Período de piracema é fundamental para manutenção dos estoques pesqueiros
Piracema é o período em que grandes cardumes de água doce migram por longas distâncias, subindo os cursos dos rios em direção a suas nascentes em seu período de reprodução. A palavra tem origem tupi, onde “pirá” significa peixe e “sema” significa saída, portanto, “saída de peixe”.
Porque os peixes sobem o rio na piracema?
Na subida em direção à cabeceira dos rios buscando um local apropriado para a desova e alimentação, contra a correnteza, os peixes enfrentam longas jornadas, com obstáculos naturais e também as construções humanas, como barragens hidrelétricas.
É nesse período que ocorre a produção de hormônios para que seus órgãos reprodutores (ovários, testículos e gônadas) se desenvolvam e os gametas amadureçam, o que é necessário para que seu ciclo de vida se complete. Por isso a população de diversas espécies pode ser afetada, de forma direta e indireta, caso a piracema seja interrompida antes das fêmeas realizarem a desova e os machos fertilizarem os ovos.
Qual é o período de piracema?
O fenômeno da piracema é geralmente observado no início da estação das cheias (e das chuvas). Porém, dada a grande extensão territorial e biodiversidade brasileira, não há como determinar um único local onde ocorre a piracema, nem um único período de tempo.
A piracema ocorre de novembro a fevereiro em Goiás e Tocantins. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, começa em outubro e termina em janeiro. Já em Roraima, a piracema tem início em março e termina em junho. Entretanto, as mudanças climáticas e as alterações feitas por construções de infraestrutura, como barragens de hidrelétricas, interferem nas épocas do ano em que os peixes nadam rio acima.
Riscos aos peixes de piracema
Um estudo indicou que alterações no meio ambiente, como a retirada de florestas para o monocultivo de soja e trigo, o uso extensivo de agrotóxicos, a queima de restos vegetais e a falta de práticas conservacionistas são fatores que influenciam no equilíbrio aquático dos rios e, dessa maneira, podem afetar a piracema.
Apesar de relevantes, estes fatores têm um menor potencial para interromper a piracema que a pesca. Durante a piracema, as fêmeas adotam um comportamento gregário, ou seja, se agrupam de forma temporária como estratégia de proteção. Esta estratégia funciona bem para se proteger de predadores naturais (como aves, ou jacarés), que só conseguem consumir alguns poucos indivíduos por vez, mas não é uma estratégia bem sucedida quando se trata da pesca.
Apenas na bacia hidrográfica do rio São Francisco, são várias as espécies de piracema que, por conta da pesca e outros distúrbios causados pelo ser humano, se encontram extintas ou em risco de extinção. Tais como:
- Conorhynchos conirostris (Pirá);
- Duopalatinus emarginatus (Mandi-açu);
- Lophiosilurus alexandri (Pacamã);
- Pareiorhaphis mutuca (Cascudinho);
- Rhinelepis aspera (Cascudo-preto); e
- Salminus franciscanus (Dourado).
Período de defeso
É por conta do risco à biodiversidade que a pesca de espécies em fase de reprodução representa, e por suas implicações sobre a economia que uma das estratégias do ordenamento pesqueiro é o período de defeso. Neste período é proibida, de forma total ou parcial, a pesca de certas espécies para que seja possível a manutenção dos estoques pesqueiros.
Na bacia do rio São Francisco, por exemplo, o período de defeso se dá entre 1º de novembro e 28 de fevereiro e proíbe a pesca nas lagoas marginais de 1º de novembro a 30 de abril. Você pode entender mais sobre isso lendo a matéria “O que é período de defeso?”.
Além do período de defeso, a pesca esportiva, que envolve pesca e soltura, pode auxiliar na manutenção das espécies de piracema, pois os praticantes do esporte podem ajudar nas denúncias de pesca predatória assim como evitá-la. Não há indícios que a prática diminua a taxa de sobrevivência da fauna marinha, mas sim de que esta tem a capacidade de incentivar investimentos em conservação, visando a atratividade turística (1).