Cientistas apostam em biocombustível feito com restos de comida para reduzir pegada de carbono do setor aéreo
A aviação é um dos setores que mais contribuem para as mudanças climáticas – e um dos que têm mais dificuldade em se livrar dos combustíveis fósseis. Para solucionar o problema, uma nova pesquisa sugere transformar resíduos de alimentos em combustível para os aviões.
Conduzido por pesquisadores do Laboratório Nacional de Energia Renovável, em Golden, Colorado (EUA), o estudo revela que a pegada de carbono do combustível destinado ao setor de aviação poderia ser reduzida em 165% se a ideia fosse colocada em prática.
A aviação responde por cerca de 2,5% das emissões globais de gases do efeito estufa. Embora vários grupos estejam trabalhando nisso, a eletrificação não é uma alternativa viável atualmente. O equilíbrio cuidadoso entre potência e peso necessário para manter um avião no ar simplesmente não funciona com a densidade de energia das baterias atuais.
O impasse tem motivado esforços para encontrar combustíveis líquidos alternativos que tenham densidades de energia semelhantes às opções convencionais, com menor impacto ambiental. Várias empresas estão trabalhando para desenvolver biocombustíveis para aviação, mas muitas delas dependem de óleo vegetal cultivado especialmente para esse fim – e suas credenciais verdes são motivo de debate.
Agora, no entanto os cientistas demonstraram que produzir combustível para aviação a partir de resíduos alimentares pode reduzir drasticamente as emissões. Em artigo recém-publicado no periódico científico PNAS, eles revelam que seu combustível eco-friendly atende aos padrões da aviação e relatam uma parceria com a Southwest Airlines para expandir o processo e iniciar os testes de voo até 2023.
Resíduos úmidos como restos de comida, esterco animal e lodo de água residual são ricos em energia, e pesquisas anteriores mostraram que eles podem ser convertidos em ácidos graxos voláteis (AGVs) que podem ser transformados em combustível de aviação. No entanto, nenhum estudo havia conseguido, até então, encontrar uma solução viável que atendesse aos padrões do setor da aviação.
O novo processo projetado pelos pesquisadores usa um catalisador para adicionar carbono extra às moléculas de VFA, convertendo-as em um tipo de parafina essencialmente idêntica à encontrada no combustível de aviação padrão. O estudo mostrou que uma mistura de 10% de bioparafina e 90% combustível de aviação atende aos padrões exigidos e é eficaz na redução das emissões.
Uma análise do ciclo de vida da nova bioparafina mostrou que ela tinha o potencial de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 165% em comparação com o combustível padrão para aviação, o que é muito maior do que as reduções de 50 a 70% alcançadas pelos biocombustíveis para aviação anteriores. A maior parte da redução de emissões veio do desvio de resíduos úmidos de aterros, onde se decompõe em metano, um potente gás de efeito estufa.
Além de aumentar as reduções de emissões, os pesquisadores também descobriram que aumentar o conteúdo de biocombustível para 70% reduziu a quantidade de fuligem produzida em até 34%. Isso é importante, porque a fuligem ajuda a formar rastos, que retêm o calor na atmosfera e contribuem para as mudanças climáticas.
No entanto, ainda há limites para o impacto que o novo combustível poderia ter. O conteúdo total de energia de todos os resíduos úmidos nos EUA ainda representa apenas cerca de 20% do consumo de combustível de aviação. E os autores observam que as regras mais rígidas sobre aterros sanitários e a adoção de práticas alternativas de descarte que reduzam a produção de metano, como a compostagem, podem reduzir significativamente as reduções de emissões líquidas alcançadas com seu método.
Fontes: PNAS e Singularity Hub
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