Conheça mais sobre o peixe-bruxa, uma espécie de vertebrado que não possui ossos
O termo peixe-bruxa é usado para descrever as mais de 70 espécies de vertebrados marinhos da classe Agnatha — designado para peixes sem mandíbulas. Embora a maioria das classificações coloque todos os peixes-bruxa na família Myxinidae, eles às vezes são divididos em duas famílias: Myxinidae, presente em todos os oceanos, e Eptatretidae, presente em todos os oceanos, exceto no Atlântico Norte.
Caracterizados por um corpo longo e com a ausência de escamas, os peixes-bruxa se parecem com enguias e habitam áreas de água gelada, em profundidades de cerca de 1.300 metros.
Dependendo da espécie, os animais atingem de 40 a 100 centímetros. A espécie maior, Eptatretus goliath, foi registrada com mais de um metro de comprimento.
Considerado em alguns países uma iguaria da culinária, o peixe-bruxa é um animal de extrema importância para o ecossistema marinho. Porém, a característica mais marcante do animal deriva de seu mecanismo de defesa — a habilidade de produzir “slime”, um tipo de lodo.
Características
Um vertebrado é normalmente definido como um animal que possui uma medula espinhal cercada por vértebras. No entanto, apesar de serem considerados animais vertebrados, os peixes-bruxa não possuem ossos, muito menos uma coluna vertebral.
Em vez disso, os peixes possuem uma estrutura semelhante à cartilagem e um crânio cartilaginoso. Além disso, a espécie não possui olhos, dependendo de quatro pares de tentáculos sensoriais perto de suas bocas para encontrar comida.
Apesar de faltar com algumas características essenciais, a espécie compensa com outros órgãos: ele possui corações extras que podem continuar batendo na ausência de oxigênio por até 36 horas. De fato, o animal possui um sistema circulatório primitivo que possui vários corações.
Como o peixe-bruxa se alimenta?
Embora não tenham mandíbulas, os peixes-bruxa têm duas fileiras de estruturas semelhantes a dentes que usam para se agarrar nas presas. Enquanto comem carniça ou presas vivas, eles amarram suas caudas em nós para gerar torque e aumentar a força de suas mordidas.
As espécies da família Myxinidae são peixes catadores, que habitam o fundo do oceano e se alimentam de restos de animais. Animais catadores, como o peixe-bruxa, são responsáveis por eliminar, entre outras coisas, as carcaças de baleias que vão parar no fundo do mar após morrerem.
No entanto, a espécie também pode passar meses sem alimento, apenas absorvendo nutrientes através de sua pele.
O peixe que produz slime
Um dos maiores motivos pela popularidade da espécie é a sua capacidade de produzir muco para espantar predadores. Em 2017, um caminhão cheio de peixes-bruxa capotou em uma rodovia do Oregon, nos Estados Unidos, resultando em uma estrada e em um carro cobertos por uma secreção gelatinosa.
A substância consiste em dois componentes principais — muco e fios de proteína. Os fios se espalham e se enredam, criando uma rede de rápida expansão que retém muco e água.
Normalmente, um peixe-bruxa libera menos de uma colher de chá de muco das 100 glândulas viscosas que revestem seus flancos. E em menos de meio segundo, essa pequena quantidade se expande 10 mil vezes.
O muco é usado como um mecanismo de defesa. Como comprovado por especialistas, a substância é liberada para entupir as guelras de outros peixes, espantando-os. Para evitar engasgar com seu próprio muco, entretanto, o peixe-bruxa amarra seu próprio corpo com um nó e desliza-o da cabeça à cauda.
A evolução do peixe-bruxa
O único fóssil de peixe-bruxa conhecido, de 300 milhões de anos atrás, parece com um peixe-bruxa moderno, levando alguns cientistas a especular que a espécie mudou pouco desde então.
“É uma indicação, não de que tenham estagnado e não estejam a evoluir, mas de que chegaram a um plano corporal que ainda hoje é muito bem sucedido”, diz Tom Munroe, zoólogo de peixes do Museu Nacional de História Natural Smithsonian.
Adicionalmente, uma pesquisa realizada por um consórcio internacional que inclui mais de 30 instituições ao redor do mundo foi responsável por sequenciar o primeiro genoma conhecido do peixe-bruxa.
“Este estudo tem implicações importantes no campo evolutivo e molecular, pois ajuda-nos a compreender as mudanças no genoma que acompanharam a origem dos vertebrados e das suas estruturas mais singulares, como o complexo cérebro, a mandíbula e os membros”, disse Pascual Anaya, cientista da Universidade de Málaga e coordenador do estudo.
O genoma sequenciado foi da espécie Eptatretus burgeri, que vive no Pacífico. Para isso, os investigadores geraram dados até 400 vezes maiores que o tamanho do genoma, utilizando técnicas avançadas de proximidade cromossômica.
“Isto é importante porque nos permitiu comparar, por exemplo, a ordem dos genes entre este e o resto dos vertebrados, incluindo tubarões e humanos, e assim resolver um dos mais importantes debates abertos na evolução genômica: o número de duplicações do genoma, e quando estes ocorreram durante a origem das diferentes linhagens de vertebrados,” continuou Anaya.
Segundo o especialista, depois disso, as linhagens que deram origem aos vertebrados mandibulares e não mandibulares modernos separaram-se, e cada uma delas multiplicou novamente o seu genoma de forma independente: enquanto a primeira, que inclui os humanos, o duplicou, a última o triplicou.