Pesca de arrasto é uma prática realizada pela indústria pesqueira no mundo todo, na qual uma grande e pesada rede é arrastada ao longo do fundo do oceano para recolher tudo o que estiver em seu caminho, ocasionando a captura de espécies indesejáveis e a destruição massiva da fauna acompanhante.
Tecnicamente, a pesca de arrasto caracteriza-se pela captura da fauna íctica e de invertebrados marinhos ao longo do fundo do mar ou através da coluna d’água. Ela varia no desenho e métodos de arrasto. A rede usada para a pesca de arrasto recebe o nome de rede de arrasto.
“A pesca de arrasto leva à morte de cerca de 4,2 milhões de toneladas anuais de espécies não-alvo e diminui receitas ao interromper o crescimento de peixes juvenis. O arrasto ameaça os ecossistemas oceânicos em todo o planeta”, destacaram pesquisadores brasileiros em um artigo publicado na revista Science.
Os barcos empregados na pesca de arrasto são chamados de arrastões ou traineiras. O arrasto pode ser dividido em arrasto de fundo e arrasto de meia água. O arrasto de fundo consiste em rebocar a rede de arrasto ao longo ou próximo do fundo do mar, com o objetivo de capturar espécies que vivem no piso do oceano. Ele é desvantajoso porque agita os sedimentos que se encontram no fundo do mar e pode prejudicar algumas espécies marinhas.
O arrasto de meia água consiste em capturar os peixes que vivem na coluna d’água superior do oceano. Diferente do arrasto de fundo, ele não entra em contato com o fundo do mar. O arrasto de meia água apresenta desvantagens, já que no processo de captura de espécies de interesse pode-se acabar capturando animais não alvo.
Os impactos da pesca vêm sendo estudados ao longo dos anos. Uma publicação da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) — uma das agências das Nações Unidas que lidera esforços para a erradicação da fome e o combate à pobreza — aponta que os impactos da pesca nos ambientes aquáticos podem ser comparados aos da agropecuária no ambiente terrestre e afetam o equilíbrio ecológico em escala global.
De acordo com a publicação da FAO, a atividade pesqueira afeta a desova dos peixes e ainda reduz as taxas de reprodução e maturação desses animais e seus associados e dependentes. Como consequência, há desequilíbrio ecossistêmico e prejuízos sociais e econômicos. Ao reduzir a quantidade de predadores, por exemplo, a atividade pesqueira modifica a cadeia trófica e os fluxos de biomassa no ecossistema.
As indústrias pesqueiras geram poluição aquática principalmente com o processamento de pescado. Nessa etapa, há uso de gases refrigeradores que destroem a camada de ozônio; despejo de antibióticos e hormônios; disseminação de doenças e espécies exóticas; e descarte de redes de plástico que demoram para se decompor e prendem animais não-alvo, como mamíferos e tartarugas, efeito conhecido como pesca fantasma.
A destruição de habitats, principal causa da perda da biodiversidade marinha, não é o único problema da pesca de arrasto. Uma equipe de pesquisa com membros da Espanha, Argentina e Itália descobriu que a atividade leva à desertificação do fundo do mar.
De acordo com os pesquisadores, o arrasto não apenas reduz as populações de peixes, mas também as de todos os tipos de fauna que vivem no fundo do mar. ”O arrasto de fundo está alterando dramaticamente o solo oceânico.”
“Milhões de toneladas de peixes, moluscos, mamíferos, tartarugas e aves marinhas morrem em artes de pesca (especialmente redes, mas não apenas) destinadas a capturar outras espécies. Todo esse dano colateral é chamado de “bycatch“.
A pesca de arrasto está descontrolada há décadas no Brasil, queixam órgãos públicos, pesquisadores e pescadores. Falta de fiscalização, manejo e estatísticas adequados põem em risco a vida marinha e a própria atividade no País.
Martin Dias, diretor científico da ONG Oceana, intensifica que o ordenamento da pesca no Brasil segue um emaranhado de leis e de normas defasadas ou não aplicadas que, na prática, permitem o arrasto em qualquer época e em qualquer ponto dos 3,6 milhões de km² de mar sobre responsabilidade do País.
Em virtude dos diversos impactos causados pela pesca de arrasto, algumas medidas de manejo vêm sendo tomadas, como adoção do período de proibição da pesca de arrasto – defeso –, limites espaciais para atuação das frotas e dispositivos tecnológicos para redução do bycatch.
Por enquanto, a única forma possível de frear a destruição da vida marinha ainda é boicotando o consumo de animais.
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