Pesquisadores transformam roupas descartadas em papel resistente

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A cada ano, toneladas de roupas usadas são descartadas, muitas vezes acabando em incineradores. Na Áustria, por exemplo, cerca de 220 mil toneladas de resíduos têxteis são geradas anualmente, com quase 80% sendo queimadas. Esse processo não só elimina matérias-primas valiosas, mas também contribui para a poluição ambiental. No entanto, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Graz encontrou uma maneira de transformar esse problema em solução. Eles desenvolveram um método que converte fibras de algodão de roupas velhas em papel reciclado, mais resistente do que o convencional e ideal para embalagens.

O processo começa com o corte das peças de roupa em pequenos pedaços, que são então embebidos em uma solução aquosa. A mistura é moída para separar as fibras de algodão, evitando a formação de nós ou aglomerados. Alexander Wagner, em sua dissertação de mestrado, identificou a máquina de bater mais eficiente, o tempo de processamento necessário e a proporção ideal de água e tecido para maximizar a extração de fibras utilizáveis. O resultado é uma suspensão semelhante à usada na fabricação tradicional de papel, permitindo a aplicação de métodos já estabelecidos na indústria.

Um dos grandes diferenciais do papel produzido a partir de têxteis é sua resistência. Testes de tração mostraram que, mesmo com apenas 30% de fibras têxteis, o material é significativamente mais forte do que o papel reciclado comum. Isso se deve ao comprimento das fibras: enquanto as do papel reciclado convencional medem cerca de 1,7 milímetros, as fibras têxteis recicladas são muito mais longas, conferindo maior durabilidade ao produto final. Visualmente, o papel mantém uma aparência semelhante ao reciclado tradicional, com um tom levemente amarronzado e manchas coloridas ocasionais, provenientes das roupas usadas no processo.

Além de fortalecer o papel, a técnica contribui para a redução da dependência de importações de matéria-prima para embalagens. Atualmente, a Áustria e outros países precisam adquirir grandes quantidades de papel no mercado internacional para suprir essa demanda. Com a reciclagem de têxteis, parte dessa necessidade pode ser atendida localmente, promovendo uma economia mais circular.

Os pesquisadores agora buscam otimizar o processo, reduzindo o consumo de energia durante a etapa de batimento. Para isso, estão testando aditivos como ácidos leves, álcalis e até pré-tratamentos enzimáticos, que facilitam a desintegração das fibras. O próximo passo é escalonar a técnica para dispositivos industriais, tornando-a viável em larga escala.

A iniciativa não só oferece uma alternativa sustentável para o descarte de roupas usadas, mas também abre caminho para uma produção de papel mais eficiente e menos dependente de recursos externos. Ao integrar fibras têxteis no ciclo de reciclagem de papel, os pesquisadores garantem que esses materiais permaneçam em uso por mais tempo, reduzindo o impacto ambiental e promovendo a reutilização de recursos que, de outra forma, seriam perdidos.

Equipe eCycle

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