Pesquisa da Uerj aponta aditivos químicos presentes na maioria dos alimentos industrializados no Brasil

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Por Diretoria de Comunicação da UERJ em UERJ Um estudo realizado no Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) revelou dados preocupantes sobre o que estamos ingerindo na alimentação diária, além de nutrientes. De acordo com a tese de doutorado da nutricionista Vanessa Montera, quatro em cada cinco alimentos no supermercado possuem pelo menos um aditivo químico entre seus ingredientes. As substâncias são usadas com diversas funções – inclusive apenas para alterar e “maquiar” cheiro, sabor ou textura, sem real necessidade de utilização.

Montera ficou surpresa com os resultados. “Um em cada quatro produtos pesquisados tinha mais do que seis aditivos e chegamos a encontrar um item de panificação com até 35 aditivos alimentares. Já esperávamos uma presença expressiva, mas foi maior do que o previsto”, pontua. Este é o estudo de maior representatividade sobre aditivos alimentares já realizado no Brasil.

“Analisamos quase 10 mil alimentos disponíveis para comercialização em grandes redes de supermercados localizados em São Paulo e em Salvador, em áreas de diferentes níveis socioeconômicos. Além disso, fizemos a avaliação dos vários tipos de aditivos alimentares e da combinação deles nos itens”, ressalta Daniela Canella, professora do Instituto de Nutrição e orientadora da pesquisa.

Os alimentos nos quais foram encontrados os maiores percentuais de aditivos químicos, em relação ao total de ingredientes, foram: bebidas com sabor de frutas (79,7%); refrigerantes (74,5%); açúcar e outros adoçantes não calóricos (60,3%); outras bebidas (57,3%); produtos lácteos não adoçados (51,1%); néctares (49,7%); e produtos lácteos adoçados (45,6%). 

A pesquisadora chama a atenção também para a grande quantidade de aditivos em produtos amplamente consumidos na dieta brasileira básica, como pães. E explica que há diferentes tipos dessa substância: alguns aditivos, de fato, têm seu uso justificado, como os conservantes e antioxidantes, com sua função de estender a validade dos produtos para torná-los disponíveis à população em um maior número de locais.

No entanto, grande parte desses químicos constatados nos alimentos é de “aditivos cosméticos” – desnecessários, cuja única função é tornar o produto mais atraente. É o caso dos aromatizantes, que servem para alterar o cheiro dos alimentos; dos corantes; e dos emulsificantes, ajudando a misturar ingredientes e a tornar a textura mais cremosa. No estudo, os aditivos mais presentes nos alimentos analisados foram: aromatizantes (47,1%); conservantes (28,9%); corantes (27,8%); estabilizantes (27,6%); acidificantes (26,3%); emulsificantes (19,4%); e antioxidantes (16,1%).

Montera alerta que não há como precisar se os aditivos estão dentro dos limites considerados seguros para consumo, pois a legislação brasileira exige apenas que os fabricantes indiquem nos rótulos as substâncias presentes nos alimentos, mas não sua quantidade. Ou seja, o consumidor não sabe o quanto ingere de aditivos na comida industrializada. Por isso, a pesquisadora recomenda precaução na hora das compras, pois a maior parte das pesquisas sobre aditivos é feita em animais e conduzida pela própria indústria.

Para verificar a segurança alimentar dessas substâncias, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) analisa cada uma isoladamente, sem levar em conta que, no alimento final, diversos aditivos diferentes acabam se misturando e somando: por exemplo, um determinado corante pode estar dentro do limite permitido para esta substância, mas a avaliação não considera a sua interação com outros corantes ou até mesmo com outros tipos de aditivos. “Há uma mescla em um mesmo alimento e não temos segurança quanto à ingestão desse coquetel de aditivos”, explica Montera.

Legislação: o que são aditivos alimentares

De acordo com a Anvisa, “aditivo alimentar é qualquer ingrediente adicionado intencionalmente aos alimentos, sem propósito de nutrir, com o objetivo de modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais, durante a fabricação, processamento, preparação, tratamento, embalagem, acondicionamento, armazenagem, transporte ou manipulação de um alimento.”

Para Vanessa Montera, a recomendação ao consumidor é evitar os alimentos ultraprocessados e dar preferência aos itens in natura ou minimamente processados. Essa é a forma mais saudável e segura de evitar o consumo excessivo dos aditivos químicos. Por outro lado, com a crescente preocupação, por parte de uma parcela mais abastada da sociedade, com a alimentação, surgem nas prateleiras opções com o uso de aditivos naturais. É o caso dos hambúrgueres de origem vegetal, que comumente utilizam beterraba como corante. Mas essa substituição, muitas vezes, acaba por encarecer o alimento.

Diante deste quadro, Daniela Canella ressalta a importância da pesquisa para traçar o panorama atual sobre a qualidade dos alimentos comercializados no país. “Os resultados são reveladores e muito úteis para informar a população, podendo contribuir para que as pessoas façam escolhas melhores, mais conscientes, além de subsidiar tomadores de decisão, como a Anvisa”, conclui.

Equipe eCycle

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