Petrolíferas promoveram biocombustível como solução climática, mas retiraram financiamentos do setor quando preço do petróleo baixou

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Grandes petrolíferas anunciaram seus investimentos em biocombustíveis de algas como o futuro do transporte de baixo carbono. Entretanto, como apontado em artigo publicado no jornal The Guardian, o barateamento da importação de petróleo e a eletrificação, todas pararam de financiar pesquisas em energias alternativas.

Os primeiros grandes investimentos em pesquisa de biocombustíveis de algas aconteceram durante a década de 1970, quando a oferta de petróleo foi restrita por causa do embargo da Opep contra os Estados Unidos. Nesse cenário,  empresas petrolíferas investiram fundos em combustíveis alternativos e tecnologias de energia renovável.

Na época, a empresa ExxonMobil (a última a retirar os financiamentos em combustíveis de algas) estava investindo em várias alternativas, desde energia solar e nuclear até baterias de lítio e pesquisa sobre mudanças climáticas.  Entretanto, quando os preços do petróleo começaram a baixar, na década de 1980, esse movimento perdeu força. Em 2015, com o boom do fracking, desmoronou. Agora, diante da eletrificação dos veículos, parece que não voltará tão cedo. 

Um antigo funcionário da Viridos, ex-parceira de pesquisa da Exxon, disse anonimamente ao The Guardian que a Exxon gastava muito com publicidade e poderia ter investido mais em pesquisa. “Eu os via concorrendo e achava que gostaria que eles tivessem nos dado mais financiamento para pesquisa em vez de gastar tanto em publicidade”.  

Uma outra pessoa do setor de combustíveis de algas disse ao Guardian que a pesquisa era levada a sério pelas petrolíferas, mas não o bastante para haver aportes financeiros o suficiente, que deveriam estar na casa de bilhões, não milhões.

“É muito desafiador e muito caro trazer essas tecnologias para o mercado”, disse George Huber, cuja pesquisa sobre biocombustíveis na Universidade de Wisconsin em Madison foi financiada pela Exxon durante anos. “Não vai acontecer da noite para o dia. É ótimo que eles assumam esses compromissos, mas você sabe que eles precisam começar a colocar mais capital nesses projetos”, disse ao The Guardian. 

Ele acrescentou: “Eles são conduzidos por Wall Street e precisam manter os preços de suas ações altos e manter seus acionistas felizes. E geralmente isso significa ganhar muito dinheiro. Todas as empresas de petróleo têm falado sobre sustentabilidade, mas é difícil ganhar dinheiro com isso. E a maior parte do dinheiro deles vem do petróleo.”

As algas crescem em grandes concentrações em lagoas, não competem com as culturas alimentares por terras aráveis e possuem algumas cepas capazes de produzir grandes quantidades de lipídios – ácidos graxos que podem produzir um óleo, que pode ser transformado em combustível com relativa facilidade. Essas características são vantajosas no quesito sustentabilidade, mas competir com combustíveis fósseis abundantemente disponíveis e fortemente subsidiados, particularmente o gás, não é fácil.

Um dos maiores desafios era que as variedades selvagens de algas não conseguiam fornecer os altos níveis de lipídios necessários para produzir grandes quantidades de combustível, disse Todd Peterson, ex-CTO da Viridos ao Guardian.

É por isso que a Viridos se concentrou em modificar geneticamente os organismos para maximizar a produção de lipídios. E eles estavam fazendo um progresso real. A fórmula mágica para a viabilidade comercial dos biocombustíveis de algas é uma cepa que pode produzir 15g de óleo por metro quadrado em ambiente externo, e uma cepa Viridos chegou a 10. “É difícil projetar um organismo com centenas de milhões de anos para comportar-se de maneira diferente”, disse Peterson.

Peterson, que trabalhou para a empresa de 2013 a 2018, disse que sempre teve a impressão de que os cientistas da Exxon com quem Viridos trabalhava levavam a pesquisa a sério. “Estou desapontado”, disse ele sobre a retirada da Exxon do ramo de biocombustíveis de algas, “mas tentando manter a mente aberta. Você nunca sabe quais são as prioridades de mudança dentro de uma empresa.”

A Viridos demitiu 60% de sua força de trabalho após a saída da Exxon do setor em dezembro de 2022, que só foi revelada pela Bloomberg em fevereiro. Na segunda-feira passada, a Viridos anunciou uma rodada de financiamento de US$ 25 milhões liderada pela Breakthrough Energy de Bill Gates, com a Chevron e a United Airlines também contribuindo.

Apesar de fazer um enorme progresso na última década, a maioria dos pesquisadores do setor diz que os biocombustíveis de algas no tipo de escala necessária para atender às demandas atuais de combustível ainda estão a pelo menos uma década, e mais provavelmente duas décadas de distância.

Matthew Posewitz, cientista da Colorado School of Mines and National Renewable Energy Laboratory financiado pela Exxon por oito anos, disse ao Guardian que a eletrificação também contribuiu com a redução de investimento no setor de algas: “Agora há outra transição – muitos transportes terrestres se tornarão eletrificados e você pode não precisar de combustíveis líquidos, o que significa um mercado menor, basicamente apenas jatos e barcos.”

De acordo com o Guardian, é unânime entre os pesquisadores que para tornar os combustíveis de algas um sucesso seriam necessários financiamentos na casa dos bilhões.

“Foi ótimo enquanto a Exxon estava interessada, mas no final vai levar mais tempo e investimento para amadurecer isso do ponto de vista dos combustíveis e eles têm outras prioridades”, disse Posewitz.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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