A exposição conversa diretamente com a problemática dos resíduos sólidos, sem pretensão de ser solução para o descarte
A arte de confeccionar tapetes pode transformar materiais descartados em retratos de vida, contando histórias individuais e coletivas com retalhos coloridos, expressando alegria e dor, frustração e esperança… Há milênios artesãos de variadas culturas tecem tapetes de muitos tipos entrelaçando fios e palavras. Tapetes que adornam palácios e mosteiros, tapetes destinados a momentos de devoção e oração e outros que se denominam tapeçarias, cobrindo paredes. A exposição conversa diretamente com a problemática dos resíduos sólidos, sem pretensão de ser solução para o descarte.
Um breve histórico sobre a Arte de costurar Arpilleras
Em terras latino-americanas denotam-se as Arpilleras, técnicas têxteis de tapeçarias tridimensionais que reaproveitam retalhos conferindo-lhes amplos sentidos. Apliques de pano costurados sobre tecido rústico, retratando cenas da vida cotidiana e sentimentos universais.
Bordadeiras de Isla Negra, no litoral chileno, seguem há anos essa antiga tradição popular. O termo “Arpillera” vem do castelhano e significa tecido grosso e áspero fabricado com cânhamo ou juta, utilizado na confecção de sacos. Como forma de registrar experiências vividas em comunidade, afirmando sua identidade, as arpilleras se converteram em um meio de expressão individual e coletiva e em uma fonte de sobrevivência em tempos difíceis.
Durante a ditadura militar de Augusto Pinochet, iniciada em 1973, as oficinas de arpilleras se espalharam por todo o país. Foram transformadas em uma das principais ferramentas de denúncia das atrocidades do governo, contadas por meio dos tapetes.
Por meio das arpilleras, as mulheres chilenas, mães e esposas dos desaparecidos, romperam o código de silêncio imposto pela repressão e, apesar da dor, levaram adiante, com força e perseverança, a luta pela verdade, dignidade e pela justiça.
Em vez de espadas e armas de fogo lançaram mão de agulhas e linhas bordando suas tristes histórias, sobre sacos de batatas, costurando com retalhos das roupas dos desaparecidos, denunciando injustiças, clamando por socorro, de forma não violenta. Ao se retratarem fizeram parte, gerando espaços de socialização, fraternidade, diálogo, ação e reflexão, contribuindo de forma contundente à resistência. Atualmente essa arte “arpilleras” está difundida pelo mundo afora.
“De forma coletiva temos bordado imagens que clamam pela paz, por direitos humanos, pela sustentabilidade da Mãe Terra, pelo sagrado feminino, pela água, pela infância… Alimentados pelo generoso legado das arpilleristas chilenas promovemos o diálogo e a partilha, em busca de caminhos auspiciosos para cada um de nós e para a coletividade”.
(Maria Cecília Martin Ferri – Fonoaudióloga responsável pela Oficina “Mãos que tecem… Vozes que clamam”)
Uma breve contextualização sobre Resíduos Têxteis
As indústrias de confecção descartam uma enorme quantidade de sobras de tecidos e outros insumos resultantes de suas produções em grande escala e esse descarte acaba por sobrecarregar os aterros sanitários que já estão com suas capacidades comprometidas pelo excesso de resíduos sólidos a eles enviados.
Os retalhos, quando limpos e selecionados, são passíveis de reciclagem e reaproveitamento. No entanto eles ainda são descartados no lixo comum. É estimado que 170 mil toneladas de resíduos têxteis sejam geradas, por ano, no Brasil. Destes, pelo menos 40% são reprocessados por empresas recicladoras e os outros 60% descartados em aterros sanitários.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável/ODS – são uma agenda para equilibrar a prosperidade humana com a proteção do planeta. O ODS 12 – Consumo e Produção Responsáveis, tem como meta alcançar a gestão sustentável e uso eficiente dos recursos naturais, reduzindo significativamente a liberação de resíduos para o ar, água e solo, minimizando seus impactos negativos sobre a saúde humana e do meio ambiente. Neste objetivo, também estão incluídos o cuidado com resíduos sólidos e a diminuição da emissão de poluentes.
Expositores:
- Alunos das oficinas e técnicas da Umapaz , sob orientação de Maria Cecilia Martin Ferri e Eliane Bosio.
Coordenação:
- Ieda Varejão
Serviço
- Evento: Exposição de tapeçaria com resíduos têxteis
- Data: 1 a 24 de outubro de 2018
- Horário: 9h às 18h
- Local: Sede da Umapaz
- Endereço: Parque Ibirapuera – Av. Quarto Centenário, 1268 – São Paulo/SP
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