Pesquisadores descobrem, em abelhas, células capazes de mascarar efeitos dos agrotóxicos

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Descoberta é importante para medir nível de estresse ambiental dos animais

É possível encontrar uma abelha em praticamente toda parte do mundo (com exceção da Antártida) e todos os dias, mais de 20 mil espécies trabalham para que o nosso planeta esteja cheio de flores e frutos. Elas, juntamente com outros animais, são responsáveis pela polinização – levando pólen de uma flor para a outra e as ajudando a criar sementes e frutos, que são de extrema importância para toda a vida na Terra.

Mas, infelizmente, um grande problema que avança a passos largos é a diminuição de populações de polinizadores e até o desaparecimento de algumas espécies. E um dos principais fatores apontados como causa é o uso indiscriminado de agrotóxicos, ligado ao descarte de toxicantes em solo, ar, rios e lagos.

A partir disso, pesquisadores e estudantes começaram a observar mais a fundo os efeitos de tais agrotóxicos nas abelhas, até que as pesquisas de um aluno de mestrado e de um professor, ambos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), apoiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), apresentaram resultados inéditos. Eles identificaram um sistema celular presente nas abelhas do gênero Bombus que é capaz de “compensar” e “mascarar” os efeitos dos toxicantes e seus reais impactos até uma determinada concentração e um certo tempo de exposição.

O sistema foi chamado de hepatonefrocítico e é composto por células do corpo gorduroso do inseto – que tem função homóloga ao fígado nos humanos -, células pericárdicas e as células do sistema imune. Quando as abelhas são expostas aos xenobióticos, as células do corpo gorduroso são a primeira barreira contra a agressão química; caso elas sejam destruídas, as células pericárdicas são ativadas. As células do sistema imune trabalham durante todo o processo de “combate”. As substâncias tóxicas neutralizadas pelas células pericárdicas vão para a hemolinfa (sangue) e são filtradas pelo órgão excretor da abelha.

Após alguns experimentos, as análises dos resultados revelaram que a exposição em determinada concentração provocou a morte das células do corpo gorduroso e uma intensa atividade das células pericárdicas; devido a isso, o sistema todo entrou em colapso e houve a destruição do vaso dorsal do animal. Foi observado também que isso ocorre em abelhas de diferentes espécies e gêneros, não somente com a Bombus.

Por isso, o sistema hepatonefrocítico vem sendo estudado como um possível biomarcador morfológico para se analisar o nível de estresse ambiental das abelhas. Pois, segundo o pesquisador, apenas a ativação das células desse sistema já é um indicador do efeito nocivo das substâncias químicas, dado que o inseto estaria redirecionando energia que poderia ser usada em outras funções, para combater a agressão. Outra função importante desse sistema é que ele pode predizer quais órgãos do inseto podem ser afetados por determinados agentes toxicantes, avaliando quais tipos de células estão sendo mais danificadas.

E é através de estudos como este que os pesquisadores buscam, além de uma forma de intervir nessa atual diminuição das populações de abelhas, entender os reais efeitos que os agrotóxicos, em altas ou baixas concentrações, causam no metabolismo das mesmas.


Fonte: Agência Fapesp 


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