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As emissões de carbono resultantes dessa perda de florestas primárias equivalem às emissões anuais de 570 milhões de automóveis

Por Mikaela Weisse e Liz Goldman em WRI Brasil – Os trópicos perderam 12,2 milhões de hectares de cobertura arbórea em 2020, de acordo com dados da Universidade de Maryland divulgados hoje no Global Forest Watch.

Desse total, 4,2 milhões de hectares, uma área do tamanho da Holanda, ocorreram em florestas primárias tropicais úmidas, que são especialmente importantes para o armazenamento de carbono e para a biodiversidade. As emissões de carbono resultantes dessa perda de florestas primárias equivalem às emissões anuais de 570 milhões de automóveis, mais que o dobro do número de veículos que circulam pelos Estados Unidos.

A perda de florestas primárias foi 12% maior em 2020 em comparação com o ano anterior, e é o segundo ano consecutivo em que a perda de florestas primárias piorou nos trópicos.

O que é perda de cobertura arbórea?

A perda de cobertura arbórea não é o mesmo que desmatamento. “Cobertura arbórea” pode se referir a árvores em plantações, assim como a florestas naturais, e a “perda de cobertura arbórea” é a remoção da copa das árvores devido a causas humanas ou naturais, inclusive incêndio. Os dados apresentados aqui não levam em consideração o ganho de cobertura arbórea e, portanto, não são uma indicação de variação líquida.

O foco na perda de cobertura arbórea em florestas tropicais primárias úmidas, no entanto, nos permite destacar algumas das áreas florestais mais críticas do mundo, onde a perda tem impactos de longo prazo e, frequentemente, irreversíveis sobre o armazenamento de carbono e a biodiversidade.

O ano de 2020 deveria ser um marco na luta contra o desmatamento, um ano em que muitas empresas, países e organizações internacionais se comprometeram em diminuir ou parar a perda de florestas por completo. As perdas contínuas de florestas tropicais primárias deixam claro que a humanidade falhou em alcançar essas metas.

Como em anos anteriores, o desmatamento para a abertura de áreas para produção de commodities foi a principal causa de perda de cobertura arbórea (em florestas primárias e secundárias) na América Latina e no Sudeste Asiático, enquanto a agricultura de rotação domina na África tropical. Além disso, incêndios e outros impactos relacionados ao clima continuaram a ter relevância, nos trópicos e em outras regiões.

Como a Covid-19 afetou as florestas do mundo?

Os dados não revelam mudanças óbvias e sistemáticas nas tendências de perdas de florestas que possam ser claramente causadas pela Covid-19. Ainda assim, a pandemia do coronavírus e as medidas de distanciamento social aplicadas mudaram o mundo de muitas formas, que provavelmente afetaram as florestas.

Mais diretamente, há relatos de mais colheita ilegal de madeira em áreas protegidas, que estavam temporariamente fechadas ao público e tiveram restrições de patrulhamento. Ainda será preciso entender como outras tendências relacionadas à pandemia, como o grande número de pessoas retornando para as áreas rurais ou interrupções nas cadeias de suprimento, afetarão as florestas.

Talvez ainda mais importante do que o efeito imediato dos lockdowns e restrições de viagens é como os países decidirão reconstruir suas economias após a pandemia do coronavírus. Alguns países já enfraqueceram suas proteções ambientais em nome da recuperação econômica. Quer os países aproveitem a oportunidade de reconstrução para melhor proteger suas florestas ou decidam devastá-las para recuperar suas economias, o impacto para perda de florestas permanecerá por muitos anos.

A seguir, um olhar aprofundado sobre algumas tendências da perda de florestas em 2020:

Pontos de esperança para as florestas na Indonésia e na Malásia

Ainda que os números globais de desmatamento sejam elevados, alguma esperança surge no Sudeste Asiático.

A taxa de perda de florestas primárias na Indonésia caiu pelo quarto ano consecutivo em 2020, um dos poucos países onde isso ocorreu. A Indonésia também deixou de ser um dos três países com mais intensa perda de floresta primária pela primeira vez desde que começamos o levantamento.

