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Artigo foi publicado em formato pré-print, sem a revisão por outros cientistas; Mayana Zatz diz que é preciso ter cautela, pois o estudo coloca em discussão algumas questões éticas

Por Fabiana Mariz em Jornal da USP | Cientistas anunciaram a criação do primeiro embrião humano sintético do mundo a partir de células-tronco. O artigo foi publicado no bioRxiv no dia 15 de junho, mas ainda não foi revisado por outros estudiosos. Segundo os dois grupos de pesquisadores que apresentaram seus resultados, eles conseguiram criar no laboratório organoides semelhantes a embriões, a partir de células-tronco embrionárias, em seu estágio mais avançado, com a formação da placenta e saco vitelino (tecido em forma de bolsa, presente no embrião). Essas células se assemelham aos embriões humanos formados de seis a 14 dias após a fertilização – fase esta chamada de gastrulação, que é quando as células que formam o embrião se organizam em diferentes linhagens celulares.

“Não podemos afirmar que esses embriões foram criados sem óvulo ou espermatozoide”, alerta Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos sobre o Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL) da USP . “Tanto as células-tronco embrionárias, obtidas de fertilização in vitro, ou as células-tronco pluripotentes reprogramadas são originadas de células obtidas, inicialmente, pela união de um óvulo e um espermatozoide.”

As células-tronco embrionárias podem ser obtidas a partir de embriões resultantes de fertilização in vitro, isto é, resultado da fecundação de um óvulo por um espermatozoide. Os embriões supranumerários, que não serão implantados em útero, podem ser utilizados para pesquisas.  Esse primeiro óvulo fecundado começa a se dividir até a fase de oito a 16 células, e as células são chamadas de células tronco totipotentes (se colocadas em útero, teriam o potencial de formar um novo ser).

Cinco dias após a fecundação,  temos uma estrutura chamada blastocisto, com cerca de 100 células. Aqui temos a primeira diferenciação: as células externas vão formar a placenta e anexos embrionários, enquanto as internas, chamadas de células-tronco pluripotentes, têm o potencial de formar todos os tecidos humanos, mas não mais um ser completo se introduzidas em um útero.

As células-tronco embrionárias pluripotentes também podem ser obtidas a partir de células IPS, isto é, células-tronco reprogramadas.  A descoberta das IPS deram o Prêmio Nobel a Shinya Yamanaka. Ele mostrou, pela primeira vez, que seria possível reprogramar células da pele, os fibroblastos, e a partir daí gerar células pluripotentes capazes de se diferenciar em todos os tecidos.

Esses mesmos grupos já haviam criado embriões de camundongos até a fase quando o coração e o cérebro começa a se formar, mas isso não havia sido conseguido com embriões humanos antes. “Será importante ouvir quais serão as críticas quando os trabalhos forem submetidos a revisão por pares”, adverte Mayana Zatz. “Não sabemos ainda se os embriões apresentados têm realmente a mesma estrutura de um embrião natural ou simplesmente grupos de células divididos em compartimentos.”


Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.


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