As negociações climáticas da ONU na COP29 avançam de forma turbulenta, com países em desenvolvimento avaliando se devem aceitar um acordo financeiro considerado insuficiente para lidar com os impactos da crise climática. Organizações da sociedade civil pedem que essas nações rejeitem o que chamam de “acordo ruim”, enquanto o cenário revela a persistente disparidade entre os países ricos e pobres no enfrentamento do colapso climático.
O impasse financeiro tornou-se o centro das discussões. Um rascunho do acordo propõe um financiamento anual de US$ 1,3 trilhão até 2035, mas a quantia inclui camadas de recursos que dependem de investimentos privados, comércio de carbono e impostos sobre atividades de alto carbono. A oferta inicial de US$ 250 bilhões anuais, diretamente de países ricos, foi vista como “insultuosa” por representantes de pequenas nações insulares e grupos ambientalistas, que defendem doações públicas em maior volume.
A transição para economias de baixo carbono e a adaptação às mudanças climáticas requerem aportes mais substanciais, especialmente para países em maior vulnerabilidade. O financiamento oferecido, descrito por lideranças africanas como desrespeitoso às populações na linha de frente da crise, não atende à urgência de limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais. Sem garantias adequadas, o valor proposto se distancia de uma solução efetiva.
As críticas não pouparam a presidência do Azerbaijão nas negociações. Representantes de diversas nações argumentaram que compromissos firmados em edições anteriores, como a transição dos combustíveis fósseis, foram minimizados ou ignorados nos textos apresentados. A Arábia Saudita, acusada de tentar reverter avanços no debate energético, intensificou as tensões.
Entre os países desenvolvidos, o discurso é marcado por uma tentativa de equilibrar demandas climáticas e crises internas. Altos índices de inflação, conflitos geopolíticos e dificuldades orçamentárias foram usados como justificativas para limitar a expansão de fundos públicos. Steven Guilbeault, ministro do clima do Canadá, declarou que alcançar trilhões de dólares em recursos exclusivamente públicos seria inviável, destacando a necessidade de mobilizar novas formas de financiamento.
Enquanto isso, ativistas pressionam por números mais expressivos, que reflitam a responsabilidade histórica dos países ricos na degradação ambiental. Sugestões de valores entre US$ 5 trilhões e US$ 7 trilhões anuais foram levantadas como alternativas à proposta atual, considerada insuficiente para compensar os danos causados pelos maiores emissores de carbono.
A frustração permeia os debates. Líderes de organizações ambientais denunciam as promessas vazias e soluções superficiais. O desacordo generalizado ameaça a conclusão da cúpula, prevista inicialmente para sexta-feira. Um novo rascunho do texto está sendo aguardado com expectativa, mas as chances de uma resolução consensual permanecem incertas.
Enquanto as negociações se arrastam, o que está em jogo vai além de números e parágrafos. Trata-se do futuro de milhões de pessoas afetadas diariamente pelas mudanças climáticas. Os desdobramentos das próximas horas podem determinar se a COP29 será lembrada como um marco para a justiça climática ou como mais um capítulo de inação global.
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