Como a pandemia de Covid-19 afetou a mobilidade urbana e o uso dos modos de transporte? Como se sentiram as pessoas que adotaram o trabalho remoto? Estas são algumas das perguntas que uma pesquisa aplicada no fim do ano passado em diversas cidades do mundo buscou responder – e que agora está em sua segunda fase.
O levantamento, organizado pelo Centro de Excelência BRT+ com apoio do WRI Brasil, incluiu nove cidades latino-americanas: Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Bogotá, Buenos Aires, Lima, Quito e Santiago. Nessas capitais, a pesquisa mostrou, por exemplo, que a maioria das pessoas passou a usar menos o transporte coletivo. O uso de modos como bicicleta e caminhada diminuiu no Brasil, mas aumentou em Buenos Aires e Bogotá, cidades que investiram em infraestrutura para a mobilidade ativa durante a pandemia.
Com a continuidade da crise sanitária e o avanço da vacinação, agora está sendo realizada uma segunda etapa da pesquisa, para avaliar como a situação da mobilidade urbana está evoluindo. Se você mora nas Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro ou São Paulo, clique na cidade correspondente e ajude-nos a construir conhecimento sobre este momento tão desafiador.
Confira, a seguir, os resultados da primeira etapa da pesquisa para as nove cidades latino-americanas.
Próxima de zero no momento anterior à pandemia, a realização da atividade principal (em geral, trabalho ou estudo) de casa se tornou a parcela mais significativa da distribuição modal entre os entrevistados nas nove cidades, sendo inclusive superior a 50% em quase todas – à exceção de Lima (39%) e Quito (33%).
São Paulo (72%) e Buenos Aires (69%) são as cidades onde os participantes da pesquisa mais passaram a realizar a atividade principal de casa. Os gráficos a seguir mostram como mudou a proporção de cada modo em comparação a antes da pandemia.
Por outro lado, um olhar mais apurado sobre a renda dos participantes do questionário revela uma realidade desigual: embora a amostra das cidades brasileiras tenha sido pequena para alguns dos estratos de renda, os resultados indicam que a população mais vulnerável continuou se deslocando mais durante a pandemia, consequentemente ficando mais exposta ao vírus – o que pode ter sido um dos motivos para o maior número de mortes por Covid-19 nos bairros periféricos.
Chama a atenção a drástica diminuição no uso do transporte coletivo em todas as cidades, algo que está gerando consequências econômicas graves para vários dos sistemas. Nas nove cidades, mais de 50% dos participantes afirmaram ter reduzido a frequência com que utilizam o transporte coletivo, chegando a 82% dos participantes em São Paulo.
A preocupação com a transmissão de Covid-19 foi uma constante – em todas as cidades pesquisadas, mais de 60% dos respondentes afirmaram que estavam “extremamente preocupados” ou “muito preocupados” com a higiene no transporte público. O gráfico abaixo apresenta a distribuição das respostas para a pergunta “Quão preocupada(o) você está com a higiene no transporte público hoje?”.
Enquanto nas cidades brasileiras e em Santiago, uma maioria dos entrevistados relatou ter diminuído o número de deslocamentos a pé e por bicicleta, as outras cidades latino-americanas tiveram aumentos superiores a 30% no uso de pelo menos um destes modos. Estes aumentos podem estar associados ao incentivo que algumas cidades deram a esses modos de transporte, que são os mais seguros em um momento de pandemia, ao construir ciclovias (Bogotá, Buenos Aires, Lima e Quito adotaram esta prática) ou implementar alargamentos em calçadas, entre outras medidas.
Além de confirmar que o trabalho remoto se tornou uma realidade para muitas pessoas, a pesquisa investigou a percepção de produtividade no trabalho de casa em comparação com o presencial. A maioria das pessoas participantes (28% de todos os respondentes, independente da cidade) considera que não houve alterações na produtividade. Em algumas cidades, a maioria das pessoas se considera mais produtiva – é o caso de Rio de Janeiro (54%), Belo Horizonte (50%) e Bogotá (51%). Em Porto Alegre e São Paulo, embora as pessoas se sintam, no geral, um pouco ou muito mais produtivas, boa parte delas declara estar um pouco menos produtiva (28% e 26% respectivamente). Santiago (39%) foi a única cidade em que a maioria se disse menos produtiva.
Quando perguntadas sobre quantos dias trabalhariam de casa no futuro (com a crise sanitária superada) caso pudessem escolher, considerando todas as cidades, em média, menos de 5% voltaria ao trabalho totalmente presencial, mais de 30% gostariam de trabalhar 3 dias de casa e quase 25% trabalhariam totalmente remoto. Bogotá (38%), Lima (30%) e Belo Horizonte (29%) foram as cidades com as maiores proporções de pessoas que optariam por esta última opção.
A segunda etapa da pesquisa visa ampliar ainda mais os conhecimentos já obtidos para analisar como está evoluindo o impacto da Covid-19 na mobilidade urbana e nas questões relacionadas ao trabalho remoto. Tais respostas são vitais para embasar políticas públicas e também planejar a retomada pós-pandemia.
Os resultados divergem dos apresentados no artigo com resultados preliminares, pois o número de respondentes aumentou após aquela divulgação. Fortaleza, cidade participante da primeira etapa da pesquisa, não atingiu o número mínimo de respostas necessário para tornar a amostra significativa, então não foi considerada das análises.
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