A conferência, que acontece a cada dez anos, reunirá representantes mundiais para debater formas de proteger a biodiversidade global
Por Rosana Villar, do Greenpeace | A Conferência do Clima da ONU mal acabou e um outro encontro já está se iniciando. Dessa vez, representantes mundiais se reunirão em Montreal, no Canadá, entre 6 e 19 de dezembro, para discutir o estado da biodiversidade global e planos para mitigar a crise que o planeta está enfrentando. O encontro ocorre a cada dez anos para estabelecer uma estrutura de trabalho para a proteção da biodiversidade, e por isso essa conferência é tão importante: seu resultado terá grandes implicações para a biodiversidade do nosso planeta. E isso inclui nós, seres humanos.
A Convenção de Biodiversidade da ONU, também conhecida como CBD COP15, foi ratificada por 196 governos, e tem como objetivo manter a estabilidade ecológica do mundo. Ela se originou junto com a Convenção pelo Clima, durante a Cúpula da Terra, que ocorreu no Rio de Janeiro, em 1992. Então, apesar de receber menos atenção do que a sua prima focada no clima, a Convenção de Biodiversidade é tão importante quanto, afinal, vivemos simultaneamente duas crises: do clima e da biodiversidade.
Nosso planeta está enfrentando uma grande perda de espécies. Apenas 15% das florestas do mundo estão intactas, e apenas 3% dos oceanos do mundo estão livres da pressão humana causada pela extração de recursos naturais. Cientistas comparam a taxa de perda de biodiversidade que está acontecendo agora com eventos históricos de extinção em massa, como a que eliminou os dinossauros. Mas desta vez, não é um meteoro que está nos ameaçando. Somos nós, os humanos, que estamos provocando essa crise.
Atualmente, cerca de um milhão de espécies de animais e plantas estão ameaçadas de extinção, mais do que nunca na história da humanidade. À medida que as estruturas de sustentação da biodiversidade entram em colapso, há um sério risco de que as extinções em massa se acelerem e cada vez mais coloquem toda a vida do planeta em risco. A perda da biodiversidade está profundamente ligada à nossa saúde e sobrevivência.
A diversidade de espécies e a interação entre elas e o meio ambiente é fundamental para a manutenção da vida na Terra, o que inclui a produção de alimentos, a proteção contra doenças e até a produção de oxigênio.
A exploração desenfreada dos ecossistemas por recursos naturais é uma das principais causas desta crise. O desmatamento das nossas florestas para abrir espaço para o agronegócio, a exploração do fundo do oceano por minérios e a pesca industrial são alguns exemplos de como as ações humanas ameaçam a biodiversidade do planeta.
As mudanças climáticas também estão diretamente relacionadas com a perda de biodiversidade. O aumento da temperatura média está impactando o planeta profundamente, como mudanças em correntes marítimas, aumento da temperatura dos oceanos, e eventos climáticos extremos. Além disso, à medida que o desmatamento e a extinção destroem os ecossistemas e as barreiras que mantêm as doenças zoonóticas longe das pessoas, pandemias como a COVID-19 também podem se tornar mais comuns.
Por isso, esta CBD COP15 é tão importante. Os próximos dez anos serão cruciais para a proteção da biodiversidade no planeta. Nós não temos tempo a perder.
O que os governos precisam fazer na Convenção?
A CBD COP15 é uma oportunidade para os governos estabelecerem uma nova relação com a natureza. As principais metas políticas incluem o compromisso de proteger pelo menos 30% das terras e oceanos até 2030 (meta conhecida como 30×30), o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas e das comunidades tradicionais, principais líderes e parceiros na proteção da biodiversidade e dos ecossistemas, e o seu protagonismo nas tomadas de decisões, além do estabelecimento de planos claros para financiar e implementar as decisões tomadas nas negociações.
Estas decisões definirão o caminho que o mundo precisa tomar para reverter a extinção em massa e perda de biodiversidade que o planeta está sofrendo hoje. Quando a CBD COP15 terminar, os governos precisarão sair com uma meta global clara de onde precisamos estar e um plano sólido de como chegar lá.
E o que eu tenho a ver com isso?
O Brasil é uma peça vital na preservação da biodiversidade. Nosso país abriga uma das maiores biodiversidades do mundo. Porém, a destruição da Amazônia e de outros biomas como o Cerrado e o Pantanal, são ameaças diretas à sustentação da fauna e flora no nosso país, e precisa ser revertida. Em todo o mundo, as terras indígenas são as áreas mais conservadas. Isso porque os povos originários, assim como as comunidades tradicionais, ao reproduzir o seus modos de vida, respeitam os processos ecológicos daquele ambiente em que eles estão inseridos, devido à conexão dessas comunidades com o local, sua cultura e conhecimento tradicional.
No Brasil, isso não é diferente. É crucial que os direitos dos povos indígenas sejam assegurados no nosso país. O Brasil precisa promover uma reparação histórica junto aos seus povos originários e precisa promover efetivamente os direitos dessas populações. A demarcação de Terras Indígenas e o fim da tese do Marco Temporal são algumas das providências que precisam ser adotadas urgentemente. Dessa maneira, estaremos reparando uma injustiça perpetuada por gerações e plantando as sementes para a promoção da justiça climática, olhando para aqueles que menos contribuem para a crise do clima que vivemos hoje, mas que sofrem a maior parte das consequências.
Nós já estamos vendo os impactos da emergência climática no Brasil e no mundo, com secas, enchentes e ondas de calor mais fortes, furacões, tufões e queimadas mais perigosas, afetando milhões de pessoas. É urgente que a Convenção de Biodiversidade da ONU tome medidas tangíveis e efetivas para proteger o nosso planeta e assegurar que aqueles que a protegem mais – e são mais ameaçados por isso – tenham seus direitos garantidos e respeitados.
Este texto foi originalmente publicado pelo Greenpeace Brasil de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.