel do isopreno no sistema climático pode ser um passo decisivo para o planejamento de políticas ambientais mais eficazes.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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