Diversas iniciativas nacionais e subnacionais parecem ter efeitos de longo prazo na redução da perda de florestas primárias. Após devastadores incêndios em florestas e turfas em 2015, o Ministério do Meio Ambiente e Florestas da Indonésia incrementou seus esforços de monitoramento e prevenção de incêndios. O governo emitiu uma moratória temporária em novas licenças para plantações para produção de óleo de palma e uma moratória permanente em conversão de florestas primárias e turfas.

Reformas agrárias e sociais reduziram a pressão sobre as florestas ao aliviar a pobreza e incentivar o uso sustentável da terra. O mandato da Agência de Restauração da Turfa, responsável por proteger e restaurar as regiões de turfas ricas em carbono, foi ampliado em 2020 para incluir manguezais, um importante ecossistema para a biodiversidade e para reduzir o impacto extremo do clima. Muitos governos subnacionais também se comprometeram com o uso sustentável da terra, apoiados por regulações que poderiam impedir que o desmatamento avance.

A perda de floresta primária também caiu na Malásia pelo quarto ano consecutivo. Ainda que essa tendência recente seja uma boa notícia, a Malásia perdeu quase um quinto de sua floresta primária desde 2001 e quase um terço desde a década de 1970. A tendência mais recente de queda e as ações governamentais prometem a conservação das florestas remanescentes. A Malásia implementou um limite de cinco anos para a área de plantação em 2019 e planos para endurecer as leis florestais ao elevar as multas e o tempo de prisão para a colheita de madeira ilegal.

Além das iniciativas governamentais para limitar a perda de floresta primária na Indonésia e na Malásia, compromissos corporativos dos setores de papel e celulose e de óleo de palma também podem reduzir o desmatamento. Os compromissos No Deforestation, No Peat and No Exploitation (Sem desmatamento, sem turfa e sem exploração, NDPE, na sigla em inglês) agora abrangem mais de 80% do setor de papel e celulose na Indonésia e 83% da capacidade de refino do óleo de palma na Indonésia e na Malásia. A Roundtable on Sustainable Palm Oil (Mesa Redonda para Óleo de Palma Sustentável) reforçou as exigências para certificação sustentável em 2018, incluindo o banimento de desmatamento ou remoção de turfas.

Aproveitando o progresso na Indonésia e na Malásia

Ainda que haja motivo para celebrar esta redução na perda de florestas primárias, a Indonésia e a Malásia precisam fazer mais para fortalecer as políticas atuais e garantir que esta tendência continue, incluindo a ampliação da moratória para o plantio para produção de óleo de palma, que deve expirar em 2021. O clima regional e as condições de mercado também reduziram a pressão sobre as florestas, mas essas condições podem mudar e, sem as medidas corretas em vigor, anular o progresso.

O clima úmido em 2020 ajudou a evitar que os incêndios se espalhassem como nos anos de clima seco. Os preços do óleo de palma cru, que são correlacionados aos picos de perda de florestas na Indonésia em 2009 e em 2012, voltaram aos níveis de 2012 depois de uma queda. Os esforços para monitoramento de incêndios e os compromissos de NDPE serão importantes para evitar futuras retomadas na perda de floresta primária, quando o clima e as condições de mercado mudarem.

As medidas de alívio relacionadas à pandemia do coronavírus também podem afetar negativamente as florestas na Indonésia. Como consequência da Covid-19, a Indonésia aprovou uma lei geral para incentivar a criação de empregos e o crescimento econômico que poderia colocar as florestas em risco ao relaxar as exigências ambientais. A Indonésia também lançou um programa estatal de alimentação para resolver possíveis crises de escassez de alimentos causadas pela pandemia, o que não está incluído na moratória das florestas, colocando em risco as áreas de turfas e florestas protegidas na região de Kalimantan central, ao estabelecer novas terras para plantio de arroz e outros alimentos.

Infelizmente, a tendência de redução na perda de floresta primária na Indonésia e na Malásia não se repete em outros países do Sudeste Asiático. Camboja, Laos e Myanmar continuam a ver níveis maiores ou iguais de perda de floresta primária.

Como os dados de perda do Global Forest Watch são comparados com as estimativas oficiais da Indonésia?

