O micélio é nome que se dá ao conjunto de hifas de fungos multicelulares. Cada hifa é um filamento microscópico. O micélio auxilia vegetais na sustentação e absorção de nutrientes e se desenvolve no interior do substrato.
O micologista estadunidense Paul Stamets, que trabalha investigando fungos há mais de 40 anos, acredita que os micélios podem trazer soluções para, literalmente, salvar o mundo. Segundo o cientista, eles podem limpar solo poluído, atuar como biopesticidas, tratar varíola e até a gripe.
Stamets chama o micélio de “a internet da natureza” devido à rede que eles formam debaixo da terra – segundo o cientista, ela é capaz de auxiliar vegetais na busca por água.
O pesquisador acredita tanto no poder dos fungos que fundou a empresa Fungi Perfecti, que oferece diversos produtos feitos a partir dessa maravilha da natureza. Além disso, ele é detentor de diversas patentes relacionadas ao uso de fungos.
A menina dos olhos de Stamets é o micélio. Segundo o micologista, os fungos têm a capacidade de realizarem tarefas incríveis que a maioria das pessoas pode considerar impossível sem o auxílio da tecnologia. Em palestra feita no TED, o micologista cita seis motivos pelos quais o micélio poderia ajudar a salvar o mundo. Elas são:
De acordo com o especialista, os fungos chamados de entomopatogênicos, em sua fase de pré-esporulação (preconidial), atraem os insetos. Os cogumelos têm o poder de controlar cerca de 200 mil espécies de insetos e pragas, protegendo permanentemente as plantações. O fungo pode ser cultivado em grãos, madeiras, resíduos agrícolas ou outros materiais celulósicos, atraindo insetos. Mais de um fungo e substrato podem ser usados em combinação. Aí os insetos os ingerem e são transformados também em fungos. Como diz Stamets em palestra feita ao TED, “E então, uma delicada dança entre jantar e morte, o micélio [fungo] é consumido pelas formigas, elas são mumificadas e… Um cogumelo brota de suas cabeças“. Os pesticidas tradicionais oferecem diversos riscos ao meio ambiente e à saúde humana. Por isso, os biopesticidas são uma alternativa importante para evitar esses danos de maneira sustentável.
Esses micopesticidas são úteis não apenas para a agricultura, mas também para o controle de doenças. Esse ciclo protetor poderia, por exemplo, eliminar mosquitos vetores da dengue ou da malária.
A partir de micélio do cogumelo medicinal, extratos e derivados, são produzidos compostos que têm propriedades antivirais e antibacterianas. As composições são derivadas de diversas variedades de cogumelos, como: Fomitopsis, Piptoporus, lucidum, Inonotus, Trametes, Pleurotus, entre outras. Esses compostos são úteis na prevenção e tratamento de vírus, incluindo os vírus poxviridae e orthopox, vírus da gripe, incluindo a gripe das aves (H5N1), a síndrome respiratória aguda grave (SARS) e hepatite C (VHC), bem como infecções provocadas por Mycobacterium tuberculosis, Staphylococcus aureus e Escherichia coli.
Stamets descobriu que os fungos têm propriedades que podem nos auxiliar em um grande problema atual: a poluição. Os fungos são úteis para preservar e melhorar os habitats; ajudam na biorremediação de resíduos tóxicos e locais poluídos; filtram produtos agrícolas, minas e escoamentos urbanos; melhoraram rendimentos agrícolas e controlam organismos biológicos. Em uma experiência em parceria com os Laboratórios Battele, Stamets pôde comprovar os efeitos do micélio em pilhas saturadas com diesel e com outros resíduos oriundos do petróleo. O micélio absorveu o óleo e produziu enzimas de peroxidases que quebram as ligações de carbono e hidrogênio. Assim, diversos cogumelos cresceram e as enzimas transformaram os hidrocarbonetos em carboidratos – açúcares fúngicos.
Cogumelos crescem extremamente rápido… Às vezes eles parecem brotar de um dia pro outro. A utilização dos fungos para produzir econol poderia substituir a maioria dos combustíveis à base de recursos não renováveis e poluentes, como o petróleo. Paul Stamets propõe a geração de celulose a partir de micélio. O micélio converte a celulose em açúcares fúngicos. Sua utilização seria uma alternativa para resolver a crise energética. O pesquisador aponta o econol como uma versão mais viável economicamente do etanol. Os cogumelos poderiam surgir de lixo orgânico. O micélio seria um intermediário na produção do econol.
O micologista explica como micélios oferecem formas para combater a fome mundial. Não apenas como fonte de alimento, mas também melhorando o cultivo de outras plantas. Quando plantas crescem em conjunto com micélios em suas raízes, elas crescem mais fortes mesmo sob condições adversas. Eles fornecem resistência ao calor, maior absorção de água e nutrientes. Assim, as plantas se tornam mais resistentes à seca. Com a utilização desses fungos, seria possível cultivar arroz, milho e outras gramíneas em climas áridos.
Uma das invenções do micologista é o uso de extratos de micélios de espécies de fungos para proporcionar um arsenal de defesas para as abelhinhas. O extrato influenciaria em vários fatores de estresse, de modo a ajudar as abelhas a sobreviver e a enfrentar os sintomas da desordem do colapso da colônia (CCD). Os fungos funcionariam como uma espécie de escudo, oferecendo a melhoria das condições de saúde, resistência a doenças, tolerância aos pesticidas, aumento da capacidade de polinização e, consequentemente, melhoria da qualidade do mel produzido.
Saiba mais na palestra que Paul Stamets fez para o TED (legendas em português).
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