Livro reúne conjunto de contribuições de grupos de pesquisa, coordenados pelo Instituto de Energia e Ambiente da USP
Por Jornal da USP | As transformações decorrentes das alterações do clima colocam forte pressão sobre a sociedade e os ecossistemas, tornando-os vulneráveis a diferentes riscos e ameaças. As análises do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC ) 2014 têm apontado que os impactos negativos das mudanças climáticas afetam a disponibilidade de água para manutenção dos ecossistemas e das necessidades humanas básicas (Unesco, 2020). Recentes pesquisas evidenciam que a emergência climática é, em grande medida, irreversível, acarretando elevação nas temperaturas para os próximos 1.000 anos, mesmo no caso improvável de cessação das emissões de dióxido de carbono. Esse é um dos principais problemas apontados pelos organizadores na introdução do livro Governança Ambiental da Macrometrópole Paulista face à Variabilidade Climática, que integra o Projeto Temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A publicação é gratuita e está disponível neste link.
O livro reúne o conjunto de contribuições que foram produzidas pelos seis grupos de pesquisa do projeto, realizado entre 2017 e 2022. Sediado no Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP e coordenado pelo professor Pedro Roberto Jacobi, é composto com docentes, pesquisadores e discentes de diversas unidades da USP, da Universidade Federal do ABC (vinculado aos programas de Pós-Graduação em Planejamento e Gestão do Território e Políticas Públicas), do Instituto Tecnológico da Aeronáutica e da Universidade São Judas Tadeu. A publicação traz abordagens inovadoras e interdisciplinares dentro de um contexto caracterizado pela complexidade, incerteza e diversidade nas multicausalidades e relações de interdependência de processos que compõem a macrometrópole.
“O maior desafio, desde o início do projeto, foi mobilizar pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento em um estudo integrado que fosse capaz de interpretar as diferentes questões que compõem as demandas locais e regionais da macrometrópole. A partir deste esforço sinérgico, foi possível explorar alternativas e caminhos para uma sustentabilidade justa”, destaca Jacobi.
Ele explica que os capítulos foram organizados de acordo com a produção desses grupos temáticos: Governança de Saneamento Ambiental; Territorialidades, Espacialidades e Inovação na Governança Ambiental; As Pequenas Cidades em um Espaço Metropolizado; Evolução da Urbanização da Cidade de São Paulo e seu Impacto nos Padrões Atmosféricas da Região: Simulações Numéricas do Clima Presente e Futuro; A Governança das Questões Energéticas no Contexto das Macrometrópoles Paulistas; A Abordagem dos Serviços Ecossistêmicos na Dinâmica da Governança Ambiental; e Aprendizagem Social no Projeto MacroAmb.
Estudos em governança socioambiental
“No contexto das mudanças climáticas, a disparidade do acesso à água no planeta é acentuada pela ocorrência de eventos extremos que podem levar a acúmulos expressivos de precipitação, assim como a sua falta. Dessa forma, populações vulnerabilizadas e que vivem sob condições de estresse hídrico estão ainda mais expostas a tais mudanças globais”, afirmam os pesquisadores Vanessa Lucena Empinotti, Marcelo Aversa, Rayssa Cortez, Leonardo Varallo e Luís Gustavo de Almeida Branco em Segurança hídrica, mudanças climáticas e a Macrometrópole Paulista: desafios a partir de uma visão crítica.
Segundo eles, conceitos e práticas de garantia de acesso e distribuição da água foram ajustados e criados, como o caso da segurança hídrica. “Isto é observado nas propostas elaboradas para responder à ‘crise global da água’, intensificada ainda mais pelas mudanças climáticas. Assim, o conceito de segurança hídrica, atrelado à governança da água e à perspectiva do Nexo água/alimento/energia, foi apresentado como uma resposta central a este problema”, informam.
No artigo Tekoá e a Macrometrópole Paulista: reflexões sobre a produção social do espaço, de vários autores, se refere à palavra Tekoá (ou Tekoha), um conceito fundamental para entender a territorialidade dos povos Guarani, uma das etnias anteriormente estabelecidas nas terras em que hoje se imagina uma região prioritariamente urbana, junto com outros povos como os Kaingang, Krenak e Terena. Tekoa significa em tupi-guarani: “lugar onde é possível realizar o modo de ser Guarani”, no caso, as comunidades Guarani-Mbyá, reconhecidas por sua cultura e forma de vida, incompatíveis com fronteiras formais ou arranjos jurídicos territoriais.
Segundo os autores, a alusão no título deste artigo pretende, por um lado, relembrar os povos originários do território objeto de análise que, embora não estudados neste texto, são símbolo de um processo de produção do espaço excludente e desigual, ao qual não apenas as primeiras etnias, mas as atuais populações mais pobres e vulneráveis estão submetidas. “Assim, a referência à Tekoa se faz para a compreensão do objeto territorial macrometropolitano e suas diversidades, bem como para vislumbrar a possibilidade de realização e de existência de um novo modo de ser metropolitano”, explicam.
Como dizem os pesquisadores Rafael de Araujo Arosa Monteiro, Renata Ferraz de Toledo, Luciana Yokoyama Xavier e Pedro Roberto Jacobi, em Diálogo e aprendizagem social: Análise dos desafios para integrar diferentes saberes, “são inúmeros os desafios socioambientais neste início de século XXI, bem como os possíveis caminhos inovadores para o seu enfrentamento. Dentre os possíveis caminhos, existe certo consenso sobre a necessidade de fontes de conhecimentos que ultrapassem as barreiras disciplinares e, até mesmo, os limites da ciência”. E continuam: “Para os problemas complexos atuais, é necessário integrar disciplinas e diferentes fontes de conhecimento acadêmico e não acadêmico. Nesse sentido, pesquisadores, gestores e a sociedade vêm buscando meios de trabalhar colaborativamente para avançar nessa integração”. O projeto MacroAmb, segundo eles, “é um caminho para fomentar uma forma inovadora de fazer pesquisa”.
Governança Ambiental na Macrometrópole Paulista face à Variabilidade Climática, organizado por Pedro Roberto Jacobi, Alexander Turra, Célio Bermann, Edmilson Dias de Freitas, Klaus Frey, Leandro Luiz Giatti, Luciana Travassos, Paulo Antônio de Almeida Sinisgalli, Sandra Momm e Silvia Zanirato, pode ser baixado gratuitamente neste link.
Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.