Atividade de destaque no Brasil, pecuária gera externalidades negativas para pessoas e meio ambiente
A pecuária é uma atividade econômica que recebe destaque no Brasil. Contudo, ela é altamente danosa para o meio ambiente, contribuindo para o desmatamento e emissão dos gases de efeito estufa.
O que é uma atividade pecuária?
A atividade pecuária consiste na criação de animais para fins lucrativos e de consumo, praticada em sua ampla maioria nos meios rurais. Dela, é possível extrair por exemplo o leite, o ovo, os diferentes cortes de carne, couro e lã. Ela também está presente em diferentes indústrias, estando ligada aos alimentos consumidos pela população e à produção de roupas.
Pecuária é um modo de produção que representa uma grande ameaça ao meio ambiente. Por isso, é importante entender o significado dessa atividade, seus tipos e modos de produção, além da forma que foi implementada no Brasil, tornando o país um dos maiores produtores de carne do planeta.
O relatório do IPCC divulgado em abril de 2022 mostrou uma preocupação por parte dos cientistas climáticos em relação aos hábitos alimentares da população mundial. Segundo a comunidade de pesquisadores, o consumo de carne faz crescer a atividade pecuária, que, atualmente, é uma das indústrias mais poluentes e que promove o desmatamento. Nesse texto, iremos falar sobre o conceito da atividade pecuária, sua produção, seus tipos, impactos e a forma que foi implementada no Brasil.
Quais os tipos de pecuária e exemplos?
Nesse vasto setor econômico, existem diferentes tipos de classificação para a pecuária. Esses tipos são categorizados de acordo com a criação dos animais de origem da matéria-prima ou de acordo com a finalidade da matéria-prima coletada.
Na classificação de acordo com a criação, vamos ter a pecuária: bovina (bois e vacas), suína (porcos), caprina e ovina (cabras, bodes e ovelhas), equina (cavalo), muar (mulas), asinino (jumentos), bufalina (búfalos), avicultura (aves) e aquicultura (espécies aquáticas, como peixes).
A principal classificação, de acordo com a finalidade produtiva no Brasil, é a pecuária de corte, a qual foca a produção para alimentação, tendo sua produção concentrada na região do Cerrado e escoando grande parte da sua produção para o exterior.
Já a pecuária leiteira, concentrada em grande parte na região de Minas Gerais, é voltada para a produção de leite, que pode servir como produto final ou matéria-prima para a produção de queijos e manteigas.
Há também a pecuária de lã (ovinos e caprinos), que serve para a obtenção de lãs que terão como principais produtos as peças de roupas.
Quais são os modos de produção da pecuária?
Os principais modos de produção da pecuária se distinguem pela criação dos animais, das técnicas e tecnologias presentes e a extensão do lote de terra do empreendimento. Há dois modos de produção: a extensiva e a intensiva.
A pecuária extensiva responde pela produção feita em grandes lotes de terra, onde os animais ficam livres para pastar e circular. Neste modo, há pouca presença de tecnologia, além de um baixo aporte de dinheiro para a consolidação da produção e manutenção. Contudo, quando comparada à pecuária intensiva, ela apresenta um baixo nível de produtividade e pior qualidade, como carnes mais duras.
O modo intensivo de produção conta com a criação dos animais em confinamentos, com um alto custo em tecnologia, ambientação, alimentação, com veterinários, com intuito de melhorar a qualidade do produto final. Devido ao grande investimento, ela tem também uma alta produtividade.
Vale ressaltar que há outros variados modos de produção voltados para a sustentabilidade que geram menores pegadas de carbono e mantêm a produtividade das matérias-primas. Mas, ainda assim, afetam o meio ambiente.
No relatório do IPCC de 2022 há um reforço para a necessidade da população mundial mudar os hábitos alimentares, sobretudo substituir carnes e laticínios, que são dois produtos cuja produção mais degrada o meio ambiente. Então, novas alternativas são requeridas para diminuir o impacto no meio ambiente, como a agricultura celular ou sistemas agrossilvipastoris.
Quais os impactos ambientais da atividade pecuária?
A emissão de gases causadores do efeito estufa é um dos principais impactos ambientais da atividade pecuária. Além do grande desmatamento (que libera carbono presente nas plantas e animais mortos), os ruminantes, em seu processo digestivo, são responsáveis por liberar o metano, gás com grande potencial de aquecimento, cerca de 86 vezes mais potente que o CO2 em um período de 20 anos.
Estudos mostram que a pecuária é responsável pelas emissões de cerca de 14,5% de todas as emissões globais de gases de efeito estufa, sendo os principais gases o metano, dióxido de carbono e óxido nitroso. Os animais emitem os gases de efeito estufa pelo seu sistema digestivo, pelas fezes, e em toda cadeia produtiva após a extração da matéria-prima.
Há também um grande uso da água para a criação dos animais. Por grande parte da pecuária consumir grãos, ela demanda muita água e lotes de terra para o cultivo.
De acordo com estudos, a pecuária utiliza cerca de 20 a 33% do consumo de água no mundo.
Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), excluindo a água que abastece os grãos que alimentam a pecuária, esse setor representa cerca de 8% do consumo de água no Brasil, tendo um consumo de água virtual certamente muito maior que essa porcentagem.
Outro grande impacto desse setor é a grande demanda de uso de terra para se estabelecer. Segundo a FAO, 26% das terras não congeladas são usadas para pastagem de gado, enquanto 33% são usados para o cultivo de ração dos gados.
No Brasil
A criação de bovinos e a avicultura são os principais tipos da pecuária brasileira, sendo a carne bovina a maior preferência de produção onde, cada vez mais, há um crescimento na sua produção.
Esse destaque para a carne bovina pode ser entendida quando estudamos a história da ocupação do país. A criação de gadose intensificou no século XVIII, onde a região nordeste, e principalmente o extremo sul (região dos Pampas) eram os principais produtores.
Após a revolução verde no Brasil, na segunda metade do século XX, o campo brasileiro passou por um intenso processo de modernização, alavancado pelos governos militares, incentivando os grandes produtores do agronegócio a saírem das regiões de origem e seguirem em direção ao Centro-Oeste e posteriormente à região Norte do país.
Após esses incentivos, a pecuária no Brasil decolou, tornando o país um dos maiores exportadores de carne do mundo. Entretanto, o meio rural brasileiro acentuou um espaço de grande concentração de terras, diminuição do número de empregados, e um expressivo aumento da violência no campo e com um crescente desmatamento das regiões do Cerrado e da Amazônia.
Nesse sentido, hoje em dia, as principais regiões criadoras de rebanhos bovinos são a Centro-Oeste (tendo Mato Grosso o maior rebanho, criando cerca de 30 milhões de cabeças de gado), Sul, e Sudeste, enquanto a região Nordeste é a principal região de criação de caprinos e muares. Já a região Sul, se destaca pela produção de produtos vindos dos ovinos, suínos e da avicultura.
Então, por mais que tenhamos outras formas mais sustentáveis, os pecuaristas brasileiros ainda adotam uma metodologia muito agressiva ao meio ambiente, sendo responsável principalmente por desmatar grandes áreas para a criação de gado e plantio de seus alimentos, e gerar outras externalidades negativas como a grande emissão de gases do efeito estufa.