O plástico nos oceanos é um dos grandes problemas ambientais do nosso tempo. Para se ter uma ideia da dimensão de sua dimensão, a Ellen MacArthur Foundation estima que, até 2050, pode haver mais plástico do que peixes nos oceanos.
Isso se confirmando ou não, sabemos que a vida selvagem marinha está sofrendo com os efeitos da poluição por plástico nos mares.
Os animais frequentemente se sufocam com o lixo flutuante e muitos ingerem esses resíduos, confundindo-os com alimentos. Assim, o plástico entra na cadeia alimentar, e acredita-se que quem come frutos do mar regularmente ingere cerca de 11 mil pedaços de microplástico por ano.
Os microplásticos estão presentes na água da torneira do mundo inteiro, no sal, nos alimentos, na cerveja, no ar e também no organismo humano.
Mas de onde vem todo esse plástico? E como o plástico acaba no oceano? Além da pesca fantasma, que é uma das principais fontes de plástico do oceano, um artigo de Louisa Casson, do Greenpeace do Reino Unido, e da ONG OrbMedia, explica que existem algumas outras fontes.
Elas incluem o lixo produzido nas cidades, as microesferas de plástico, os vazamentos industriais, a lavagem de roupas de fibras sintéticas, o atrito dos pneus nas ruas e o descarte incorreto de tintas acrílicas. Entenda.
Você pode ter boas intenções ao jogar uma garrafa de água de plástico na lixeira de recicláveis, mas é bem provável que ela nunca seja reciclada. Dos 480 bilhões de garrafas de plástico vendidas, apenas em 2016, menos da metade foi coletada para reciclagem e, desse montante, apenas 7% foram transformadas em plástico novamente.
O resto permanece no planeta e no meio ambiente indefinidamente. Uma parte fica em aterros sanitários ou em lixões, mas é comum o vento carregar o plástico leve para longe desses locais. Outra parte, muitas vezes na forma de pedaços menores, entra na rede de drenagem urbana, o que faz com que o plástico chegue a rios e mares. O mesmo acontece com o lixo deixado nas praias, nos parques e nas ruas das cidades.
“Os principais rios ao redor do mundo carregam aproximadamente 1,15 milhão a 2,41 milhões de toneladas de plástico para o mar todos os anos. Isso é equivalente a até 100 mil caminhões de lixo”, diz Casson.
Muitos cosméticos e produtos para cuidados com a pele contêm pequenos pedacinhos de plástico. Boa parte dos esfoliantes e até mesmo alguns cremes dentais podem conter microesferas de plástico. Após o uso, essas bolinhas minúsculas vão pelo ralo e, mesmo em locais com tratamento de esgoto, não são retidas no processo de filtragem.
Como consequência, a água tratada dos esgotos sai carregada de microplástico, chegando a rios e mares. Nesse ambiente, o plástico é ingerido por pequenos peixes e incorporado pelo plâncton.
Você já ouviu falar em nurdles? Eles são pequenas bolinhas plásticas utilizadas na manufatura de quase todos os itens plásticos. Ao contrário dos resíduos de plástico, que se decompõem até se tornarem microplásticos, os nurdles são feitos já com um tamanho reduzido (cerca de 5 mm de diâmetro).
Eles são a maneira mais econômica de transferir grandes quantidades de plástico para fabricantes de uso final do material em todo o mundo. Para se ter uma ideia, só nos Estados Unidos são produzidos cerca de 27 bilhões de quilos de nurdles por ano.
O problema é que navios e trens despejam acidentalmente essas bolinhas de plástico nos oceanos e em estradas. Algumas vezes, uma parte que sobra da produção não é tratada de modo adequado. Se alguns milhares de nurdles caem no mar ou numa rodovia, é praticamente impossível fazer a limpeza. Em um estudo publicado no início de 2017, foram encontrados nurdles em 75% das praias do Reino Unido.
Outro grande problema que está apenas começando a chamar atenção pública é o das microfibras: os tecidos sintéticos liberam minúsculas partículas de plástico a cada lavagem.
