O show tem que continuar? Morte de fã de Taylor Swift acende debate sobre eventos enquanto a Terra ferve

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A morte de Ana Clara Benevides, de 23 anos, durante um show de Taylor Swift, realizado em meio a uma onda de calor no Rio de Janeiro, acende um alerta para os perigos do calor extremo e questiona como os eventos musicais se adaptarão à era da ebulição global. Com temperaturas atingindo 39,1°C, mais de 60.000 pessoas lotaram o Estádio Olímpico Nilton Santos para o aguardado show da cantora.

Depois de enfrentar horas de espera sob o sol escaldante, os espectadores se depararam com condições sufocantes dentro do local. “Nunca tinha experimentado nada parecido”, relata Natália Cordeiro, advogada de 29 anos. “Parecia um forno.”

Ver Swift ao vivo era um “sonho de adolescente que se tornou realidade” para Cordeiro, mas as condições adversas dificultaram a experiência do show. “Durante minhas músicas favoritas, eu me divertia, pulava, cantava, mas tinha uma sensação de falta de ar”, acrescenta ela.

Pelo menos 1.000 pessoas desmaiaram, e um vídeo mostrou Swift aparentemente lutando para respirar no palco. Ana Clara Benevides, de 23 anos, desmaiou durante a apresentação e morreu pouco depois no hospital. Uma autópsia preliminar indicou pequenas hemorragias pulmonares, mas as autoridades afirmaram ser cedo para determinar se calor e desidratação foram a causa.

As autoridades brasileiras responderam imediatamente, emitindo regras de emergência para permitir a entrada de água nos locais de concerto. No entanto, as críticas recaem sobre os organizadores do evento, Time For Fun, por aparentemente não adaptarem o evento às condições climáticas.

Telas cobrindo aberturas de ventilação, gramado coberto com folhas de metal sob o sol escaldante, proibição de trazer comida e água, e copos caros e difíceis de obter dentro do local são fatores que levantam questões sobre a responsabilidade dos organizadores. Mesmo com as condições perigosas, a pirotecnia foi mantida durante a apresentação, criando uma experiência infernal para o público.

Em resposta às críticas, o CEO da Time For Fun, Serafim Abreu, reconheceu a possibilidade de terem tomado medidas adicionais em resposta ao calor e pediu desculpas aos frequentadores do show. Expressou “devastação” pela morte de Benevides e ofereceu assistência à família.

Anita Carvalho, diretora da Academia Music Rio, afirma que a indústria do entretenimento deve aceitar que o show nem sempre pode continuar em condições extremas. “O produtor deveria ter adiado ou cancelado, pois era evidente que ninguém estava preparado para este tipo de calor”, destaca ela.

Carvalho acredita que este evento será um divisor de águas para a indústria de eventos, obrigando-a a repensar suas práticas em face das mudanças climáticas. Nathalia Valladares, frequentadora ávida de shows, também acredita que os fãs terão que se adaptar às novas realidades climáticas ao esperar por horas nas filas.

A geógrafa Nubia Armond espera que a intensidade da onda de calor no Brasil sirva como um alerta sobre os perigos das altas temperaturas, destacando a possível influência das mudanças climáticas nesses eventos extremos.

Este trágico incidente no Brasil não é isolado, já que outros eventos na América do Sul e nos EUA enfrentaram desafios semelhantes. A responsabilidade das estrelas pop, como Swift, em abordar questões climáticas também está em pauta, especialmente quando seus próprios estilos de vida podem contribuir para o problema.

“As alterações climáticas não afetam apenas aspectos abstratos da nossa vida”, destaca Armond. “Nossas atividades de lazer, como exercícios, mas também música ao vivo, são afetadas.” A indústria do entretenimento deve agora enfrentar a realidade de que, em certas condições, o show não pode continuar.

Fonte: The Guardian

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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