Estudo na Alemanha coletou dados durante 27 anos e mostrou o enorme declínio do número de insetos em reservas naturais
Estudo iniciado em 1989 e concluído apenas em 2017 traz resultados chocantes: mais de três quartos dos insetos simplesmente sumiram. Danos nessa escala levam a pensar que o mundo está em curso para um “armagedom ecológico”, trazendo grandes impactos para a vida no planeta.
Os insetos possuem funções ecológicas muito importantes, para as quais sua densidade populacional importa bastante. Eles colaboram com a reciclagem de nutrientes (essenciais para o metabolismo de qualquer ser vivo), têm papel essencial na polinização das plantas e possuem um papel relevante na cadeia alimentar (costumam servir de alimento para outros animais).
Os dados foram coletados em reservas naturais por toda a Alemanha, mas os pesquisadores afirmam que têm implicações para todas as regiões dominadas pela agricultura.
“Os insetos representam cerca de dois terços de toda a vida na Terra, [mas] houve algum tipo de declínio horrível”, disse Dave Goulson, da Universidade Sussex, no Reino Unido, e parte da equipe por trás do novo estudo. “Parece que estamos fazendo grandes extensões de terra inóspitas para a maioria das formas de vida e, atualmente, estamos em curso para o armagedom ecológico. Se perdermos os insetos, então tudo vai entrar em colapso”.
As causas para o declínio ainda não são claras, embora os possíveis motivos sejam a destruição de áreas selvagens, uso generalizado de pesticidas e as mudanças climáticas. As mudanças no clima e nas paisagens das reservas foram descartadas como causas, mas os dados sobre os níveis de pesticidas não foram coletados.
Entomologistas coletaram amostras meteorológicas detalhadas e registros de alterações na paisagem ou em espécies de plantas nas reservas. Porém, Martin Sorg, da Krefeld Entomological Society, na Alemanha, explica que isso não poderia explicar a perda dos insetos. “O tempo pode explicar muitas das flutuações dentro da temporada e entre os anos, mas não explica a rápida tendência descendente”.
Goulson aponta uma possível explicação, a de que os insetos voadores perecem quando deixam as reservas naturais. “As terras agrícolas têm muito pouco a oferecer para qualquer criatura selvagem”, disse ele. “Mas exatamente o que está causando a morte deles está aberto ao debate. Poderia ser simplesmente que não há comida para eles ou poderia ser, mais especificamente, exposição a pesticidas químicos ou uma combinação dos dois “.
A pesquisa alemã publicada na revista científica Plos One se baseia no trabalho de dezenas de entomologistas (cientistas cuja especialidade é estudar insetos) que, desde de 1989, coletam dados de forma padronizada na Alemanha, obtendo 1,5 mil amostras de insetos de 63 reservas naturais diferentes.
Quando o peso total dos insetos em cada amostra foi medido, um declínio surpreendente foi revelado. A média anual caiu 76% ao longo do período de 27 anos, mas a queda foi ainda maior – 82% – no verão, quando o número de insetos atinge seu pico.
Já se sabia que alguns insetos estavam em declínio, como as borboletas de pastagem europeias, a partir de estudos anteriores. Porém, por esses estudos serem limitados a insetos particulares, não foi considerado um problema tão alarmante. Já a pesquisa atual incluiu todos os insetos voadores, como vespas e moscas, tornando-se um indicador de declínio muito mais forte.
O fato de que as amostras foram tomadas em áreas protegidas torna os achados ainda mais preocupantes, disse Caspar Hallmann, da Universidade Radboud, integrante da equipe de pesquisa: “Todas essas áreas são protegidas e a maioria delas é uma reserva natural bem gerida. No entanto, esse declínio dramático ocorreu”.
Como colocado por De Kroon, “Precisamos fazer menos coisas que sabemos ter um impacto negativo, como o uso de pesticidas e o desaparecimento de fronteiras de terras agrícolas cheias de flores”.
Os cientistas afirmam a necessidade urgente de trabalho adicional para corroborar os novos achados em outras regiões e explorar a questão com mais detalhes. Enquanto a maioria dos insetos voa, pode ser que aqueles que não deixem as reservas naturais com menos frequência e melhorem. Também é possível que insetos menores e maiores sejam afetados de forma diferente, sendo necessário uma análise posterior das amostras preservadas.