Os peixes comem plástico. Nós sabemos disso porque cientistas detectaram quantidades significativas de plástico nos frutos do mar que acabam indo parar na mesa de muita gente. Pesquisas da Universidade de Gante, na Bélgica, apontaram, em 2016, que um indivíduo belga que tenha o hábito de comer mexilhões frequentemente ingere 11 mil pedaços de microplástico por ano, enquanto outras pesquisas detectaram fibras de vestuário sintéticas em 25% dos peixes do mercado de peixes de São Francisco, nos Estados Unidos.
Isso é preocupante por muitas razões, como a transmissão de compostos tóxicos dos plásticos para os peixes e, consequentemente, para os humanos, o que pode causar problemas hepáticos e déficits de aprendizagem, entre outros.
Mas por que os peixes estão se alimentando de plástico? Será que o plástico não é diferente o suficiente para que um peixe o distingua da comida que está habituado a ingerir?
Como Matthew Savoca explica no Washington Post, uma pesquisa mostra que o peixe pode realmente se sentir atraído pelo aroma de plástico na água. Savoca fez parte de uma equipe de pesquisa que realizou experimentos em criadouros de anchovas e publicou os resultados em agosto de 2017, no periódico científico Proceedings of the Royal Society.
A anchova é um peixe comumente encontrado na costa ocidental da América do Norte e forma parte fundamental da cadeia alimentar, pois é consumida por predadores maiores. Já era sabido que anchovas comiam plástico, mas, antes dessa pesquisa, cientistas não sabiam se elas (assim como tubarões) usavam o sentido do olfato para detectarem seus alimentos.
E sim, as anchovas se guiam pelo aroma para comerem plástico. A equipe de Savoca trabalhou com criadouros de anchovas no Aquário da Baía de São Francisco, nos Estados Unidos, usando uma câmera GoPro montada acima de um tanque. Os pesquisadores misturaram duas soluções diferentes de água – uma embebida em krill, um invertebrado que é comida preferida de anchovas, e outra em escombros plásticos. Essas soluções foram introduzidas em momentos diferentes no tanque e o comportamento das anchovas foi observado. Savoca escreveu:
“Quando injetamos água do mar perfumada com krill no tanque, as anchovas responderam como se estivessem procurando por alimento – que, nesse caso, não estava lá. Quando introduzimos água do mar perfumada com odores de detritos plásticos, os grupos de anchovas responderam da mesma forma, aglutinando-se e movendo-se erraticamente como se estivessem procurando por comida. Essa reação forneceu a primeira evidência comportamental de que um vertebrado marinho pode ser levado a consumir plástico por causa da maneira como ele cheira”.
A pesquisa confirmou que as anchovas utilizam o sentido do olfato para detectarem a comida, e que elas são confundidas e mesmo atraídas pelo perfume liberado pelo plástico na água. Trata-se de um problema muito sério, ainda mais ao se levar em conta o grande volume de resíduos plásticos que está sendo descarregado nos oceanos do mundo diariamente.
A necessidade de se evitar consumo e produção de plásticos de uso único (como copos descartáveis, canudinhos, sacolinhas, embalagens desnecessárias, etc.) é mais premente do que nunca, para além de soluções como a reciclagem desses resíduos plásticos, que ainda está muito longe de ser realidade.
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