– Resistência do bulbo após a colheita, em função da retenção alta e da espessura grossa da casca, garante durabilidade e oferta nos períodos de entressafra. – Capacidade de armazenamento para comercialização na entressafra garante melhores preços ao agricultor. – Ciclo precoce, entre 150 a 170 dias, permite colheita antecipada e também garante melhores preços. – Apresenta alto percentual de bulbos de padrão comercial e alto potencial produtivo, com produtividade média de 44,1 mil toneladas por hectare. – Possui resistência a doenças foliares o que impacta em menor uso de defensivos químicos. – Indicada para os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. – Utilizada como condimento, devido à alta pungência (picância), ainda apresenta propriedades nutracêuticas pela alta concentração do flavonóide quercetina, que é um antioxidante. |
Por Francisco Lima, da EMBRAPA | Uma nova cultivar de cebola desenvolvida pela pesquisa da Embrapa se destaca, principalmente, pela resistência do bulbo após a colheita, garantindo maior durabilidade e oferta nos períodos de entressafra. A BRS Prima foi desenvolvida pela Embrapa Clima Temperado (RS) e pela Embrapa Hortaliças (DF), e será lançada oficialmente no dia 8 de junho, durante Reunião Técnica da Cebola, no município gaúcho de São José do Norte, principal região produtora no estado e berço da cebolicultura no País.
A maior durabilidade ocorre pela alta retenção e pela espessura grossa das escamas (casca), fator que protege os bulbos de fungos e bactérias e fornece maior tolerância ao armazenamento e ao transporte. A durabilidade pós-colheita também é importante para garantir escalonamento da comercialização ao produtor, que pode aguardar e contornar momentos de baixo preço em safras com volume de produção acima das expectativas.
“Na nossa região há uma janela, no período de entressafra, entre março e junho. Uma cebola como a BRS Prima, com uma boa capacidade de armazenamento, o agricultor consegue vender no período de entressafra e com isso consegue melhores preços. Por isso, ela vem ajudar”, avalia Daniela Leite, pesquisadora da Embrapa responsável pelo desenvolvimento do material.
A nova cultivar ainda apresenta alto percentual de bulbos de padrão comercial, de preferência dos consumidores: coloração amarelo-avermelhada e formato globular. Essas características garantem competitividade em relação às demais cultivares plantadas na mesma região e garantindo mercado ao produtor de cebola da região Sul do Brasil, tanto da agricultura familiar como do agronegócio.
Agronomicamente, a BRS Prima apresenta resistência a doenças foliares, devido à alta cerosidade das folhas. “Isso representa menor uso de químicos na lavoura. Inclusive, a BRS Prima já foi validada para produção orgânica. Então, é benéfica ao meio ambiente e para o ser humano também”, acrescenta a pesquisadora.
Com relação ao desempenho, a cultivar apresenta alto potencial produtivo, com estabilidade de produção. A produtividade média é de 44,1 toneladas por hectare, com pico de 57,9 toneladas por hectare em avaliações no município gaúcho de Rio Grande. O cultivo da nova variedade é indicado para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde o material foi testado e validado.
A cebola é a terceira hortaliça em importância econômica no País, atrás do tomate e da batata, com produção de cerca 1,5 milhão de toneladas em 2020 e valor bruto estimado em 2,5 bilhões de reais, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A principal região produtora está no Sul, que concentra mais de 50% da produção nacional, mas a Região Nordeste também tem participação importante nesse volume.
Entre os principais estados produtores estão Santa Catarina, com produção de 420 mil toneladas; Bahia, 224,8 mil t; e Minas Gerais, com 180,9 mil t, ainda de acordo com dados do IBGE de 2020. Estima-se que 70% da cebolicultura brasileira seja proveniente de mão de obra familiar, com contratação de trabalhadores eventuais para o plantio e colheita, em áreas de até dez hectares.
