A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS) tem alertado a população global para o perigo dos conflitos de interesse relacionados às pesquisas científicas de nutrição financiadas por indústrias alimentícias.
Segundo o assessor regional em nutrição e atividade física da OPAS/OMS, Fábio Gomes, esse tema era tabu até bem pouco tempo atrás. “As pessoas falavam disso com a cabeça baixa. Discutir conflito de interesses parecia coisa de extraterrestres”, disse em 27 de outubro, durante o XXIV Congresso Brasileiro de Nutrição, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
De acordo com o assessor da OPAS/OMS, há casos de pesquisas científicas financiadas pela indústria que distorcem completamente os resultados. “Por meio de diversos estudos, a indústria tenta causar uma cegueira na população. Um deles atrasou em mais de 30 anos nossa noção sobre os males causados pelo açúcar. Buscamos identificar exatamente como essas distorções se dão em cada caso e como podem afetar as práticas profissionais e as políticas públicas”, afirmou Gomes.
O conflito de interesses é uma situação gerada pelo confronto entre interesses públicos e privados, que comprometem o interesse coletivo ou influenciam, de maneira imprópria, o desempenho da função pública.
No caso da nutrição, esse conflito ocorre entre os interesses de agentes econômicos que atuam de forma direta ou indireta na área e têm como objetivo o lucro. “Se o seu objetivo é vender refrigerante e o meu é reduzir o consumo de bebidas açucaradas, não podemos estabelecer uma parceria”, explicou Inês Rugani, coordenadora do grupo temático alimentação e nutrição em saúde coletiva da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
Ela lembrou que o Guia Alimentar para a População Brasileira, feito pelo Ministério da Saúde com apoio técnico da OPAS/OMS para dar dicas de alimentação saudável, foi alvo desses agentes econômicos. “Tivemos uma forte pressão da indústria quando o Guia Alimentar estava prestes a ser publicado. Existe uma prática muito clara de dificultar medidas regulatórias que firam seus interesses”, avaliou Inês.
O papel da OPAS/OMS nesse contexto é fornecer recomendações de políticas baseadas em evidências para seus Estados-membros, difundindo exemplos de boas práticas, incentivando o compromisso político e liderando a ação internacional.
O manejo adequado de conflitos de interesses também é necessário, e a OPAS/OMS está empenhada em ajudar com ferramentas práticas, baseadas nas experiências dos países e em resultados de consultas, como a realizada em outubro de 2015, em Genebra, na Suíça, e publicada no relatório técnico “Resolvendo e Administrando Conflitos de Interesse no Planejamento e Entregas de Programas de Nutrição no Nível Nacional”.
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