Dados oficiais do Ministério do Meio Ambiente e Florestas (MMAF) da Indonésia mostram 119 mil hectares de perda bruta anual de florestas, de junho de 2019 a julho de 2020, e uma redução de 75% entre os períodos de 2018/2019 e 2019/2020. Embora a diferença pareça grande em comparação com os 270 mil hectares e a diminuição de 17% entre 2019 e 2020 calculados pela Universidade de Maryland, ela pode ser explicada por diferenças metodológicas e de definição entre os dois conjuntos de dados.

O ministério usa uma exigência de área mínima de 6,25 hectares, seu relatório vai de julho a junho e interpreta imagens de satélite visualmente para determinar se houve desmatamento. Os dados da Universidade de Maryland incluem toda perda maior que 0,1 hectare. A remoção de áreas inferiores a 6,25 ha dos dados de 2020 da universidade traz a perda total para 123 mil hectares, muito mais próximo da estimativa do ministério. Os dados da universidade são por ano calendário, o que significa que incluem o segundo semestre de 2020, um período mais seco onde ocorreram picos de perda ao final do ano.

Por fim, a diferença no declínio percentual pode ser parcialmente explicada por diferenças de definição. As estatísticas do ministério incluem a perda em florestas naturais e replantadas, enquanto a universidade inclui apenas florestas primárias, o equivalente à área de floresta natural do ministério. A maior parte do declínio medido pelo ministério ocorreu em áreas de plantação. Usando apenas florestas naturais, os dados do ministério mostram um declínio de 38%, muito mais próximo do declínio de 17% medido pelos dados da universidade.

Brasil lidera em perda de floresta primária devido a incêndios e desmatamento

Mais uma vez, o Brasil lidera a lista anual de perdas de floresta primária, com o total de 1,7 milhão de hectares perdidos em 2020, três vezes mais do que o segundo colocado. A perda de floresta primária no Brasil aumentou em 25% no ano de 2020, em comparação com o ano anterior.

A maior parte da perda de floresta primária úmida no país ocorreu na Amazônia, que sofreu um aumento de 15% em relação ao ano anterior, totalizando 1,5 milhão de hectares. Isso corresponde à tendência vista nos dados governamentais, que acompanham especificamente o corte raso na Amazônia (leia mais sobre a diferença entre os dois conjuntos de dados). Áreas recém abertas são particularmente comuns nas fronteiras ao sul e a leste da Amazônia (conhecidas como “Arco do Desmatamento”) e junto a rodovias que cortam a floresta, muitas delas com expansão e pavimentação previstas para os próximos anos.

Os dados também mostram diversas cicatrizes por incêndio. A Amazônia Brasileira sofreu número maior de incêndios em 2020 do que em 2019. Isso é preocupante, pois grandes incêndios raramente ocorrem em florestas tropicais úmidas, como a Amazônia.

Em 2019, a maioria dos incêndios ocorreu em áreas já desmatadas, pois os fazendeiros prepararam a terra para agricultura e pasto. Em 2020, porém, grande parte dos incêndios ocorreu nas florestas, pois incêndios causados por humanos se alastraram para além da extensão calculada devido ao clima seco.

As emissões de gases do efeito estufa pelas queimadas na Amazônia superaram, em certas ocasiões, aquelas causadas pelo desmatamento para abrir clareiras. Os cientistas temem que os incêndios, e as emissões relacionadas, possam aumentar no futuro, com as mudanças climáticas e o aumento no desmatamento secando as florestas e tornando-as mais vulneráveis a incêndios. Este círculo vicioso poderia transformar a Amazônia em uma savana.

O alto nível de desmatamento e de incêndios na Amazônia ocorreu apesar da proibição de incêndios durante o pico da temporada e do envio do Exército para inibir o desmatamento ilegal. O Exército deve permanecer até 30 de abril de 2021, quando a responsabilidade pela fiscalização retorna às agências federais, que enfrentam redução orçamentária em 2021.

A Amazônia não foi o único bioma no Brasil a sofrer com o aumento da perda de floresta úmida primária em 2020. Ainda que seja apenas uma pequena parte da perda total do país, o Pantanal, a maior planície alagada contínua do mundo, sofreu uma perda 16 vezes maior de floresta primária em 2020 do que no ano anterior.

O aumento se deve ao nível recorde de incêndios. Como na Amazônia, a maioria dos incêndios no Pantanal em 2020 foram causados por pessoas para abrir terra, mas queimaram fora de controle em 2020 devido a níveis de seca não vistos desde a década de 1970. O desmatamento em outras regiões da América do Sul pode ter influenciado a perda de umidade do Pantanal e as mudanças climáticas provavelmente farão com que eventos extremos aconteçam com maior regularidade.

