Certificação BCI: uma forma sustentável de produzir algodão

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Certificação BCI, ou melhor dizendo, certificação Better Cotton Initiative (traduzido do inglês: Iniciativa por um Algodão Melhor), é uma organização sem fins lucrativos que começou em 2005, numa mesa-redonda da ONG World Wildlife Fund (WWF). Reunindo produtores, beneficiadores, comerciantes, fabricantes, varejistas e organizações da sociedade civil em uma parceria global, a certificação BCI tem como objetivo garantir um futuro mais sustentável para o setor de produção de algodão.

Implementada no Brasil pela Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa), com o apoio de suas associações estaduais e da Fundação Solidaridad, a certificação BCI tem como meta de longo prazo implantar seus princípios e critérios na produção algodoeira mundial, como já vem ocorrendo em alguns países produtores.

Princípios

1. Minimizar os impactos prejudiciais das práticas de proteção à cultura de algodão

Dentro deste princípio, a certificação BCI estabelece que o produtor de algodão precisa adotar um programa de manejo de pragas. Esse manejo deve prezar por uma lavoura saudável, que se desenvolva de maneira preventiva ao ataque de pragas. A prevenção deve ocorrer por meio de aprimoramento de populações de insetos benéficos, vistorias regulares a campo e manejo da resistência.

Os defensivos utilizados devem ser registrados no país, rotulados corretamente no idioma nacional e estarem fora da lista de defensivos nocivos da Convenção de Estocolmo, que determina a descontinuação da produção e utilização de Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs). Para saber mais sobre esse assunto confira nossa matéria: “O perigo dos POPs“.

Ainda nesse princípio, a certificação BCI estabelece que os defensivos permitidos para a utilização (dentro da certificação BCI) devam ser aplicados por pessoas saudáveis, capacitadas e treinadas para a aplicação de defensivos; maiores de 18 anos e que não estejam grávidas nem amamentando.

2. Utilizar a água de maneira eficiente e zelar por sua disponibilidade

Neste princípio, a certificação BCI determina que o produtor adote práticas de manejo que otimizem o uso da água.

3. Cuidar da saúde do solo

O princípio número três da certificação Better Cotton Initiative determina que os produtores de algodão adotem boas práticas de manejo a fim de manter ou incrementar a estrutura e fertilidade do solo. E para isso ocorrer, a certificação estabelece que os nutrientes precisam ser aplicados conforme a necessidade do solo, da cultura e da época. Devem ser otimizados o modo de aplicação e a dosagem. E as práticas de manejo devem minimizar a erosão e conter a movimentação do solo, a fim de proteger fontes de água potável e outros cursos d’água contra o escoamento de superfície.

4. Conservar os habitats naturais

A utilização e conversão de terras para a cotonicultura devem estar em conformidade com a legislação nacional relacionada ao uso de terras agrícolas.

Para conservar os habitats naturais, a certificação BCI estabelece que sejam adotadas práticas que aumentem a biodiversidade na propriedade do produtor de algodão ou em seu entorno.

5. Zelar e preservar a qualidade da fibra

O algodão em caroço deve ser colhido, manuseado e armazenado de modo a minimizar impurezas, danos e contaminações.

6. Promover relações justas de trabalho

Este princípio estabelece que a produção de algodão deve prezar pela liberdade de associação, isso significa que os pequenos agricultores (incluindo arrendatários, meeiros e outras categorias) têm o direito, em caráter voluntário, de estabelecer e desenvolver organizações de acordo com seus interesses.

A produção com certificação BCI, de acordo com a Convenção 138 da OIT, proíbe qualquer trabalho infantil.

Para trabalhos perigosos, a idade mínima estabelecida é de 18 anos.

E o emprego deve ser escolhido livremente, nenhuma mão-de-obra deve ser compulsória ou forçada, isso inclui mão-de-obra traficada ou escrava para pagamento de dívidas.

O que faz um produtor ser parte da Better Cotton Initiative?

Para implementar o sistema de certificação BCI em sua produção, o produtor precisa, primeiramente, participar de uma palestra de conscientização e receber um treinamento para preencher um formulário de autoavaliação. Essa atividade, que pode ser feita individualmente ou em grupo (no caso dos pequenos produtores), permite que o(s) produtor(es) componha(m) um diagnóstico inicial da propriedade.

O produtor, individualmente ou em grupo de aprendizagem, recebe apoio técnico para coletar os dados sobre seu sistema de produção. Para isso, ele pode utilizar um livro de campo ou um sistema automatizado onde anotará as informações necessárias.

Baseado nas necessidades e valores de referência escolhidos durante a autoavaliação, o produtor participa de um programa de apoio para ajudar no cumprimento dos critérios mínimos e nos requisitos de progresso.

Em conjunto com as equipes da Abrapa, BCI e Solidaridad (pequenos), verificam o cumprimento dos critérios mínimos e os de progresso (para os que estão no segundo ano de implantação). Os produtores são orientados a coletar e acompanhar indicadores que mostrarão ao longo do tempo o avanço do tripé da sustentabilidade na propriedade.

Caso ainda não consiga cumprir todos os critérios mínimos, o produtor terá disponível um plano de apoio e desenvolvimento para que, num prazo curto, possa se ajustar.

Os produtores recebem uma verificação independente para conferir o cumprimento dos critérios mínimos e, a partir do segundo ano de implantação, dos requisitos de progresso. Então a auditoria encaminha um relatório sobre a propriedade para o BCI.

As propriedades são aprovadas pelo coordenador regional da BCI com base na análise das três etapas: auto-avaliação, verificação de 2ª Parte e verificação independente. O produtor então recebe o licenciamento para vender o algodão BCI.

Benefícios

A produção de algodão é responsável pela sobrevivência de mais de 100 milhões de produtores no mundo todo e por milhares no Brasil.

Outras centenas de milhares de trabalhadores dependem do algodão nos diversos elos da cadeia têxtil.

Além da fibra, o algodão gera importantes subprodutos, como óleo, biodiesel, farelo para alimentação animal e outros.

No ramo têxtil, o algodão tem se mostrado uma das alternativas mais sustentáveis para a produção de tecidos, principalmente o algodão orgânico. Isso também porque os tecidos de algodão são biodegradáveis e, diferentemente das fibras sintéticas, não soltam microplástico durante seu consumo. Para saber mais sobre esse tema confira nossa matéria: “Impactos ambientais das fibras têxteis e alternativas“. Confira também a matéria: “Lavar roupa libera microplásticos?“.

Outra vantagem é que a adoção de melhores práticas de manejo reverte em uma melhor rentabilidade e produtividade para o agricultor. Ao mesmo tempo, o sistema Better Cotton tende a aprimorar a qualidade do algodão e da fibra, pois reduz a contaminação e estimula o produtor em investir em métodos mais avançados. Além disso, à medida que toda a cadeia do algodão demonstre seu compromisso com práticas mais sustentáveis de produção, a ampla adoção de práticas de melhoria da gestão e uma maior segurança na cadeia de fornecimento vão garantir uma melhor reputação para produtores, indústrias, varejo e organizações ligadas ao setor têxtil.

Equipe eCycle

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