Por Daniel Fernandes em Conexão UFRJ – O desenvolvimento de jovens do mundo inteiro vem sendo afetado pelo aumento alarmante da poluição. Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que 90% de todas as crianças respiram ar poluído, o que pode acarretar sérios problemas de saúde a longo prazo. Nesse sentido, a Maternidade Escola (ME) da UFRJ criou o Projeto Infância e Poluentes Ambientais (Pipa), com o objetivo de investigar os efeitos dos poluentes ambientais em gestantes e crianças, em uma iniciativa pioneira sobre um tema – ainda pouco discutido no Brasil.
O estudo, que selecionou mais de 500 grávidas, busca observar o desenvolvimento das crianças desde a gestação até os quatro anos de idade e investigar o tamanho da exposição aos diversos tipos de poluentes ambientais do meio urbano. Carmen Fróes, professora da ME e coordenadora do projeto, conta que a iniciativa é a primeira a analisar esse recorte nas cidades a longo prazo, principalmente em uma grande metrópole como no caso do Rio de Janeiro.
“Nós acompanhamos esse bebê desde o nascimento até os quatro anos de idade, fazendo uma avaliação do crescimento dessa criança, do seu desenvolvimento, inclusive do neuromotor cognitivo, capacidade de aprendizado, memória e da parte respiratória. No Brasil existem outros cortes de nascimento, mas o Pipa é o primeiro estudo que avalia o desenvolvimento das crianças nessa faixa etária em um meio urbano.”
O projeto envolve todo o processo de captação das gestantes selecionadas para fazer o acompanhamento, com entrevistas e assinatura de um termo. Além disso, diversos exames fisiológicos são realizados, tanto com a mãe quanto com o bebê que nasceu, para avaliar a presença dos poluentes em seu organismo.
“O que o Pipa propõe é captar a gestante no terceiro trimestre de gestação. Se concordar em participar, ela assina um termo de consentimento. Nós, então, fazemos uma entrevista com a gestante, a partir da qual um conjunto de dados são coletados, além de exames de sangue e urina. Quando o bebê nasce, nós também levantamos dados do nascimento, peso, altura, comprimento, a condição de saúde e sangue do cordão umbilical. Assim, nós encaminhamos essas amostras para os laboratórios, para fazer a dosagem desses compostos”, afirma Fróes, ressaltando que o projeto foi aprovado pelo comitê de ética da Maternidade Escola.
Mesmo dentro da barriga, os bebês estão expostos a diversos tipos de poluentes capazes de atravessar a placenta, o que pode prejudicar o desenvolvimento do feto. Além disso, a amamentação também pode transmitir essas substâncias prejudiciais, caso a mãe não tome os cuidados necessários. Segundo a professora, os principais poluentes que devem ser observados são os dispersos na água, nos alimentos, na atmosfera, além dos agrotóxicos e de produtos de casa, como plastificantes.
“Infelizmente vários poluentes ambientais que temos em contato, tipo o chumbo, cádmio, mercúrio, além de vários agrotóxicos, atravessam a barreira placentária. Da mesma forma, os produtos citados podem ser transmitidos por meio do leite materno. Essa faixa etária é a de maior desenvolvimento humano. E também os torna muito vulneráveis a qualquer agressor externo.”
Fróes explica que o contato pode levar a quadros de malformações congênitas, aborto, além de prejudicar o desenvolvimento dessas crianças. O chumbo pode ter efeitos neurotóxicos no indivíduo; já o mercúrio pode alterar todo o metabolismo lipídico e glicídico, podendo levar à prematuridade. “O sistema responsável pela desintoxicação ainda não está formado, e o sistema respiratório é muito vulnerável”, explica.
O estudo desenvolvido pela pesquisadora aponta que esses poluentes podem desencadear outros problemas a longo prazo no desenvolvimento infantil, como doenças cardiovasculares, metabólicas e respiratórias, como diabetes e asma. Além disso, podem afetar também o desenvolvimento cognitivo, a capacidade de aprendizado, a memória, o reflexo, entre outros.
Para evitar ao máximo a exposição aos poluentes ambientais, existe uma série de cuidados que a gestante pode tomar em prol da saúde do seu bebê. Por exemplo, o processo do pré-natal é indispensável, além de algumas atitudes dentro do ambiente domiciliar ou de trabalho que podem diminuir o contato com substâncias tóxicas.
“A primeira coisa é observar o tipo de atividade com que a gestante trabalha, se existe a exposição a algum tipo de produto de risco. É importante que ela faça um pré-natal, e a equipe deve estar atenta a possíveis exposições a poluentes que possam afetar o desenvolvimento. É importante, também, observar as atividades dentro do próprio domicílio, por conta da poeira que pode ser tóxica. Na alimentação, devemos ficar atentos com alimentos de micro-ondas, por conta das embalagens plásticas, e também lavar verduras, legumes e frutas”, conclui.
Este texto é resultado das atividades do projeto de extensão “Laboratório Conexão UFRJ: Jornalismo, Ciências e Cidadania” e teve a supervisão da jornalista Carolina Correia.
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