Especialistas estimam que cerca de 30% do Pantanal queimou em 2020, incluindo diversas áreas protegidas. Diversos territórios indígenas foram incendiados, deixando tribos como os Guató sem alimentos ou água limpa. Os incêndios também tiveram impacto devastador sobre a biodiversidade, com milhares de animais mortos ou feridos, incluindo onças-pintadas e outras espécies vulneráveis. Ainda que o impacto não esteja claro a longo prazo, a natureza sem precedentes destes incêndios significa que algumas áreas do Pantanal podem não se recuperar por décadas.

Bolívia, Colômbia e Peru veem altos níveis de perda de floresta

No restante da América do Sul, as florestas não tiveram destino melhor.

Apesar de uma leve queda na perda de floresta primária em relação ao ano anterior, a Bolívia subiu para o terceiro lugar na lista de países com a maior perda de floresta primária, tropical e úmida em 2020, ultrapassando a Indonésia pela primeira vez. Como em 2019, as queimadas foram determinantes. De forma notável, os incêndios afetaram diversas áreas protegidas, incluindo o Parque Nacional Noel Kempff Mercado. Como no Brasil, a maioria dos incêndios na Bolívia provavelmente começaram com pessoas tentando limpar a terra, mas fugiram do controle devido a condições secas e ao clima quente. A agricultura em grande escala também afetou as florestas, incluindo diversas clareiras novas no departamento de Santa Cruz.

Enquanto isso, na Colômbia, a taxa de perda de floresta primária subiu em 2020, após a queda do ano anterior.

A Colômbia sofre com taxas altas de perda de floresta primária desde o acordo de paz com as FARC, em 2016, que levou a um vácuo de poder em áreas de floresta anteriormente controladas. Embora os dados de 2019 ofereceram alguma esperança de que o país poderia limitar a perda de floresta primária, a taxa em 2020 voltou aos níveis vistos em 2017 e em 2018. Enquanto isso, o governo publicamente elevou sua ambição quanto ao desmatamento, definindo a meta de desmatamento zero até 2030 como parte de seu compromisso em reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 51% no mesmo período.

O desmatamento continua a se aprofundar pela Amazônia colombiana e em diversas áreas protegidas, como os parques nacionais de Chiribiquete, Tinigua e Sierra de la Macarena. Grupos armados tomaram controle de diversas áreas protegidas do país. Os funcionários foram forçados a abandonar dez parques em fevereiro de 2020 devido a ameaças à sua segurança.

Peru, em quinto lugar em termos de perda de florestas tropicais, também viu taxas elevadas e em crescimento de perda de florestas em 2020. Muito das perdas parece ser de clareiras menores, provavelmente para agricultura e pecuária. Os dados mostram diversas vias recentes de extração de madeira por toda a Amazônia peruana em 2020. O país enfrenta historicamente taxas altas de extração ilegal de madeira. Ao sul do país, a extração de ouro era a principal causa de desmatamento, mas aparentemente se reduziu em 2019 e em 2020 graças a intervenções estatais.

Agricultura eleva a perda de florestas na bacia do Congo

As taxas de perda de floresta primária no Gabão, República do Congo, República Centro-Africana e na Guiné Equatorial flutuaram nos anos recentes, mas a perda aumentou substancialmente em Camarões, praticamente dobrando em 2020 se comparadas a 2019. Esse aumento foi principalmente causado pela agricultura de rotação em pequena escala, ao sul do país.

Embora seja difícil identificar o que impulsiona essa expansão agrícola, é possível que haja relação com a migração urbana-rural causada pelo desemprego na pandemia e pelo aumento dos preços de commodities, especialmente cacau e óleo de palma.

A República Democrática do Congo perdeu 490 mil hectares de floresta primária em 2020, a segunda maior área dentre todos os países, depois do Brasil. Como em anos passados, a maioria das perdas de floresta continua a ser causada pela expansão da agricultura de rotação em pequena escala e pela necessidade de gerar energia pela madeira, incluindo a produção de carvão.

