Por Mapbiomas | A análise de imagens de satélite captadas entre 1985 e 2021 por uma rede colaborativa de especialistas da Argentina, Brasil e Uruguai, sob coordenação do MapBiomas, mostra que o Pampa Sul-Americano perdeu 20% de sua vegetação campestre no período, incluindo 8,7 milhões de hectares de campos nativos e 260 mil hectares de florestas. Os dados sobre as transformações deste bioma, que se estende por mais de um milhão de quilômetros quadrados entre Brasil, Argentina e Uruguai, ocupando 6,1% da América do Sul, foram divulgados dia 14 de dezembro pelos pesquisadores. A nova coleção de mapas anuais de cobertura e uso da terra é a mais completa já elaborada para o bioma. A coleção anterior, lançada no ano passado, limitou-se ao período 2000-2019.
A vegetação nativa cobre agora menos da metade do Pampa (48,4%). A maior parte dela corresponde à vegetação campestre (32%), tradicionalmente utilizada para a pecuária. Trata-se de um caso singular em que a produção animal e a conservação da biodiversidade geralmente integram sistemas produtivos com notável sustentabilidade ambiental. Apesar disso, quase metade (47,2%) da região foi substituída por agricultura, pastagens plantadas ou floresta. As áreas de agricultura e silvicultura aumentaram 15,3% no período, o que significa cerca de 6,8 milhões de hectares. Em área, o avanço da silvicultura foi menor: 2,2 milhões de hectares. Mas isso representou um crescimento de 363%. Já a vegetação campestre nativa, que é a vocação natural do bioma, caiu de 44 milhões de hectares em 1985 para 35,3 milhões de hectares em 2021.
“Várias pesquisas científicas indicam que o Pampa Sul-americano é um dos biomas menos protegidos e mais ameaçados do continente, exatamente por conta das grandes taxas de transformação na cobertura e uso da terra e os baixos níveis de conservação de seus ecossistemas naturais”, explica Eduardo Vélez, equipe MapBiomas Pampa. Apesar de que em 1985, quando inicia o período mapeado, pelo menos metade dele já estivesse ocupado por atividades humanas, como agricultura, pecuária, silvicultura e áreas urbanas, já que estamos falando de uma região densamente ocupada e que abriga grandes cidades, como Buenos Aires e Montevidéu, as transformações nos últimos 37 anos alteraram drasticamente a paisagem. As consequências disso são ruins para a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, além de comprometer o potencial regional de produzir carne de modo sustentável, em escala, a partir da vegetação campestre típica do bioma.
O país que teve a maior perda proporcional de vegetação campestre foi o Brasil, com 3,2 milhões de hectares – o equivalente a 65 vezes a área do município de Porto Alegre (RS). Trata-se de uma perda de 34% da área existente em 1985 em apenas 37 anos. O principal vetor dessa mudança é a expansão das áreas agrícolas para o plantio de soja. O uso agrícola do solo aumentou 2,6 milhões de hectares entre 1985 e 2021. A silvicultura, por sua vez, expandiu seu território em mais de 700 mil hectares nesse período – um aumento de 1.640%. Em 1985, a área total ocupada pelos campos era de 9,4 milhões de hectares e passou para 62,2 milhões de hectares em 2021.
Em termos absolutos, no entanto, as maiores perdas de vegetação campestre foram na Argentina: 3,5 milhões de hectares – o mesmo que 173 vezes a cidade de Buenos Aires. Foi uma perda de 16% da área em 37 anos. Em 1985, eram 22,6 milhões de hectares; em 2021, 19,1 milhões. Assim como no Brasil, o principal vetor foi a expansão das áreas de agricultura e das pastagens com espécies exóticas. O uso agrícola do solo aumentou em 1 milhão de hectares. A silvicultura, por sua vez, aumentou mais de 340 mil hectares entre 1985 e 2021.
No Uruguai, a perda dos campos também foi considerável: 2 milhões de hectares, ou 38 vezes o departamento de Montevidéu. Foi uma queda de 17% em relação à área total de 1985, sendo um efeito combinado do avanço da agricultura e da silvicultura. Somente o uso agrícola do solo aumentou 30% entre 1985 e 2021, passando de 3,3 milhões de hectares para 4,3 milhões de hectares. Mas a grande mudança, em termos percentuais, se deu na silvicultura, que expandiu sua área em 625%, passando de 180 mil hectares em 1985 para 1,3 milhão de hectares em 2021.
O Pampa Sul-americano abrange a metade sul do Rio Grande do Sul, todo o Uruguai e parte da Argentina, ao sul do Rio da Prata. Trata-se de uma região com ocupação antrópica bastante antiga e que abriga três grandes metrópoles (Buenos Aires, Montevidéu e Porto Alegre).
A biodiversidade do Pampa se caracteriza pelo predomínio da vegetação nativa herbácea, denominada de vegetação campestre, sendo que as florestas, embora presentes, ocupam naturalmente uma menor proporção. O clima da região varia de subtropical a temperado, com estacionalidade térmica pronunciada (invernos frios e verões quentes) e sem estação seca (a chuva ocorre em todos os meses do ano).
Por conta da oferta natural de recursos forrageiros da vegetação campestre abundante, a produção de gado de corte foi a atividade econômica característica da região nos primeiros séculos da colonização europeia, com forte influência sobre os costumes e a cultura regional. Entretanto, desde o século XX, o bioma vem sofrendo profundas transformações no uso da terra, especialmente pelo avanço da agricultura de grãos e, mais recentemente, pela silvicultura. Em função disso, seus ecossistemas estão entre os menos protegidos e mais ameaçados do continente.
Com resolução de 30 por 30 metros e 8 classes na legenda, a Coleção 2 do MapBiomas Pampa Sul-Americano (1985-2021) abrange 108,9 milhões de hectares do bioma que ocupa 6,1% da América do Sul. A plataforma pode ser acessada em pampa.mapbiomas.org. As coleções do MapBiomas estão em contínuo desenvolvimento e aprimoramento. Os pesquisadores do Pampa Sul-americano, que recém-finalizaram a nova coleção ampliada e atualizada, já se debruçam sobre melhorias e novidades para novas versões.
O MapBiomas Pampa Trinacional https://pampa.mapbiomas.org/ é uma iniciativa que envolve uma rede colaborativa de especialistas da Argentina (Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria-INTA, Universidad Nacional de San Luis, Universidad de Buenos Aires e a ONG Fundación Vida Silvestre Argentina), Brasil (Universidade Federal do Rio Grande do Sul e GeoKarten) e Uruguai (Faculdade de Agronomia e Faculdade de Ciências da Universidad de la República, Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria-INIA e Ministério do Ambiente). O projeto utiliza imagens de satélite Landsat (30 x 30 metros de resolução) e computação em nuvem por meio da plataforma Google Earth Engine (GEE) para produzir mapas anuais de cobertura e uso da terra com alta tecnologia e baixo custo. A iniciativa faz parte da Rede MapBiomas, iniciada em 2015 com o MapBiomas Brasil (mapbiomas.org).
Este texto foi originalmente publicado peloMapBiomas de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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