A BRS Prima foi desenvolvida a partir de recursos genéticos locais (crioulos) da Região Litoral Centro do Rio Grande do Sul e armazenados no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) da Embrapa, o que confere maior resistência a condições adversas que podem ocorrer durante o cultivo: surgimento de pragas e doenças e seca. A validação ocorreu durante cinco safras, em Unidades de Observação no Sul do País, nos municípios de Pelotas (RS), Rio Grande (RS), Canoinhas (SC) e Chapadão do Lageado (SC).
O material teve origem a partir de cruzamento entre a cultivar Primavera, lançada em 1992, e a população local (crioula) Pêra Norte, de maneira que as características desejáveis dos bulbos da Pêra Norte (retenção alta e espessura grossa das escamas) fossem transferidas para a cultivar Primavera, que se destaca pelo ciclo precoce e pelo formato globular dos bulbos. “Nós valorizamos muito o desenvolvimento de novas cultivares a partir dos recursos genéticos locais”, afirma Leite.
Ao todo, o desenvolvimento de uma nova cultivar leva entre dez a doze anos, com participação da pesquisa e do setor produtivo. “Nós, na Embrapa, estamos sempre nos adequando e buscando novos materiais. Mas é sempre importante realizar um trabalho participativo, com os agricultores validando o material e indicando os atributos importantes para o melhoramento, tanto do ponto de vista do produtor como do consumidor”, completa a pesquisadora.
Para o extensionista e chefe do escritório da Emater/RS-Ascar do município de São José do Norte, Pedro da Silva Farias, a parceria com a Embrapa ajuda a melhorar a vida dos agricultores no campo. “É bom ter a Embrapa conosco. Fortalece o trabalho de campo, porque a Emater está junto dos produtores, mas não tem essa possibilidade de produzir a tecnologia. E essa tecnologia certamente qualifica o nosso trabalho e do agricultor, o que gera resultados diretamente nas propriedades”, avalia.
Um dos agricultores que tem contribuído para as avaliações da BRS Prima e de outras futuras cultivares de cebola é o Rui Miguel Lemos, do município de Tavares (RS), Litoral Centro gaúcho. Ele produz cerca de 70 toneladas anuais de cebola, em uma área aproximada de três hectares. Apesar da produção diversificada, o sustento vem dessa cultura.
Em 2017, ele testou e aprovou o material. “É uma produtividade incrível e tem uma casca semelhante à da [variedade] Bola Precoce. É uma ferramenta a mais para o produtor, uma variedade a mais para ter alta produtividade no cultivo da cebola”, declara.
Lemos, que também é presidente do Subcomitê da Cebola no Estado, ainda tem contribuído com a pesquisa, na instalação de Unidade de Observação (UO) de cebola. Junto de outros sete produtores da região, ele irá avaliar nesta safra o desempenho de três variedades comerciais, incluindo a BRS Prima, e de um clone – material ainda em avaliação para lançamento.
Por ser de polinização aberta, a produção de sementes da nova cultivar se torna mais fácil, resultando em menor preço da semente. De modo geral, a semeadura da BRS Prima ocorre nos meses de abril e maio, com transplante de mudas em junho e julho, para colheita de novembro a dezembro.
A comercialização das sementes da variedade é feita por produtores de sementes licenciados por meio de Edital de Oferta Pública permanente. Para serem licenciados, os produtores precisam estar inscritos no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem) como produtores de sementes de cebola (Allium cepa L.).
No último edital, sete produtores foram licenciados para a multiplicação e comercialização de sementes da BRS Prima e quatro já assinaram contrato até o momento. Os respectivos contratos podem ser encontrados na página da cultivar, no portal da Embrapa. A multiplicação leva em torno de dois anos, portanto as sementes estarão disponíveis aos produtores de cebola para a safra de 2024.
Por apresentar alta pungência (picância), a BRS Prima é indicada para uso in natura, como condimento na culinária, e é rica em quercetina – substância natural, com propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, que reduz o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e de certos tipos de câncer. A cebola é uma das principais fontes de quercetina na dieta humana. “Quase ninguém cozinha sem cebola. Faz parte do tempero do dia a dia. E tem um aspecto social muito importante na cadeia produtiva da agricultura familiar”, finaliza Daniela Leite.
Este texto foi originalmente publicado pela EMBRAPA de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.
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