Você sabia que as fibras têxteis sintéticas, assim como o poliéster, são feitas de plástico? O problema é que durante a lavagem dessas roupas de fibras sintéticas, por meio do choque mecânico, o microplástico se desprende e acaba sendo enviado para esgotos, indo parar no ambiente e em corpos hídricos, como o próprio oceano.
As fibras têxteis de tecido sintético plástico também vão parar no ar.
Uma das explicações é que apenas o atrito de um membro com o outro, quando você veste roupas de fibras sintéticas de plástico, já seria o suficiente para dispersar o microplástico na atmosfera.
Essa poeira de microplástico pode ser inalada, ir parar no mar, juntar-se ao vapor ou ir se depositar na sua xícara de café e no seu prato de comida, por exemplo.
Os pneus de carros, caminhões e outros veículos são feitos de um tipo de plástico chamado estireno butadieno. Ao circular pelas ruas, o atrito desses pneus com o asfalto gera emissão de 20 gramas de microplástico a cada 100 quilômetros percorridos.
Para se ter uma ideia, só na Noruega é emitido um quilo de microplástico de pneu por pessoa todos os anos.
A tinta utilizada em casas, veículos terrestres e navios se desprende por meio de intempéries e vai parar no oceano, formando uma camada bloqueadora de microplástico na superfície oceânica.
A isso, podemos acrescentar as tintas látex e acrílicas utilizadas em artesanatos e os pincéis lavados nas pias.
A pesca fantasma, também chamada de ghost fishing em inglês, é o que acontece quando os equipamentos desenvolvidos para capturar animais marinhos como redes de pesca, linhas, anzóis, arrasto, potes, covos, e outras armadilhas, são abandonados, descartados ou esquecidos no mar.
Esses objetos colocam em risco toda a vida marinha, pois uma vez preso nesse tipo de engenhoca, o animal acaba ferido, mutilado e morto de forma lenta e dolorosa. Animais ameaçados de extinção como baleias, focas, tartarugas, golfinhos, peixes e crustáceos acabam mortos por afogamento, sufocamento, estrangulamento e infecções causadas por lacerações.
De acordo com relatório feito pela ONG World Animal Protection, 10% de todo lixo plástico nos oceanos é originário da pesca fantasma. Estima-se que, só no Brasil, a pesca fantasma afete cerca de 69 mil animais marinhos por dia, que costumam ser baleias, tartarugas marinhas, toninhas (espécie de golfinhos mais ameaçada do atlântico sul), tubarões, raias, garoupas, caranguejos, lagostas e aves costeiras.
A poluição do oceano por plástico é o resultado de um sistema profundamente mal estruturado, em que a fabricação de um produto não biodegradável pode continuar sendo feita sem controle. De fato, dados das Nações Unidas indicam que o mundo produz 430 milhões de toneladas de plástico por ano.
Ainda que seja possível reciclar, não há segurança de que os resíduos serão reciclados e de que o fim da poluição chegará (não se pode contar com a reciclagem neste caso, uma vez que apenas 9% de todo o plástico produzido desde a década de 1950 foi reciclado).
Encontrar uma solução exige chegar à origem do problema. É necessário que os governos levem isso em conta. A Costa Rica, por exemplo, prometeu eliminar todo o plástico de uso único (descartável) até 2021. As empresas precisam ser responsáveis pelo ciclo de vida completo de seus produtos, incluindo a coleta e a reutilização.
Segundo o The Guardian, as marcas são hostis ao uso de plástico reciclado por questões estéticas. Esse é outro tipo de barreira que precisa ser quebrada.
São necessárias campanhas contínuas sobre consumo que eduquem as pessoas a respeito do impacto do plástico descartável nos oceanos. É preciso evitar produtos com embalagens desnecessárias, cobrar para que empresas mudem suas posturas e apostar na reutilização.
Lojas e mercados devem receber incentivos governamentais para oferecerem opções de reabastecimento sem novos pacotes, e por aí vai. Existem ideias e é importante que elas sejam colocadas em prática antes que os mares sejam cada vez mais engolidos por plásticos.
E o que nós podemos fazer? Para descartar seus resíduos corretamente ou enviá-los para a reciclagem certificada, consulte quais são os postos de coleta mais próximos de sua residência.
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