Mesmo com incêndios florestais, inundações e eventos climáticos letais acontecendo em diversos pontos turísticos do mundo por causa das mudanças climáticas neste mês, as companhias aéreas não param de promover um estilo de vida ecocida, alerta um artigo publicado no jornal The Guardian e escrito pelo cientista climático Andrew Simms.
“Nosso meio de transporte escolhido, voar, destrói gradualmente o clima, as perspectivas e a vida dos lugares para os quais voamos. Isso não é uma ironia trágica e imprevista, mas um ato de autodestruição deliberado e fortemente promovido. Justamente no momento em que tudo deveria se dobrar para tornar as escolhas menos prejudiciais ao clima mais fáceis e mais atraentes, está acontecendo exatamente o oposto. Por que?”, questiona Andrew.
O cientista alerta para a contradição entre a necessidade de haver uma mudança estrutural no modelo econômico vigente para evitar o colapso ambiental e as publicidades que envolvem um estilo de vida altamente poluente.
“As emissões de carbono da aviação pré-pandêmica do Reino Unido que contribuem para as ondas de calor e clima extremo de um planeta em aquecimento foram de cerca de 40 milhões de toneladas por ano, mas os impactos climáticos não relacionados ao carbono de voar, incluindo óxidos de nitrogênio e vapor de água, pelo menos dobram seus danos. Globalmente, isso significa que um valor básico de 2% de emissões de carbono poderia ter três vezes o impacto, equivalente a mais do que as emissões da Rússia.” alerta o cientista climático.
O mais preocupante é que a própria indústria de aviação projeta triplicar o tráfego aéreo entre 2023 e 2042. Tudo isso em meio ao cenário atual apocalíptico de uma Europa, literalmente, em chamas.
Para Andrew, o primeiro passo para evitar o ecocídio seria acabar com os anúncios de voos da mesma forma que os anúncios de cigarros prejudiciais à saúde foram banidos. Isso não impediria as pessoas de voar, mas impediria o número adicional de voos resultante da autopromoção excessiva da indústria.
De acordo com levantamento realizado por Andrew, pesquisas indicam que voos adicionais feitos devido à publicidade podem resultar em até 34 milhões de toneladas de dióxido de carbono em um ano. A outra notícia relativamente boa é que o confinamento gerado pela pandemia de Covid-19 nos ensinou que é possível viver sem voar. É uma percepção que se enraizou na comunidade empresarial, onde a consciência das possíveis economias de tempo, dinheiro e carbono significa voar a negócios permanece abaixo dos níveis pré-pandêmicos e pode continuar assim.
Andrew defende que a indústria da aviação precisa ser honesta sobre suas perspectivas, entender sua vulnerabilidade (perfeitamente demonstrada pela pandemia) e respeitar sua força de trabalho, tendo planos genuínos para um pouso econômico seguro em um mundo com necessariamente menos voos.
“Em um exemplo perfeitamente simbólico durante a pandemia, as companhias aéreas e ferroviárias suíças exploraram a reciclagem de pilotos como maquinistas. A aviação também precisa perder seus enormes subsídios – no valor de £ 242 milhões em licenças de poluição gratuita apenas no Reino Unido em 2021 – que tornam o voo artificialmente barato. As ferrovias precisam de investimentos, integração adequada e passagens mais baratas para reconhecer seu valor ambiental e benefícios econômicos locais”, defende o cientista.
Entretanto, é importante ressaltar que os mais ricos são os maiores responsáveis pela pegada de carbono aérea. Dessa forma, é justo pensar na promoção de cotas aéreas a preços populares para pessoas de baixa renda.
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