Engenheira da ABES-SP e coordenadora do Fórum Lixo e Cidadania de SP criticam negligência do poder público e também ressaltam importância da coleta seletiva
Os primeiros meses do ano remetem a chuvas fortes em diversos estados brasileiros. Há o fator ambiental, mas também existe negligência do poder público. É o que alega a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES-SP), que defende a necessidade de alterar o conceito de urbanismo que as administrações públicas têm praticado nos últimos anos.
A seção paulista da ABES considera que todas as prefeituras do país são capazes de avaliar a situação de saneamento de suas localidades. Portanto, as administrações que levem em conta o planejamento urbano sustentável serão mais bem-sucedidas e aptas a reverter o problema anual das enchentes. A instituição recomenda que, após o estabelecimento de contratos públicos com empresas privadas de prestação de serviço, eles sejam seguidos rigorosamente para evitar multas e a suspensão do recebimento de recursos devido a descumprimento de leis.
Perigos à saúde
Enchentes representam perigo à saúde em vários aspectos. Estruturas básicas urbanas, como saneamento, transporte, iluminação, telefonia, entre outras, ficam debilitadas. Em termos de impactos mais diretos, eles podem decorrer de falta de abastecimento de água, sem contar a má qualidade do serviço, o acúmulo de resíduos sólidos domiciliares, o lançamento de esgoto em locais inadequados, a carência de alimentos saudáveis, etc.
A engenheira Roseane Maria de Souza, que representa duas Câmaras Técnicas na ABES-SP, a de Saúde Pública e a de Resíduos Sólidos, salienta o principal problema das enchentes em termos de dano à população: as doenças. “Essa situação de risco decorrente das enchentes é agente importante no agravo à saúde, resultando no aumento da incidência de doenças nas cidades, como leptospirose, doenças respiratórias, diarreias, intoxicações por produtos químicos e, o pior cenário, o aumento de casos de óbitos”, completa a engenheira, condenando a falta de compromisso das administrações públicas.
Roseane opina que é preciso repensar e mudar a formas tradicionais e fragmentadas de soluções para as cidades e considera de fundamental importância que os planos municipais de contingência para desastre sejam construídos de forma integrada e com responsabilidade compartilhada, envolvendo os setores público, privado e a sociedade civil.
Resíduos sólidos
“Não só na cidade de São Paulo, como também em muitos outros municípios, a gestão dos resíduos sólidos acontece de forma negligente e ineficiente. Não podemos nos pautar somente pelo volume de material coletado pelo sistema oficial de coleta de resíduos, já que a quantidade descartada de forma inadequada não é considerada e é esta uma das grandes causas das enchentes na capital”, afirma a coordenadora do Fórum Lixo e Cidadania do Estado de São Paulo, Delaine Romano, ressaltando que além de poluir, o descarte incorreto agrava a situação das enchentes.
Segundo Delaine, o volume de resíduos da construção civil e material passível de reciclagem descartados nas ruas e nos cursos d’água poderiam ser facilmente eliminados se o departamento responsável pela limpeza urbana atuasse de forma adequada, fazendo com que as empresas contratadas cumprissem seus contratos à risca. Por outro lado, a implantação regionalizada de associações e cooperativas de catadores também reduziria de forma drástica o problema, já que 90% do material reciclável destinado à indústria recicladora é coletado pelos catadores, figura importante na dinâmica da cidade. Isso sem contar a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
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