Por UFMG – De 2006 a 2019, cresceram os índices de obesidade e sobrepeso entre os idosos brasileiros, segundo estudo conduzido por Laura Cordeiro Rodrigues, no mestrado em Nutrição e Saúde da Escola de Enfermagem da UFMG. Orientada pelo professor Rafael Moreira Claro, a pesquisa utilizou dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), coletados pelo Ministério da Saúde. Participaram mais de 200 mil indivíduos com 60 anos ou mais, das 26 capitais e do Distrito Federal.
O estudo revelou que a prevalência de sobrepeso aumentou de 53% para 61,4%, e a prevalência de obesidade, de 16,1% para 23%. Dados autorreferidos de peso e altura foram usados para calcular o Índice de Massa Corporal (IMC). Prevalências de sobrepeso (IMC ≥ 25kg/m2) e de obesidade (IMC ≥ 30kg/m2) foram estimadas por ano para a população total e de acordo com sexo, idade, escolaridade, região e presença de DCNT.
Segundo Laura Rodrigues, em todos os grupos socioeconômicos analisados, houve aumento nas taxas tanto de sobrepeso quanto de obesidade. Em relação à obesidade em idosos, maiores taxas foram observadas em homens (3,52% por ano), indivíduos com idade de 70 a 79 anos (2,71% por ano), com 9 a 11 anos de escolaridade (2,92% por ano) e em residentes das regiões menos desenvolvidas do país (2,58% por ano).
“Os grupos socioeconômicos que em 2006 apresentavam as menores taxas de obesidade são exatamente os mesmos que apresentam as maiores taxas de crescimento ao longo dos anos, o que mostra a redução da discrepância existente entre os grupos”, afirma a pesquisadora.
Laura Rodrigues ressalta, que, embora o estudo não propicie a identificação precisa das causas desse cenário, é possível que ele esteja relacionado com padrão de consumo alimentar e ambiente alimentar, com influência da crise econômica e política instalada no país após 2016. “Foram suspensas importantes ações estruturais, como o aumento real do salário mínimo e das pensões, e os preços dos produtos e serviços aumentaram em ritmo mais acelerado que a renda pela primeira vez em quase duas décadas”, ela explica.
A pesquisadora lembra, ainda, que uma série de ações têm sido realizadas pelo Ministério da Saúde nos últimos anos para combater as DCNT e aumentar a qualidade de vida dos idosos no país. A Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), segundo ela, é uma iniciativa de atenção a essa população, e algumas de suas diretrizes reforçam a promoção do envelhecimento ativo e saudável. “No entanto, essa política não aborda diretamente a obesidade, e as evidências sugerem dificuldades em sua implementação.”
A pesquisa, que recebeu recursos do Ministério da Saúde e da Capes, é a primeira no país a estabelecer uma tendência temporal de sobrepeso e obesidade em idosos, com mais de 10 anos de análise relativa às capitais brasileiras e ao Distrito Federal. “Estudos como esse permitem analisar o cenário nacional e são capazes de subsidiar políticas públicas”, conclui a pesquisadora.
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