A busca por novos elementos que expliquem a evolução do clima em determinadas regiões é essencial para entender melhor como atuar para evitar danos e reestabelecer condições naturais anteriores que foram degradadas.
Uma dessas expedições resultou numa descoberta que vai ajudar no estudo de regiões que desapareceram há milhares de anos. Ela foi realizada por 19 pesquisadores do Instituto Oceanográfico (IO) da Universidade de São Paulo (USP).
Eles fizeram um cruzeiro durante nove dias no navio de pesquisa oceanográfica Alpha-Crucis. O navio saiu de Santos-SP e percorreu quase dois mil quilômetros para coletar centenas de amostras de sedimentos que estavam até 1,4 mil metros de profundidade. Depois de feita a coleta, a embarcação retornou para Ubatuba, onde os pesquisadores estudaram esses sedimentos mais pormenorizadamente. Foi então que descobriram elementos que vão ajudar em estudos reconstitutivos das correntes marinhas, do ambiente e clima regional, e da evolução do oceano Atlântico Sudoeste.
O navio percorreu boa parte do litoral norte paulista, mas foi na ilha de São Sebastião que os pesquisadores conseguiram coletar, na profundidade de 121 metros, a lama “especial”. É fina, grudenta, tem uma cor verde-escura e um cheiro desagradável. No entanto, segundo a professora Till Hanebuth, da Universidade de Bremen, na Alemanha, e o diretor do IO, Michel Mahiques, essa lama é importante porque vai oferecer registros históricos do clima, ambiente e evolução da região.
A lama foi coletada por meio de cilindros transparentes e é formada por uma mistura de grãos com diâmetros menores que 62 micrômetros. De acordo com a técnica do IO e professora, Samara Goy, diversos materiais podem ter formado a lama, desde partículas de rocha ou sal até restos de esqueletos. Diferentemente da areia, a lama atrai organismos dispersos na água ou elementos químicos.
Para se ter uma ideia da importância desse tipo de sedimento, estudos anteriores que levaram em conta resquícios parecidos, ajudaram a definir a variação do clima dos últimos dez mil anos no litoral de São Paulo, e a variação dos níveis de poluentes nos últimos 100 anos nas cidades de Santos e Iguape.
No momento, o que mais intriga os pesquisadores é a origem desses sedimentos. Como eles foram parar no norte de São Sebastião? A resposta deve passar pelos rios que deságuam nessa região, apesar de serem pequenos e, aparentemente, não conseguirem transportar uma quantidade elevada de areia e lama. Isso porque os pesquisadores do IO descobriram, em trabalhos anteriores, que a principal fonte de resíduos da lama de São Sebastião é o rio Prata, que tem seu curso a quase dois mil quilômetros de distância. As correntes marítimas seriam a explicação para a migração dos pequenos resíduos.
Após realizarem o mapeamento do fundo do mar nos primeiros dias da viagem, os pesquisadores concluíram que a hipótese de Michel sobre os sedimentos se movimentarem da costa para o oceano estava certa. Alguns vales e canais contribuíram para a distribuição desses sedimentos.
Caso queira acompanhar a trajetória dos pesquisadores desde a saída de Santos até o retorno para Ubatuba, clique aqui.
Fonte e imagens: Agência Fapesp
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