Ao contrário do que o seu aspecto físico pode sugerir, o peixe acima é o verdadeiro rei dos oceanos. Batizado como peixe-leão, ele é um predador venenoso. Pertencente às espécies nativas do oceano Indo-Pacífico, ele chegou por volta de 1985 ao oceano Atlântico Sul – provavelmente lançado aos mares por proprietários de aquários privados ou devido à passagem do furacão Andrew, em 1992, que destruiu lojas de animais costeiras e virou barcos no mar.
A espécie aparentemente inofensiva e que pode chegar a medir até 50 cm tem como características o apetite insaciável, a capacidade reprodutiva impressionante e não possui predador no ciclo da cadeia alimentar fora de seu habitat. Em outras palavras, eles possuem capacidade de alimentação e reprodução altíssimas e não são alvo de outros animais que vivem no oceano. Para se ter ideia, a introdução de um único peixe-leão pode matar cerca de 80% das espécies pequenas e juvenis nativas dentro de semanas. Amostras de seu conteúdo estomacal apontaram que o peixe-leão consome mais de 50 espécies diferentes de animais marinhos e seu estômago pode se expandir em até 30 vezes após uma refeição. Esses fatores têm chamado atenção e gerado preocupação sobre o equilíbrio do ecossistema no Caribe e na Flórida (EUA).
No ano 2013, segundo reportagem publicada na Scientific American, o peixe-leão se espalhou por todo o Caribe e o Golfo do México. A invasão é uma grande ameaça para os recifes das águas quentes e temperadas do Atlântico e habitats relacionados, segundo estudo do pesquisador James A. Morris (veja mais aqui). Isso porque o predador, além de reduzir outros tipos de espécies das regiões citadas, pode desequilibrar os recifes locais, pois se alimenta de pequenos peixes e crustáceos que habitam em tais estruturas, em conjunto com micro-organismos. Somado a tudo isso ainda há o fato da falta de predador – a partir de estudos de laboratórios, foi observado que muitos peixes preferem morrer de fome a ter que atacar um peixe-leão.
A proporção de danos desse desequilíbrio levou as autoridades, juntamente com institutos de pesquisas, pescadores e voluntários, a desenvolverem planos para conter e reduzir a incidência dessa espécie no oceano Atlântico Sul. A medida adotada foi incentivar a captura desses peixes por meio da pesca recreativa e comercial.
No Caribe, o governo decidiu “esquecer” a legislação de pesca em lugares proibidos para incentivar a caça do peixe-leão. Até o recurso da caça feita por mergulhadores profissionais foi utilizado. O peixe-leão também foi incluído como prato nos restaurantes e seu consumo doméstico foi incentivado. Novas pesquisas se realizaram após a efetivação de todas essas medidas, mostrando que houve uma importante redução de quantidade da população da espécie predadora. No entanto, de acordo com Morris, 27% dos peixes-leões adultos devem ser removidos mensalmente para que haja uma redução significativa nas áreas pretendidas.
Para o consumo, a Reef Enviromental Educational Foundation (REEF) produziu um caderno de receitas com instruções de coleta, manuseio e 20 receitas do peixe-leão, que é considerado um animal de carne saborosa, suave e amanteigada, que traz benefícios a saúde (por conter ômega-3). Apesar de ser uma das 400 espécies que levam toxinas em seus corpos, o peixe-leão não representa ameaça maior que outros tipos de peixes comumente consumidos.
Apesar de haver muitos críticos à interferência humana na reprodução e luta por sobrevivência das espécies, dessa vez foi o homem que criou esse problema (ao levar espécies de peixes-leões a locais novos) e está tentando resolvê-lo. E, mesmo sendo o predador da espécie que vem devastando os mares, o ser humano está fazendo isso para se alimentar e sem utilizar métodos danosos ao restante dos ecossistemas.
A espécie já chegou à costa brasileira – apesar de apenas dois indivíduos terem sido encontrados até agora (em Arraial do Cabo-RJ), os pesquisadores estão em alerta para a necessidade de tomar medidas urgentes para a captura do animal para que ele não se espalhe. Já houve ao menos uma operação de captura.
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