O governo do país deve fazer mais, juntamente com as partes interessadas locais, nacionais e internacionais, para entender os motivos desta perda e organizar os recursos para encontrar soluções. A perda futura de floresta primária pode ser evitada a partir do aprimoramento das práticas agrícolas, para que os fazendeiros possam elevar a produtividade nas áreas já sob cultivo ao invés de converter florestas primárias em lavoura. A restauração de áreas degradadas, práticas sustentáveis de extração de madeira, regulação da energia gerada pela madeira e acesso a energia limpa também podem reduzir a pressão sobre as florestas remanescentes.

Quais são os efeitos das mudanças climáticas sobre as florestas?

Além das perdas causadas principalmente por humanos nos países acima, as florestas também sofreram com diversos distúrbios relacionados ao clima em 2020, tanto nas florestas tropicais úmidas primárias quanto em cobertura arbórea. Queimadas, intensificadas por secas regionais, levaram a picos nas perdas em locais tão diversos quanto o Pantanal, a Bolívia, a Austrália e a Rússia.

Enquanto isso, tempestades e danos causados por insetos levaram a perda de cobertura arbórea na América Central e na Europa Central. Essas dinâmicas ressaltam a relação entre florestas e as mudanças climáticas: as florestas não só afetam o clima, ao absorver carbono ao crescerem e liberar carbono ao serem desmatadas, mas também podem sofrer impacto direto como resultado da alteração da temperatura e dos padrões de chuvas.

Na Austrália, os incêndios ao fim de 2019 e no começo de 2020 resultaram em uma perda de cobertura arbórea nove vezes maior em 2020 em comparação com 2018. O clima extremo esteve por trás do pico, com as mudanças climáticas provavelmente tornando mais comuns as condições favoráveis a incêndios no futuro.

A Rússia também sofreu taxas altas de perda de cobertura arbórea em 2020, em grande parte devido a incêndios na Sibéria. A Sibéria sofreu com temperaturas altas em 2020, incomuns para a primavera e o verão, provavelmente devido à mudança climática, que ressecou as florestas e levou a incêndios intensos. Os incêndios também queimaram turfas ricas em carbono, que habitualmente estão congeladas, resultando em um recorde de emissões que exacerbará as mudanças climáticas.

Em contraste, o Canadá teve um ano de tranquilidade incomum com incêndios, resultando em uma queda de 45% na perda de cobertura arbórea em relação a 2019. Especialistas citam uma combinação de fatores para explicar a falta de incêndios, como clima mais frio e úmido, além de restrições a fogueiras e veículos off-road durante as medidas de isolamento social causadas pela Covid-19.

Outros fatores naturais foram importantes em 2020. Na Nicarágua, as florestas sofreram danos com os furacões Eta e Iota, que atingiram o país em novembro de 2020. Os furacões fizeram parte da temporada mais ativa de furacões do Oceano Atlântico na história, com as mudanças climáticas possivelmente influenciando a intensidade das tempestades e a duração mais longa que o habitual da temporada.

Por fim, a Europa Central viu níveis inéditos de perda de cobertura arbórea em 2020 e no ano anterior – três vezes maior na Alemanha e na República Checa, em comparação com 2018. Em grande parte, o aumento se deve a danos causados por escolitídeos, que causaram danos em árvores vulneráveis como resultado de um clima seco e úmido, associado à mudança climática.

O futuro das florestas depende das ações que tomamos hoje

Os novos dados deixam claro que continuamos a perder florestas a taxas avassaladoras, e que muitas metas relacionadas a florestas com prazo em 2020 não foram alcançadas.

A situação é cada vez mais urgente: os efeitos das mudanças climáticas já são sentidos, inúmeras espécies são extintas e o desmatamento associado à grilagem causa impactos irreversíveis aos direitos, à subsistência e à herança cultural de numerosos povos vivendo em florestas.

A Indonésia e a Malásia dão motivos para otimismo, mas a situação no Brasil e em outras partes do mundo mostra que as altas taxas de desmatamento podem voltar se os esforços de proteção das florestas não prosseguirem. Iniciativas para recuperar economias afetadas pela pandemia do coronavírus oferecem oportunidades para reimaginar políticas e economias, de modo a proteger florestas antes que seja tarde demais.

Este blog foi publicado originalmente no Global Forest Watch.


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