Pesquisa pode explicar como placebos minimizam a dor

O poder dos placebos não é nenhuma novidade, porém, um novo estudo realizado por profissionais da Universidade da Carolina do Norte (UNC), nos Estados Unidos, identificou circuitos cerebrais em ratos que poderiam ajudar a explicar como essas pílulas funcionam. Publicado na revista Nature, o estudo também descobriu uma parte do tronco cerebral envolvida no processamento da dor

O efeito placebo sempre foi um dos mistérios da comunidade científica — com a grande questão de como essas substâncias sem nenhum efeito terapêutico podem minimizar sintomas de inúmeras condições de saúde. 

O entendimento geral é de que os placebos atuam nos sintomas modulados pelo cérebro, como a percepção da dor. Portanto, embora não curem nenhuma condição de saúde, podem contribuir para o bem-estar dos pacientes. 

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Anteriormente ao estudo, o funcionamento e as áreas do cérebro envolvidas nesse efeito eram desconhecidas. Porém, as novas descobertas oferecem algumas indicações. 

Os cientistas liderados por Chong Chen, anestesiologista da UNC, investigaram circuitos neurais envolvidos no alívio da dor em ratos que foram condicionados a esperar que um lado de uma câmara de duas partes fosse confortavelmente mais frio do que a outra metade, que foi aquecida a 48° C. Durante as observações, notou-se que após alguns dias de condicionamento, os ratos passaram mais tempo no que antes era o piso mais frio, mas que estava, no momento, aquecido a 48 °C.

Os animais condicionados também apresentaram menos comportamentos de alívio da dor, como empinar-se nas patas traseiras e lamber os pés, sugerindo que foram capazes de tolerar a temperatura mais elevada porque um efeito placebo analgésico havia entrado em ação.

Para observar quais circuitos cerebrais estavam agindo nessa ação, os cientistas mediram a atividade dos neurônios no córtex cingulado anterior rostral (rACC, na sigla em inglês), uma região implicada em estudos anteriores. Foi revelado que redes ligam o rACC aos núcleos pontinos – uma parte da região da ponte do tronco cerebral que pode estar envolvida na função motora – se tornaram ativas quando o efeito placebo entrou em ação.

Quando essa ponte foi desativada pelos cientistas, os ratos não conseguiam mais tolerar o chão aquecido e, semelhantemente, quando era reativada, estimulava o efeito placebo nos animais. 

A pesquisa, além de auxiliar na revelação de um dos grandes mistérios científicos, também pode ser benéfica para a população geral. Acredita-se que as descobertas lideradas por Chen podem abrir novos caminhos para compreender como funcionam os analgésicos existentes e descobrir outros novos e mais eficazes tratamentos contra a dor. 

Segundo Tom Wager, um neurocientista da Faculdade de Dartmouth que não está envolvido na pesquisa, a descoberta “fornece um novo alvo que podemos procurar em estudos humanos”. (1)

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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