Situação é crítica. Relatório descreve inadequação dos métodos de estudo atuais para compreender a totalidade do problema
Imagem: Vincent Kneefe
Um novo relatório da International Union for Conservancy of Nature (União Internacional para Conservação da Natureza – IUCN, na sigla em inglês) denominado Explaining ocean warming: causes, scale, effects and consequences (Explicando o aquecimento global: causas, escala, efeitos e consequências – em tradução livre) estabelece a mais recente e inteligível revisão até o presente momento sobre o assunto e mostra uma história complexa de mudanças no oceano. Essas alterações estão em andamento e, mesmo desconhecidas por muitas décadas, já começaram a impactar a vida das pessoas. Não se trata de um único caso sobre aquecimento das águas do mar desafiando recifes de corais, mas uma lista que cresce cada vez mais de mudanças em diversas espécies e em grande escala. É uma mudança generalizada, impulsionada pelo aquecimento dos oceanos e por outros estressores que já operam de maneiras que estamos apenas começando a entender.
O aquecimento dos oceanos pode muito bem vir a ser o maior desafio oculto da nossa geração. Mais de 93% do aquecimento de temperatura decorrente da atividade humana, desde os anos 1970, tem sido absorvida pelo oceano, e os dados mostram uma tendência ainda maior nesse sentido, acelerando o aquecimento dos oceanos. A escala do aquecimento representada no relatório é verdadeiramente impressionante: se a mesma quantidade de calor que foi para os dois quilômetros mais superficiais dos mares entre 1955 e 2010 tivesse ido para os os dez quilômetros mais baixos da atmosfera, a Terra teria tido um aquecimento de 36°C.
Compilado para IUCN por 80 cientistas de 12 países , o relatório explora os impactos do aquecimento do oceano sobre ecossistemas e espécies, e sobre os benefícios diários oriundos do oceano – os seus “produtos e serviços “.
Grandes mudanças causadas pelo aquecimento dos oceanos e por outros estressores descritas no relatório incluem impactos sobre ecossistemas inteiros, de regiões polares a tropicais. O documento previu também: o aumento ainda maior da escala de aquecimento, alargando-se do litoral acessível às profundidades dos mares; a condução de grupos inteiros de espécies como plâncton, medusas, peixes, tartarugas e aves marinhas por até dez graus de latitude em direção aos polos da Terra para se manterem em condições ambientais razoáveis; a perda de terreno fértil para grupos como as tartarugas e aves marinhas, e impactos sobre o sucesso reprodutivo de aves e de mamíferos marinhos; e as mudanças sazonais de plâncton, levando a uma potencial incompatibilidade entre espécies de plâncton, de peixes e de outros animais marinhos.
Sabemos agora que as mudanças no oceano estão acontecendo entre 1,5 e 5 vezes mais rapidamente do que aquelas em terra. Tais mudanças são potencialmente irreversíveis, com grandes impactos sobre os ecossistemas. Qual será o resultado disso em algumas décadas? É uma incógnita. Trata-se de um experimento em que, em vez de sermos um observador casual no laboratório, colocamo-nos inadvertidamente no interior do tubo de ensaio.
O relatório também descreve a inadequação de conhecimentos atuais, recursos técnicos e capacidade para estudar adequadamente o aquecimento dos oceanos, e até para aconselhar e lidar com os desafios associados. A comunidade global está comprometendo-se cada vez mais com um futuro de alto carbono, e está mal equipada para entendê-lo e muito menos enfrentá-lo. Os impactos já estão ultrapassando o que é totalmente compreendido e a capacidade da comunidade global em agir.
O mundo, talvez distraído pelo barulho das questões diárias em terra, foi ignorando o impacto da mudança climática no maior espaço de vida no planeta – o oceano. O oceano está no coração do sistema climático, e agora deve estar no centro das discussões climáticas. Por meio da implementação do Acordo de Paris no âmbito da UNFCCC, as partes devem agora considerar impactos ao oceano nas chamadas “contribuições determinada a nível nacional” (CND), descrevendo os esforços nacionais para um futuro de baixo carbono sustentável. É uma questão urgente e fundamental abordar o CO2 atmosférico – a causa raiz desses e de tantos outros problemas – e alcançar reduções rápidas e significativas.
O relatório foi lançado no Congresso Mundial de Conservação, um momento chave para pressionar com urgência que tais reduções sejam atingidas com a maior rapidez possível. Devemos refletir que estamos tratando de uma tendência de aquecimento preocupante no oceano, o único oceano que temos, no único mundo que conhecemos, repleto de vida. Agora é o momento de ser prudente e agir.
Fonte: IUCN
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